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Todos os contos Clarice Lispector




Resenhas - Clarice Lispector Todos os Contos


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@cacaleitura 17/11/2020

absolutamente INCRÍVEL
Esse foi meu primeiro contato direto com a autora e me tocou de uma forma surreal. Diante desses contos, pude viver, sentir e admirar as fases de sua vida!

? resenha completa no insta: @cacaleitura
Carolina 03/04/2021minha estante
Tenho uma pergunta: no conto 'Mais dois bêbados' a página 132 realmente acaba sem a fala??? Fiquei em dúvida.

Obs: a edição que eu tenho é a de capa dura da editora Rocco


@cacaleitura 03/04/2021minha estante
simmm!
Esse é um dos traços da escrita de Clarice.
Uma frase incompleta, um texto com final aberto, uma metáfora fora da caixa..


Kemilly.Kessy 25/06/2021minha estante
Como faz pra ler??


Carolina 26/09/2021minha estante
Sugiro que tenha a mente aberta para lidar com muita subjetividade, coisas abstratas mas com muita realidade.


luci 05/12/2021minha estante
A Clarice é incrível, né?! ?


Mayra 06/10/2022minha estante
Não sei mecher


Mayra 06/10/2022minha estante
Não sei mecher




CarolBapt 26/03/2021

Que experiência interessante!
Uma longa trajetória, mas que vale a pena! Adoro as obras de Clarice e me sinto sempre tentada a conhecer mais sobre a vida e a literatura dela. Confesso que me identifiquei mais com Todos as crônicas, mas Todos os contos, para mim, não ficou muito atrás não. Há uma evolução na escrita dela e gostei bastante da segunda metade do livro. Vários dos contos escritos mais para o final de sua vida mexeram comigo, sei lá, às vezes parece que ela escreve aquilo que gostaria de dizer e não sei como.
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Geórgia 26/08/2020

Dois anos lendo e relendo Clarice!
Foi muito interessante revisitar alguns contos que li na época do vestibular e conhecer muitos outros.

Ler Clarice algumas vezes sufoca, algumas vezes dá um nó na cabeça (desisti de entender ?o ovo e a galinha?) e quase sempre liberta alguma coisa lá dentro da gente. Adoro como ela brinca com o fluxo de consciência e constrói diálogos, adoro a ironia e a acidez também, adoro que se trate de uma leitura para ser sentida.

Essa mulher é uma bagagem literária obrigatória, o que ela faz com as palavras eu defino como feitiço - assim como minha professora de literatura definia. Meu conto preferido da vida é ?Perdoando Deus?.

Não sei se compreendo tudo que li e talvez reinterprete tudo diferente quando reler algum desses contos, mas o que fica após essa leitura é mais admiração. Clarice Lispector é uma imensidão a ser explorada (e não somos todos nós?).
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Gabi 10/12/2021

Meu primeiro contato com a escrita da autora e foi uma experiência muito boa. Alguns contos foram um pouco confusos pra mim, não conseguia entender o objetivo. Mas fora isso, gostei da maioria dos contos. Apesar da escrita de Clarice não ser tão difícil quanto muitos clássicos, recomendo que a leitura seja feita aos poucos.
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mafer_lucena 09/10/2022

Clarice, com certeza uma das maiores que já tivemos!
"Eu sou feita de tão pouca coisa e meu equilíbrio é tão frágil, que eu preciso de um excesso de segurança para me sentir mais ou menos segura."
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spoiler visualizar
Alane.Sthefany 02/04/2022minha estante
Li apenas um livro dela, achei bem difícil a leitura, não que seja ruim, foi que eu precisei pensar bastante, mas amei o livro (Paixão Segundo G.H.).

Queria saber quanto tempo você demorou para ler e se é uma leitura "mais" tranquila (tradução, linguagem...).




Fernando Lafaiete 17/11/2020

Todos os Contos - Clarice Lispector | A Bela e a Fera, dois seres em um ser chamado Clarice.
********************************NÃO contém spoiler********************************
Resenha postada originalmente postada em: https://www.mundodasresenhas.com.br/

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Autora: Clarice Lispector

Editora: Rocco / Literatura Nacional / 656 páginas

Se as palavras são uma arma, como muitos críticos afirmam ser, Clarice sabia as usar como ninguém. Poderia dizer que lê-la é uma tarefa fácil, mas não seria uma afirmação das mais correta a se fazer. Como decifrar o indecifrável? Ler Clarice Lispector é uma experiência única, não exatamente confortável e aprazível, mas única em quase todos os sentidos. É se abrir para novas descobertas; embarcar no íntimo da autora e de suas personas ficcionais, tentar entender seus questionamentos e afirmações, ao mesmo tempo que tentamos nos entender sem nos afogarmos no mais intímo do nosso ser. É bela, é poética, é epifânica, é desagradável, enigmática e esclarecedora. Uma autora cujos escritos impactam, confundem, entregam intensidade e nos fazem pensar: será que entendi o que li? Talvez não tenha entendido, ou talvez tenha, fico sem saber exatamente o que pensar. Seus textos são puros fluxos de consciência da autora, dos personagens, de um por vez, dos dois juntos. São curtos, mas parecem longos. São profundos, falam de amor, de felicidade, de relacionamentos, de crueldade, de superações e de incertezas. Ah... as incertezas! Ah... o amor e a felicidade!! O que significam e por que razão lhe concedemos tanta importância? O que esperar de histórias de uma autora que afirmava não escrever para agradar ninguém? O que esperar de uma escritora que se questionava e questionava tudo e todos? Como ela mesma dizia... "O que se vem depois da felicidade? O se tem depois que se é feliz?"

Reunindo os 85 contos escritos por Lispector (organizados por seu biógrafo Benjamin Moser), Todos os Contos, a elogiada e premiada coletânea - considerada uma das mais importantes da literatura mundial e uma das melhores de 2015, segundo New York Times - apresenta em ordem cronológica os curtos desabafos da autora desde sua juventude até sua fase mais madura. O que nos possibilita acompanharmos passo a passo de sua evolução como escritora, se é que isso é possível. Clarice Lispector se progredia e se regredia todos os dias e a todo momento, o que faz a tarefa de lê-la  de fato um exercício de tentar decifrar o indecifrável. Iniciamos com PRIMEIRAS HISTÓRIAS (1940), vamos para LAÇOS DE FAMÍLIA (1960), seguindo para A LEGIÃO ESTRANGEIRA (1964), parando para respirar em FELICIDADE CLANDESTINA (1971), indo para ONDE ESTIVESTE DE NOITE (1974); A VIA CRUCIS DO CORPO (1974) vem logo em seguida... VISÃO DO EXPLENDOR: IMPRESSÕES LEVES nos encaminha para o final que termina com ÚLTIMAS HISTÓRIAS (1979). Oito "coletâneas" excepcionais, singulares, difíceis de serem compreendidas por inteiras, mas magníficas separadas e juntas.

Não se atreva a achar que irá entender tudo que irá ler. O objetivo aqui não é entender palavra por palavra, mas sim em seguir até o final sem medo do que irá encontrar pela frente. É perder o fôlego e recuperá-lo sem se deixar abater. É se desafiar, é se divertir, é rir e chorar. É entrar nesse turbilhão chamado Clarice Lispector, não permitindo ser vencido. Tente dar sentido ao que ler, e entenda que o ser-humano é complexo o suficiente para não ser entendido por inteiro; e isso é fascinante. Clarisse fazia antiliteratura como ela mesma fazia questão de dizer. Escrevia para se libertar, para incomodar e para nos fazer refletir sobre a vida. Mesmo não gostando, era comparada com Virginia Woof. Uma se entregou à vida, a outra deixou de vivê-la... mas ambas entendiam que somos o mais complexos dos complexos que existem por aí, e isso as torna ainda mais incríveis do que já são.

Seja descrevendo de forma verborrágica a cidade de Brasília (conto Brasília), nos levando na epifania de uma mulher que passa a entender o mundo ao seu redor (conto Amor) ou narrando cenas de traições e assassinatos, a verdade é que Lispector era uma escritora completa, capaz de escrever o que quisesse e como quisesse. Se não a entendemos, já não é extamente problema dela. Releituras se fazem necessárias e análises aprodundadas são por vezes essenciais. Todos os Contos de Clarice Lispector é uma obra fundamental para ser lida, estudada e destrinchada. Se debruçar em textos tão intensos é uma tarefa que poucos se permitem, mas que todos deveriam ao menos tentar. Hoje eu sei que se um dia me perguntarem: Quem é Lispector? Eu responderei: A Bela e a Fera em uma única mulher.
João 17/11/2020minha estante
Esse livro possui o conto O grande passeio?


Fernando Lafaiete 17/11/2020minha estante
Olá Vitor... Tem sim. É apresentado pelo título Viagem a Petrópolis. É excelente e me despertou uma revolta e algumas lágrimas. Indico demais!




Aline.Rodrigues 02/01/2022

Grata surpresa
Quando iniciei este livro, estava muito desconfiada a respeito do meu envolvimento com ele, por dois motivos: a popularidade de Clarice, que é dona de metade das citações rebuscadas da Internet e a minha dificuldade com livros de contos (por em algumas experiências anteriores não perceber um elemento de identidade entre um conto e outro).
No desenrolar do livro fui percebendo o porquê Clarice é tão popular: ela traz dilemas individuais de uma forma universal e de forma simples e impulsiva, se possível dizer, até de forma "cuspida".
A leitura da maioria dos contos é muito intensa.

Dois contos me tocaram de forma especial: "O búfalo" e "Brasília".

Recomendo muito este livro.
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Maria 07/08/2020

Aquela bruxa que ninguém entende, mas todos amam.

Entre tantos contos magníficos, "Felicidade clandestina" continua sendo o meu favorito.

Quanta sensibilidade!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 07/06/2016

Clarice Lispector - Todos os Contos
Editora Rocco - 656 páginas - Prefácio e Organização de Benjamin Moser (lançamento Maio de 2016).

Uma bela e merecida homenagem à obra de Clarice Lispector que recebe pela primeira vez no Brasil um tratamento editorial compatível com a importância da sua obra. A antologia, lançada nos Estados Unidos no ano passado, foi relacionada na lista dos melhores livros de 2015 além de ter sido escolhida como uma das 12 melhores capas do ano, ambas as premiações pelo prestigiado New York Times. Em 2016 já levou o Pen Translation Prize de melhor tradução, provando que a sua trajetória internacional está apenas começando. Esta versão conta com um apaixonado prefácio ("Glamour e gramática") do seu melhor e mais fiel biógrafo, o escritor, editor, crítico e tradutor Benjamin Moser, que foi o grande responsável pela divulgação da autora no mercado internacional, lançando em 2009 "Why This World: A Biography of Clarice Lispector" (traduzido no Brasil como "Clarice" pela Cosac Naify), biografia incluída entre os 100 livros notáveis de 2009 pelo New York Times Book Review. Os contos de Clarice retornam afinal ao seu país de origem, apesar de serem universais, como fica cada vez mais evidente. Sejam todos bem-vindos ao culto da encantadora feiticeira Clarice Lispector.

A leitura (ou releitura) dos oitenta e cinco contos, permite comparar as diferentes fases de Clarice como escritora, desde os primeiros textos da adolescência até a maturidade. Os contos reunidos no capítulo inicial, "Primeiras histórias", resgatam a obra da juventude e foram publicados durante os anos em que estudava Direito no Rio de Janeiro antes do casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente e de sua saída do Brasil, assim como também anteriores à sua estreia com o romance "Perto do Coração Selvagem". Ela nunca se adaptou ao exílio e, durante os dezesseis anos que viveu no exterior, a sua tendência à depressão se acentuou. Na verdade, sempre foi uma estrangeira no Brasil e em todos os países em que viveu, isto acabou beneficiando o seu processo criativo, libertando-a da normalidade, uma espécie de "alienação cultural produtiva", como destacou Benjamin Moser.

"Como é que Clarice Lispector — logo ela — conseguiu triunfar? Ela vinha de uma tradição de fracasso, de uma tradição de falta de tradição, como escritora brasileira, como escritora, como mulher, mas talvez principalmente em consequência de suas origens. Seus primeiros anos de vida foram tão catastróficos que é um milagre que haja conseguido sobreviver. Nasceu em 10 de dezembro de 1920, numa família judia do oeste da Ucrânia. Era uma época de caos, fome e guerra racial. Seu avô foi assassinado; sua mãe foi violentada; seu pai foi exilado, sem um tostão, para o outro lado do mundo. Os restos dilacerados da família chegaram a Alagoas em 1922. Lá, seu brilhante pai, reduzido à condição de vendedor ambulante de roupas usadas, mal conseguia alimentar a família. Lá, quando Clarice ainda não tinha nove anos de idade, perdeu a mãe, levada pelos ferimentos sofridos durante a guerra. (...) Em 25 de maio de 1940, publicou o primeiro conto: "O triunfo". Três meses depois, seu pai faleceu aos cinquenta e cinco anos de idade. Antes de seu vigésimo aniversário, Clarice estava órfã. No início de 1943, ela se casou com um gentio, algo quase sem precedentes para uma moça judia no Brasil. No final daquele ano, pouco depois de ter publicado o primeiro romance, ela e o marido deixaram o Rio de Janeiro. Em um curto espaço de tempo, portanto, deixou sua família, sua comunidade étnica e seu país. Deixou também a profissão, o jornalismo, em que vinha se destacando." (Prefácio de Benjamin Moser - "Glamour e Gramática" - págs. 17 a 19)

Outro fato bem destacado por Benjamin Moser para explicar a mitologia de Clarice Lispector é que ela representa um caso raro de mulher burguesa que não começou a escrever tarde e não parou por causa do casamento ou dos filhos nem tampouco encerrou prematuramente a carreira devido ao consumo de drogas ou ao suicídio. Clarice declarou uma vez que não gostava de ser comparada a Virginia Woolf porque ela havia desistido: "O terrível dever é ir até o fim". Importante notar também que foi aberto espaço na literatura brasileira da época, saturada do realismo de Graciliano Ramos e Jorge Amado, para a vida urbana e a classe média, principalmente na visão das mulheres. Temas como o casamento, filhos, o tédio no cotidiano das donas de casa, a separação, os efeitos dolorosos do envelhecimento e a inevitável solidão no fim da vida são elementos que formam a matéria-prima de seu processo criativo.

Após o primeiro capítulo com os textos da juventude, são apresentados todos os contos publicados originalmente nos livros: “Laços de família” (1960), “A legião estrangeira” (1964), “Felicidade clandestina” (1975), “Onde estivestes de noite” (1974), “A via crucis do corpo” (1974) e “Visão do esplendor” (1975). Encerram esta edição dois contos incompletos publicados em “A bela e a fera” (1979), dois anos depois da morte da autora. É claro que seria impossível para qualquer escritor, mesmo para a feiticeira Clarice, manter o nível de "Laços de Família" — em que todos os contos são obras-primas da literatura universal — na totalidade de sua obra. De fato, existem variações de estilo à medida em que ela amadurece, algumas vezes bastante arriscadas, provando que a autora soube vencer o medo do fracasso e da experimentação, como ela própria declarou: "Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno voo e cai sem graça no chão."

"Laços de Família" foi publicado pela Editora Francisco Alves em 1960 e reuniu alguns contos escritos quando Clarice vivia nos Estados Unidos, tais como: "Mistério em São Cristóvão", "Os laços de família", "Começos de uma fortuna", "Amor", "Uma galinha" e "O jantar" e outros que foram publicados na revista Senhor, quando ela retornou ao Rio de Janeiro, em 1959. Segundo Fernando Sabino comentou na época, o livro seria: "exata, sincera, indiscutível e até humildemente o melhor livro de contos já publicado no Brasil". Érico Veríssimo disse a Clarice: "Não escrevi sobre seu livro de contos por puro embaraço de lhe dizer o que eu penso dele. Aqui vai: a mais importante coletânea de contos publicada neste país desde Machado de Assis". Realmente é muito difícil encontrar um conjunto de contos com tamanha perfeição técnica, não só no Brasil. Todas as vezes que releio "Feliz Aniversário" e "A imitação da rosa" me surpreendo com o alcance universal dos contos, verdadeiros clássicos.

"A Legião Estrangeira" foi publicado pela Editora do Autor em 1964. A edição original era dividida em duas partes: "Contos" e "Fundo de gaveta". Há textos mais antigos, como "Viagem a Petrópolis", publicado num jornal em 1949, e "A pecadora queimada e os anjos luminosos", a única peça de sua carreira, que ela escreveu na Suíça. O conto "Mineirinho" é uma crítica social sobre um homicida que tinha uma namorada e era devoto de São Jorge, e que a polícia matou com "treze balas quando só uma bastava", uma violência que era prática comum já naquela época. Como bem destacado na biografia de Clarice, a "Legião Estrangeira" apresenta "uma forte ênfase nos mundos interiores de seus personagens, as obras de Clarice sempre tiveram um elemento abstrato. "Quando a arte é boa é porque tocou no inexpressivo" ela escreveu em G. H. "A pior arte é a expressiva, aquela que transgride o pedaço de ferro e o pedaço de vidro, e o sorriso, e o grito." E concluindo: "Tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes o que chamam de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu."

"Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir. E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma um ovo, ela se salvaria? Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser uma galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva à morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser uma galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido." ("A Legião Estrangeira" - "O ovo e a galinha" (pág. 306).

"A via crucis do corpo", publicado em 1974, é uma das obras mais polêmicas de Clarice, tendo sido considerado como "pornográfico" por parte da crítica literária, influenciada pelo ambiente repressivo da ditadura militar que moldava a sociedade da época. Nestes contos encontramos um travesti, uma stripper, uma freira tarada, uma mulher de sessenta anos que sustenta um amante adolescente, um casal de lésbicas assassinas, uma idosa de oitenta e um anos que se masturba e uma secretária inglesa que experimenta uma relação sexual com um alienígena do planeta Saturno em noite de lua cheia. Convenhamos que é um pouco demais até para o nosso tempo. Este livro reforçou a reputação de Clarice, já bastante difundida, de personalidade estranha e imprevisível, mas parece se encaixar na trajetória de experimentação e amadurecimento de uma escritora que não tinha medo de errar.

"Visão do Esplendor" foi publicado em 1975 pela Editora Francisco Alves e inclui "Brasilia" em versão inicial de 1962, escrita depois de sua primeira visita à nova capital, publicada em "A Legião Estrangeira" como "Brasília: Cinco Dias". A versão incluída nesta edição é a aumentada que escreveu após o seu regresso a Brasília, em 1974. Esta crônica, se podemos chamar assim, é tão bem escrita e criativa que marquei em amarelo praticamente todos os parágrafos do texto (além de boa parte da minha camisa). Em nossa época, na qual o cenário político é a estrela de todos os noticiários e os crimes de nossos representantes ficam cada vez mais evidentes, não deixa de ser interessante refletir sobre Brasília, o local onde dois arquitetos "não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado."

"— Não chorei nenhuma vez em Brasília. Não tinha lugar. — É uma praia sem mar. — Em Brasília não há por onde entrar, nem há por onde sair. — Mamãe, está bonito ver você em pé com esse capote branco voando. (É que morri, meu filho). — Uma prisão ao ar livre. De qualquer modo não haveria para onde fugir. Pois quem foge iria provavelmente para Brasília. — Prenderam-me na liberdade. Mas liberdade é só o que se conquista. Quando me dão, estão me mandando ser livre. — Todo um lado de frieza humana que eu tenho, encontro em mim aqui em Brasília, e floresce gélido, potente, força gelada da Natureza. Aqui é o lugar onde os meus crimes (não os piores, mas os que não entenderei em mim), onde os meus crimes gélidos têm espaço. Vou embora. Aqui meus crimes não seriam de amor. Vou embora para os meus outros crimes, os que Deus e eu compreendemos. Mas sei que voltarei. Sou atraída aqui pelo que me assusta em mim. (...) — É urgente. Se não for povoada, ou melhor, superpovoada, será tarde demais: não haverá lugar para pessoas. — A alma aqui não faz sombra no chão." ("Visão do Esplendor" - "Brasília" - pág. 593)

Uma autora para se ler e reler sempre e que pode ser perigosa para a nossa sanidade, mas necessária. Cuidado, assim como a sua vida, nada é o que parece em Clarice, nunca. E, principalmente, não acreditem em nada que ouviram falar sobre ela, não esperem mais, leiam vocês mesmos, logo!
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Paulo 29/11/2021

Os nós de Clarice
Este foi um livro que abandonei há muito tempo e voltei a lê-lo esse ano, junto com minha volta à leitura. Como meta, eu tinha escolhido livros que fossem de fácil leitura (os da série Harry Potter) e o livro em que tive a maior dificuldade de continuar a leitura: de Clarice Lispector, Todos os contos.
Nesta nova tentativa eu quase o abandonei de novo. Acredito que os primeiro contos são como as primeiras sílabas para quem aprende a escrita de Clarice. E como tudo que está no começo é difícil, eu demorei um pouco a me adaptar às engrenagens do estilo ou estilos de Clarice.
É um livro que reune contos das mais diversas formas, tamanhos e assuntos. Alguns me atingiram de uma forma muito profunda enquanto outros eu li tão rápido para acabar logo que sinto que mal consegui extrair seu significado.
Alguns temas não cabem mais na sociedade atual, principalmente aqueles ligados à "família tradicional". Mas as aflições de cada personagem os tornam humanos. Além de tratar a vida com um olhar mais realista e menos romântico.
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Jules 13/12/2021

Clarice como Clarice
Eu cresci ouvindo sobre a Clarice Lispector e essa obra resume muito bem o que sempre ouvi sobre ela: única, espetacular e excelente. Os textos retratam como ela foi elegante em vida, principalmente em razão de seu vocabulário extenso e descrições detalhadas, que tornam qualquer texto banal em um retrato de sua espetacularidade.
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Alessandra.Laine 12/09/2021

Ilusões perdidas
Esse livro é adstringente no começo ... doeu, confundiu, desmoralizou; mas no fim, saímos com a ilusão - falsa - de que poderíamos todos ser Clarice ! Como se bastasse se sentar na frente de uma folha branca e deixar a mão registrar teus pensamentos, em toda liberdade ! Simples assim ! Quem nos dera ...
Nina 15/09/2021minha estante
Amei sua resenha.




Fofinho 16/08/2021

Simplesmente magnífico!
Mudou meu jeito de ver o cotidiano. Minha própria história ganhou uma nova perpectiva. Me sinto mais humano.
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