Uma Juventude na Alemanha

Uma Juventude na Alemanha Ernst Toller




Resenhas - Uma Juventude na Alemanha


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Marconi Moura 21/12/2022

9,5 / 10,0
Nesse trabalho auto-biográfico o autor descreve seus anos de juventude na Alemanha, que coincidem com a queda da monarquia e o período de instabilidade política que se segue a partir de 1918 e na República de Weimar. Com grande habilidade de escrita e humildade diante de seus erros o autor pinta um interessantíssimo quadro daquele período e é possível acompanhar seu próprio amadurecimento. São muitos os personagens da intelectualidade e da política alemãs que ilustram o texto, de Thomas Mann, passando por Max Weber até Adolf Hitler. Uma baita leitura, imprescindível!
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Diego / @blogdiscolivro 25/02/2022

"Nesse momento percebo, finalmente, que todos esses mortos, franceses e alemães, eram irmãos e que eu sou irmão deles."
Nascido em 1893, na região que hoje corresponde a Polônia, Ernst Toller foi um dramaturgo, poeta e político revolucionário do Império Alemão. Autor de peças como "Die Wandlung" e "Masse Mensch", se tornou um dos expoentes do expressionismo alemão. De origem burguesa judia, combateu na Primeira Guerra Mundial, experiência que o marcou profundamente e que o converteu ao pacifismo. Foi figura ativa no cenário político entre guerras da Alemanha, no qual chegou a ser presidente da República Conselhista da Baviera e condenado a cinco anos de prisão sob a acusação de alta traição. Em 1933, com a ascensão do nazismo, exilou-se na Inglaterra e posteriormente nos EUA, onde suicidou-se em 1939.

Mais que uma autobiografia, "Uma Juventude na Alemanha" cobre os primeiros trinta anos de sua vida e um dos períodos mais conturbados da história da Europa. Toller inicia o livro evocando cenas de sua infância, onde a inocência é contrastada por uma atmosfera de medo, impregnada de xenofobia e intolerância religiosa. A asfixia do livre pensamento se fazia presente até mesmo nas escolas, onde os professores seguiam uma cartilha altamente conservadora e moralista, baseada no temor a Deus, e qualquer aluno que pensasse por conta própria era acusado de anarquismo. Toller, que queria se dedicar a poesia e ao teatro, se sentia um prisioneiro em sala de aula e foi buscar liberdade na França. Sob nova perspectiva, ele questiona seu país, e também a si mesmo, pela primeira vez. Justamente nesse momento acontece aquilo que mudaria definitivamente seu destino, eclode a Primeira Guerra.

Inflamado pelo espírito patriota, Toller alista-se no exército e vai para o front. Todos os horrores da guerra são retratados com detalhes aqui e é dessa parte, sem dúvida, alguns dos relatos mais tristes e impactantes da leitura. De volta a seu país, Toller se converte ao pacifismo e, decepcionado com a classe artística, que prefere se isolar em seu "casulo teórico", se fazendo de cega, surda e muda, torna-se muito ativo politicamente e desempenha um importante papel na Revolução Alemã. Essa passagem gera algumas das melhores reflexões sobre o papel da arte diante de conturbados períodos históricos, e porque essa não só pode, como deve se envolver com política.

Os escritos de Toller seguem de perto todas as convulsões políticas e sociais que marcaram a Alemanha pós-guerra. Greves, conflitos, assassinatos e tentativas de golpe, tudo é esmiuçado aqui. Por seu envolvimento em atividades socialistas e na greve dos trabalhadores, Toller é perseguido e, por fim, preso sob a acusação de alta traição. O período de cárcere é um dos mais duros e também tocantes da leitura. Aqui, Toller reflete sobre sua trajetória e escreve algumas de suas principais peças. Também tem seus direitos violados e é forçado a assinar transcrições adulteradas que incriminavam a si mesmo e a seus amigos.

Apesar de centrado em um conturbado período da história alemã, o livro de Toller tem o poder de conversar diretamente com diversos outros contextos, inclusive com o Brasil atual. Logo no primeiro capítulo, o autor deixa vários alertas sobre a cegueira do patriotismo exacerbado, a crença em novos Messias, a asfixia da liberdade e a degradação dos valores intelectuais e morais. Leitura mais do que recomendada, e diria até necessária, para os dias atuais.

Quanto a edição da Mundaréu, é simples, porém, bem feita e muito confortável de se ler. A obra integra a coleção "Linha do Tempo", que é focada em textos que retratam períodos históricos através da arte. O livro conta com tradução de Ricardo Ploch e traz como complemento o texto "Um Apolítico vai ao Reichstag", do escritor e jornalista austríaco Joseph Roth.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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Indy 10/01/2022

Poético e Trágico
Ler um relato de um jovem que viveu na Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial e depois deste evento, é como sentir um aperto tão forte no coração quando recebemos uma notícia ruim.

Este livro não é fácil. O autor traz suas memórias de forma poética, com a sua sinceridade e todo o molde dos seus
pensamentos. Mas isto não faz do livro menos trágico.

Quanto sofrimento estas pessoas passaram. Quantas dúvidas, medos. Sentimentos cada uma destas palavras em cada página virada. Um período tão difícil que passou e ainda passa em diversas partes do mundo.

Quando estamos com um governo que não nos representa, que nos coloca em posições onde vemos a vida das pessoas sendo perdidas, sem compaixão. Este cenário faz com que floresça a raiva, angústia, insatisfação. E todos estes sentimentos são o começo de uma revolução.

Mas são tantas mentiras que são contadas, tantas artimanhas e manipulações que são feitas, que vemos os nossos companheiros, camaradas perdidos, ou do "lado errado". E ainda somos chamados de traidores.

Um cenário como esse se repete na história. Por isso, este livro, por mais que mostre um período tão específico da História Alemã, ao meu ver, é atemporal. Uma viagem que é dolorosa, mas necessária, para que nos lembremos que somos, acima de tudo, humanos.
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jota 19/07/2020

ÓTIMO (para se conhecer o tumultuado período entre guerras na Alemanha)

Eu não tinha uma ideia lá muito precisa de quão conturbado havia sido o período entre guerras na Alemanha: alemão lutando contra alemão, prussianos e bávaros se enfrentando, assassinatos, perseguições, prisões injustas e outras injustiças... Turbulência essa que também ocorreu na Áustria e em alguns países do leste europeu na mesma época. Foi preciso ler a biografia do poeta e dramaturgo de origem judaica Ernst Toller (1893-1939) para entender certos acontecimentos, fatos que permitiram aos poucos a tomada do poder na Alemanha por um ser execrável como Adolf Hitler e seus diabólicos seguidores.

Antes que esse isso ocorresse – e esse episódio não é narrado aqui, apenas alguns movimentos do futuro ditador alemão – temos não somente a biografia de Toller (biografia parcial porém, porque contempla apenas seus primeiros trinta anos de vida) mas um retrato de grande parte de sua geração, daí o título do livro. Ele mesmo escreve: “Não é apenas minha juventude que está aqui registrada, mas a juventude de uma geração e, além disso, parte da história de uma época.” E que tempos extraordinários, perigosos, insanos, viveram Toller e sua geração.

Lemos a Apresentação da editora Mundaréu, que traz um curto mas preciso elogio a Toller no qual são lembrados alguns intelectuais que admiramos e que de algum modo estiveram conectados com ele ou mesmo o conheceram pessoalmente: Thomas Mann, Max Weber, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Rosa Luxemburgo e outros. E depois, durante a leitura restante, vamos conhecendo seus amigos, políticos, militares, soldados, magistrados, agentes penitenciários etc., enfim pessoas que o ajudaram ou contra ele praticaram alguma forma de injustiça ou mesmo violência.

Após a Apresentação passamos por aquilo que poderia ser considerado um prefácio - pois na verdade se trata de um artigo publicado num jornal de Frankfurt em 1924 da autoria de Joseph Roth, escritor e jornalista austríaco de ascendência judaica como Toller, autor do conhecido volume Marcha de Radetzky (1932) -, com o título de Um Apolítico Vai ao Reichstag, que não trata de Toller mas descreve o funcionamento do parlamento alemão daquela época. A Mundaréu chama esse útil texto de complemento de leitura, que caracteriza muito bem o período que Toller trata, de sua adesão ao socialismo, à causa operária, aos pobres e injustiçados etc.

A biografia propriamente é composta por dezesseis capítulos que vão da infância do autor até sua saída da prisão após cinco anos de cumprimento de pena, quando ele já era um conhecido dramaturgo, encenado com sucesso no país (contava trinta anos então). Curiosamente o livro é dedicado a um sobrinho, que se suicidou aos dezoito anos, mesmo fim que Toller escolheu para si em 1939, em Nova York. Grande parte do livro trata da luta política do autor, que tendo sido voluntário na guerra e visto seus horrores, quando volta dela torna-se um pacifista, não mede esforços para impedir que outras guerras eclodam e essa passa a ser sua “missão humana” a partir daí. Foram tempos extraordinários, em que sobreviveu a dois acidentes aéreos e principalmente à sanha assassina de seus inimigos, seus próprios irmãos alemães, como ele mesmo escreve a certa altura.

Esta não é apenas a biografia de um sonhador, um pacifista, ou um retrato de sua geração, como já foi dito, mas a própria História. Sabemos como tudo vai terminar (mal), vemos o sonho de Toller ser destruído (guerras nunca mais?), acompanhamos as gritantes injustiças e a crueldade contra ele cometidas, assim como a alguns de seus jovens amigos ou companheiros mais velhos, mas nada disso tira a empolgação (misturada com tristeza e revolta) com que lemos alguns capítulos do meio para o final. E tudo isso porque querendo evitar a guerra, Toller acabou ele mesmo envolvido na organização sindical e na política de então, num país dividido entre vermelhos (prussianos) e brancos (bávaros) em que muitas questões costumavam ser resolvidas (ou não) com extrema violência.

Mas nem tudo é sofrimento: no início do volume temos os capítulos que tratam da infância e da adolescência do dramaturgo. Lemos com prazer as histórias curiosas e até mesmo engraçadas do tempo de menino de Ernst. Toller vinha de uma rica família de comerciantes, mas seu melhor amigo de infância era o filho de um vigia noturno, um polaco, termo depreciativo usado pelos alemães para se referirem aos poloneses. Depois ele nos conta sobre sua adolescência, do tempo de seus estudos na França, em que passava mais tempo jogando cartas do que nas salas de aula. Na sequência temos sua volta à Alemanha para então cometer o grande erro de se oferecer como voluntário para lutar na guerra. Mas foi isso que depois mudou-lhe a vida e fez com que sua história chegasse até nossos dias tantos anos depois.

Lido entre 12 e 17/07/2020.
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Isotilia 24/11/2016

Um dos melhores livros de 2016
Esta foi uma das melhores leituras de 2016. Ajuda a entender muitas coisas. Confira mais no blog.

site: http://500livros.blogspot.com/2016/11/uma-juventude-na-alemanha-indispensavel.html
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