Maria - Blog Pétalas de Liberdade 04/03/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade“Liberdade e o mal não combinam.” (página 36)
Em “Grito”, conheceremos Eugênia, uma senhora de oitenta e dois anos, que mora num apartamento no mesmo prédio de Fausto, um jovem de dezenove anos. Eugênia trabalhou como atriz de teatro por aproximadamente seis décadas, agora, aposentada, tem como diversão criar, ensaiar e apresentar peças teatrais com Fausto, já que o jovem tem vontade de ser ator de teatro. Eles sempre se reúnem no apartamento dela ou no dele, para discutir suas ideias, escrever roteiros e encenar as histórias.
Eugênia já se acostumou com as esquisitices de Fausto, ele não para em emprego nenhum, é sempre a mesma rotina: consegue um emprego, fica eufórico e grita, é despedido poucos dias depois, mas não sem antes fazer um novo amigo no trabalho. A preocupação de Eugênia é com essas amizades que Fausto arruma. Ciúmes? Ela diz que não, mas é que pelas informações que ela reúne sobre esses amigos, seja através do porteiro ou vasculhando as redes sociais, nenhum parece ser boa pessoa, e pode complicar a vida do rapaz.
“A Adelita, pelo que vi na internet, já esteve enrolada em negócio de droga. Não exatamente ela, mas o sujeito com quem andava. (...) E você não vai acreditar: ela tem onze irmãos, são doze filhos com ela. Uma escadinha, vi uma foto no Facebook. (...) E bem verdade que tem muita mentira nas redes sociais. Perfis falso, identidade trocada e por aí afora. (...) As redes sociais, de certa maneira, acabam por fazer algo parecido com a catarse provocada pelo teatro. Dá para purgar um pouco as paixões.” (página 64)
E assim transcorre a amizade de Eugênia e Fausto, até um desfecho imprevisível, chocante e digno da dramaturgia.
“Grito” é uma leitura rápida, não só pelo reduzido número de páginas, mas por ter trechos dos roteiros criados por Eugênia e Fausto. É uma obra que pode ser analisada em diversas partes: no conhecimento de Eugênia sobre o teatro, na relação dela com um rapaz bem mais jovem, no uso das redes sociais para se informar sobre a vida dos conhecidos de Fausto... Ainda que terminemos a leitura sem todas as respostas, sem conhecer a fundo quem realmente era o Fausto, é uma obra interessante de se ler, especialmente pelo desfecho inesperado (ou não) e pela forma diferente de contar a histórias, mesclando roteiro e depoimento.
“As minhas ponderações acabaram por ter algum resultado. Fausto aceitou que o espaço fosse o Mahagonny, do Brecht, de que ele nunca tinha ouvido falar. Sua cultura é ainda bastante rala, mas como é jovem e com ganas de aprender, tem grandes possibilidades de crescimento. Abandonou um deserto mortífero e optou por um deserto à beira-mar, onde os problemas e o verdadeiro perigo e a real ameaça são os seres humanos. São eles que avinagram o amor e o prazer.” (página 63)
A edição tem uma capa interessante, eu gostei da combinação de cores, do vermelho e do branco. As páginas são amareladas e porosas, a diagramação tem margens, letras e espaçamento de bom tamanho, e a obra está bem revisada.
Fica a sugestão para quem gosta de teatro, ou procura uma leitura rápida e com um desfecho impactante.
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/03/resenha-livro-grito-godofredo-de.html