Thay262 28/10/2023
Porque uns amam e outros odeiam Adams:
1) Douglas Adams une "Sátira, Paródia e Nonsense" de uma maneira muito cômica e irreverente.
*Sátira é aquela 'piada' engraçadinha e praticamente tranquila, mas que no fundo faz uma baita crítica reflexiva ao mesmo tempo (se você parar pra pensar nisso por alguns minutos).
*Paródia é sacanear algo pré-existente fazendo troça proposital (Adams vai zombar das "ficções científicas super sérias" que tem aos montes por aí e também vai zombar e debochar de tudo e mais um pouco, não duvide).
E o *Nonsense do Adams é definitivamente um "Surrealismo + Absurdismo" (um rompimento com a razão e ênfase em características oníricas [tipo a ilógica dos sonhos/ ideias tresloucadas] e nas Idiossincrasias [peculiaridade individuais e coletivas, que criamos, mas podem não ter nexo real] + a crença de que a vida e o universo não tem sentido exato e que busca-lo leva a um conflito, afinal a busca de sentido nos leva a questões existenciais, que tentamos racionalizar, mas até a razão, em algum momento, entra em conflito entre realidade e nossas questões subjetivas.
Se você não gosta de uma dessas coisas, não achará a coleção de Adams tão boa. Até porque falar do tom de Deboche + Surrealismo Absurdista na obra do Adams é quase como dar Spoiler da saga.
2) Se tem hábito de ler "enredo sério e estruturado", com heróis/mocinhos e anti-herois/vilões e a típica "jornada do herói" numa narrativa coesa, aquelas típicas, como é a maioria das histórias narrativas, pode ser que não goste ou estranhe inicialmente o "enredo tresloucado" + "todo o sarcasmo" de Adams, tem gente que nunca se adapta com o enredo Tresloucado dele e só curte os primeiros da saga, onde o Adams tava mais engajado. Mas tudo bem, cada livro impacta cada leitor de um jeito. Se Adams não for "sua praia" há muitas outras narrativas por aí diferentes do estilo dele.
O objetivo de Adams é realmente trazer um enredo tresloucado, cômico e cheio de deboche, então não leve tão a sério um livro cujo subtítulo é 'trilogia de cinco'. Se está buscando seriedade e 'enredo comum de ficção racionalista', esse livro não é para você, afinal.
3) Referências, Adams não é só "nonsense e besteirol inútil" como alguns leitores que não curtiram falam, pelo contrário, ele faz INÚMERAS referências de ciências Exatas à Humanas como quem faz malabares chapado em cima de uma mesa de bar. Sim, Adams é doidão, mas tem boas referências.
O "problema" é que Adams não vai ficar explicando as referências pras sátiras e deboches dele não; ou você "pegou a referência e riu dela" ou vai ficar sem entender mesmo. Ele não vai fazer de você mais "nerd", ele vai fazer sátira sobre variadas temáticas e quanto mais "nerd" você for vai conseguir captar e entender mais referências.
Você vai rir se; (1) gostar de sátira e (2) entender "de tudo um pouco" entre as críticas dele usando de temas da Matemática, Programação, Física (quântica e mecânica), Biologia, Psicologia, História, Filosofia, Sociologia, Sistemas de Crenças Religiosas, Modelos Econômicos, Culturais, Políticos, Burocráticos, Romance e etc, e você vai captar essas coisas se tiver repertório prévio e atenção a interpretação de texto.
E também, um adendo, quem lê o texto de forma literal vai achar tudo apenas muito louco e sem sentido do começo ao fim (oque para uns é motivo para dizer que o livro é bom, e para outros péssimo), mas ler de forma literal faz perder muita referência subliminar também, tanto quanto as satíricas (É uma das razões pela qual não é adequado a crianças, vulgo, menores de 14).
4) É interessante lembrar que isso tudo começou como uma série de "rádio-novela" e só depois foi compilada em livros a partir de 1979.
Justamente porque não era inicialmente uma coleção literária, daí o motivo de algumas pessoas "estranharem a escrita do Adams", é de se esperar que "estranhem" a escrita de algo que não foi pensado originalmente para ser um livro. Mas de todo modo, funciona nesse formato também. Não entendo também porque as pessoas se surpreendem com início e término de um livro cuja premissa era "A insignificante Terra ser destruída todas as vezes", e isso está no prefácio (então nem é spoiler) essa era a ideia base da saga, como um todo.
Por outro lado, até o Adams teve dificuldade em continuar a escrever a saga porque não era exatamente o foco dele. Como disse, era pra ser mini-série de rádio da BBC para os britânicos, não uma saga literária internacionalmente famosa. Roteiros pra séries (de rádio) e texto pra livros são coisas diferentes, e acho que Adams não tinha muita paciência pra sagas literárias tanto quanto pra script de roteiro, pegadas diferentes galera. Ele odiava os prazos de entrega dos livros. E a pressão que isso se tornou desajustava ainda mais os "parafusos" dele. Haha.
5) Adams não é exatamente um autor "fanservice", isto é, que entrega o enredo e desenvolvimento de personagens conforme o público quer. Pelo contrário, ele usa a obra pra expor oque ele realmente pensa, da vida, do universo e tudo mais, como autor, sem realmente se importar com a repercussão positiva ou negativa, e em geral dará rumos as tramas e aos personagens que vão estarrecer alguns leitores, principalmente aos adeptos de "final feliz". Eu particularmente gostei do término da saga como foi concebida e achei bem conclusiva, mas conheço quem odiou e finge que não existe 'volume 5'. Haha.
Então se você lê, mas é do tipo que não gosta de ser frustrado pelo autor nesse quesito de 'final relativamente feliz e bem estruturado para cada personagem', então talvez Adams lhe deixe a desejar no último volume. O fim é agridoce, uns adoram outros odeiam. Faz um baita sentido para uns, e para outros não.
6) Quem gosta de "Doutor Who" e "Rick e Morty" possivelmente vai acrescentar "O Guia do Mochileiro das galáxias" a seus favoritos.
Sabe-se que alguns textos do Adams para "O Guia" eram antes rascunhos de roteiro feitos por ele, e não utilizados, para a trama de Doutor Who (dizem que todo o livro 3 era na verdade um roteiro dele pra série). Ele pegou, repaginou, inseriu seus próprios personagens e reaproveitou partes do texto, isso meio que me ajudou a aceitar melhor o "contexto" do livro 3, haha.
Para quem curte, recomendo "Doctor Who: Shada" e "Doctor Who: Cidade da Morte" ambos escrito por Adams, para fãs Whovians fica aí a dica.
E também os criadores de Rick e Morty já afirmaram algumas vezes as influências do "Guia" em suas vidas e na obra, Adams é uma das muitas inspirações do programa. Então fica a dica também.
Quem já leu? Que não leu e topa ler Douglas Adams?
Como você vai saber se gosta se não der uma chance??? Eu sou da opinião que qualquer coisa vale a pena ler, nem que seja para ter críticas depois. Ler nunca é ruim, seja pra tecer elogios ou críticas, você no mínimo terá de discernir sobre a leitura que fez e isso já trás reflexões pra ti.
ATENÇÃO: nessa edição de volume único NÃO leia tudo de uma vez. Entre um volume e outro dessa coleção intercale com outras leituras suas, dê um tempinho entre um volume e outro (do contrário a leitura vai ficar cada vez mais maçante). O Guia do Mochileiro não foi feito pra ser lido "Duma vez" não!!! Sai dessa!
Vá com calma e, principalmente: "NÃO ENTRE EM PÂNICO".
Oque o Guia é pra mim?
Sou suspeita pra falar, porque eu gosto muito dessa coleção e se fosse uma resenha da minha opinião pessoal seria: em alguns pontos deixou a desejar, mas no todo eu amo, amo e amo. Me ajudou muito com a depressão, pois o sarcasmo do Adams faz-me pensar que talvez só esteja avaliando as coisas pela perspectiva errada, e ao invés de levar a vida, o universo e tudo mais tão a sério, talvez seja melhor levá-lo com mais bom humor afiado, como faz Adams. Eu rio e ao mesmo tempo reflito demais com a escrita do Adams, sem perder o senso de leveza. E isso é oque mais gosto na coleção.
Enfim, mas cada pessoa tem uma relação pessoal diferente com oque lê! E isso é muito particular de cada um.
site: https://entulhandoideiasdiversas.blogspot.com/2023/05/resenha-o-guia-do-mochileiro-das.html