A filha que o rei não quis

A filha que o rei não quis Sandra Arantes do Nascimento...



Resenhas - A filha que o rei não quis


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Rose 27/04/2018

Sandra não será a primeira e nem a última pessoa a correr atrás de suas origens biológicas e a desejar um reconhecimento paterno, seja o nível que for. Desde que o mundo é mundo, milhares de pessoas fazem isso diariamente. Mas o que acabou diferenciando o caso de Sandra de tantos outros, principalmente aqui no Brasil são dois fatos:
1. Seu pai biológico, a quem ela entrou na justiça pedindo a investigação de paternidade, é nada mais, nada menos que Edson Arantes do Nascimento, ele mesmo, o Pelé, o "Rei do Futebol".
2. Mesmo tendo sido comprovado geneticamente e confirmado pela justiça, Pelé não aceitou o fato de que era pai de Sandra.
Só por estes dois itens que citei já podem imaginar a confusão que o caso despertou na época. Um caso que se estendeu por longos 5 anos, visto que Sandra entrou na justiça em 1991, mas o reconhecimento só veio mesmo em 1996 com o resultado do DNA. Com isso, Sandra pode ganhar uma nova certidão de nascimento com o nome de seu pai. Porém, nem mesmo a comprovação do DNA fez Pelé mudar de ideia em relação à Sandra.
Sandra é fruto de um relacionamento de Pelé com Anísia em 1963, no auge de sua carreira como jogador de futebol. No livro, Sandra conta que quando a mãe descobriu a gravidez, Pelé não aceitou a paternidade, afastando-se na moça, que acabou criando a filha sozinha e com dificuldades.
Anísia nunca fez menção de ir atrás que qualquer tipo de direito que a filha tivesse, o rompimento na época fora definitivo. Mas como em muitos casos, em um determinado momento da vida, Sandra resolveu que queria conhecer o pai, se aproximar dele, e por conta disso, foi atrás dele. É então que começa a história, quer dizer, a história do livro em si, começa antes, pois Sandra com poucas palavras e de forma direta, conta desde o relacionamento dos pais até o dia em que a justiça a reconheceu como filha de Pelé.
Ela fala um pouco de si mesma, de sua criação e infância, da falta que um pai fez em sua vida, e o peso de saber que era filha do Rei, sem na prática o ser. Em muitas partes ela fala o quanto gostaria de ser próxima do pai e da família paterna, assim como sobre seus sentimentos de rejeição e de raiva em determinados momentos.
O livro é curto, e para quem conhece o caso, não há nada de realmente novo ou bombástico. Infelizmente para Sandra, a justiça lhe deu ganho de caso. No papel, ela é filha do Pelé, e tem todas as garantias que qualquer outro filho dele teria, mas só. Pelé nunca a reconheceu no coração, lugar que qualquer filho quer ser reconhecido e nunca houve uma aproximação entre eles.
Sandra acabou morrendo sem nunca ter tido um pai de verdade, pois para mim, mais do que laços sanguíneos ou pedaços de papel, pai mesmo é aquele que está ao seu lado.
Este livro foi escrito obviamente, antes da morte de Sandra, e em seu final fica claro a esperança que ela guardava de um dia ser chamada de filha.
Claro que reconhecer um filho adulto, até então desconhecido é complicado, o amor e intimidades não nascem de um dia para o outro, mas este caso é emblemático, e não apenas pelo tamanho que o nome Pelé carrega. Pelé não foi pego de surpresa com um filho que não conhecia, afinal, ele soube que seria pai quando Sandra ainda estava na barriga. Ele que optou por lavar as mãos e se afastar. E mais uma vez, foi ele quem optou por tentar mudar o imudável, quando recorreu inúmeras vezes da decisão da justiça, mesmo diante de um exame de peso como o DNA.
Infelizmente, neste caso, perdeu-se todos. Se dentro de campo Pelé foi um monstro acima de do bem e do mal, tanto que é reconhecido mundialmente como o Rei do Futebol, em sua vida pessoas, Edson Arantes do Nascimento deixou de marcar o que poderia ser o gol da sua vida.
O que eu acho disso tudo? Nada. Eu no lugar dela, nem teria ido atrás, pois para mim, pai é quem cria e não quem faz. Mas, respeito e entendo, não só ela, mas todos que vão atrás de seus pais biológicos. A posição dele diante de algumas declarações? Entendo que não se cria laços de um dia para outro, mas também acho que não seria nenhum sacrifício olhar para ela e dizer "minha filha, vamos nos conhecer". Mas quem sou eu para julgar? Ainda mais não estando presente nos fatos narrados e conhecidos?
A verdade é que cada um sabe o que lhe vai na consciência, e enquanto Pelé foi mito, Edson é apenas mais um ser humano com falhas. Uma história real, que infelizmente não teve o final feliz dos contos de fadas.

site: http://fabricadosconvites.blogspot.com.br
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