@retratodaleitora 10/06/2016Como humanizar o fim da vida?
"Tudo ficou muito estranho desde que você está sem estar."
A filha já não suporta mais ver a mãe definhar, sem de fato morrer. Já aos 98 anos, com a saúde debilitada, a mãe mal ouve e quase nada vê. A filha, que se vê no papel de mãe da própria mãe, questiona os médicos, as religiões, tudo. Por quê manter vivo alguém que já não vive?
Um livro forte, reflexivo e atual, A Mãe Eterna nos apresenta um dilema que dói a alma e nos traz questionamentos sobre a vida, a morte e a relação mãe & filha.
A filha é quem nos narra, em forma de diário; diário esse que escreve para a mãe imaginária, a mãe que tinha e já não tem, a mãe que poderia ler, escutar, vê-la e acalentá-la. A mãe que poderia fazer o papel de mãe, e não de filha, como agora faz.
A leitura desse livro fluiu assustadoramente bem, o que surpreende devido ao tema pesado. Suas 144 páginas foram como pequenas agulhas sendo enfiadas no meu peito, me deixando desolada no final. Sabe aqueles livros que te fazem passar horas e horas refletindo? Talvez olhando pro nada. Talvez deixando escapar algumas lágrimas. Bem, eu não chorei, mas isso não diminui a emoção que senti, nem o quão doloroso foi ler esse relato; e a dor de imaginar que poderia ser eu, no lugar dessa filha.
"Gostaria de ser budista para considerar que o envelhecimento é natural e não me tocar. Só que o envelhecimento, em geral, ao qual os budistas se referem, é uma coisa, e o da mãe, em particular, é outro."
Betty Milan conseguiu me cativar, me causar empatia; me fazer pensar e, melhor de tudo, me fazer questionar. Indico esse livro para todos, e principalmente para as filhas, netas e bisnetas. Tenho certeza que o livro tocará você lá no fundo.
" Sou narcísica. Mas que culpa tenho eu de me espelhar em você? Não quero viver com o que terá sobrado de mim. O aumento da sobrevida está danificando a sua vida. Por que nos incutiram a ideia de que estar vivo é só o que importa e que nós estamos vivos enquanto o corpo resiste?"
Na verdade, livros sobre relacionamento entre mãe e filha sempre me tocam fortemente, e já li alguns sobre o tema. A Mãe Eterna, posso dizer, foi um dos melhores.
Morrer é um direito!
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