A Casa Soturna

A Casa Soturna Charles Dickens




Resenhas - A Casa Soturna


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Marquim 14/04/2024

3 - A casa soturna
Dizem que esta é a obra perfeita de Dickens...
Galera, eu discordo.

Esta leitura, para mim, foi tão arrastada que eu já estava desesperado. E tentei terminá-la o quanto antes. Era um livro que eu pretendia ler no mês de janeiro, mas só consegui finalizá-lo ontem.

Por fim, cheguei ao final. Contudo, não gostei não.

Vamos ler, galera!
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Peter.Molina 13/11/2023

Nas garras do judiciário
Esta é considerado uma das maiores obras de Dickens. Livro extenso, gira em torno do processo Jarndyce que se arrasta há vários anos na justiça, e todos ao seu redor. Apresenta 2 narradores,um que conta a história de fora,e o outro na jovem Esther, sem família, e que vai morar com seu tutor. A trama é complexa, tem vários personagens, é preciso prestar atenção para não esquecer pois cada um tem seu papel construído. Acontece até um crime na história, e temos a atuação de um detetive que investiga o caso. O livro demora um pouco para deslanchar,mas depois a narrativa prende demais,emociona em várias passagens, além de construir uma crítica social da época. A tradução, apesar de contar com 4 revisores, tem várias palavras muito arcaicas, sendo necessário o uso de dicionário para entendermos melhor a trama.
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Aline 23/09/2023

Uma longa história
A casa soturna conta a história de um processo de herança que leva décadas e nesse período, todos os beneficiários acabam levando suas vidas acompanhando esse processo. É nele que entra Ester, uma órfã que vai parar na tutela de um dos beneficiários do testamento e através dela conhecemos a história de todos... mas são as tramas paralelas as mais interessantes e elas costuram as histórias de todos...
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Leila 23/08/2023

Alerta de texto apaixonado!
Olha eu aqui de novo falando aos borbotões, rs Dessa vez para expressar meu amor eterno à esse autor queridinho de my life que é o Charles Dickens. O livro da vez é A casa soturna, um tijolinho de 800 páginas que mescla romance, suspense e mistério com as habituais críticas sociais de sua época e muito muito amor envolvido. Dickens sempre traz personagens incríveis, fortes e cativantes (mesmo que nenhum tenha superado em meu coração David Copperfield) Ester Summerson é uma figurinha apaixonante e ímpar. Na verdade não só ela, temos outros personagens inesquecíveis dentro da obra. Ahhh parênteses para dizer que nesse livro o Dickens caprichou na quantidade de personagens e a gente tem horas que até periga esquecer quem é quem de tanta gente que aparece pelas culatras.

O plot central gira em torno de um tal processo infindável, Jarndice & Jarndice onde existem arrolados trocentos herdeiros e trocentos litigantes (se os termos estão errados, me perdoem os da área de direito), é um negócio tão complicado e que está sendo julgado há tantos anos que muitos já foram À ruina por conta das custas e o tal processo nunca desenrola e é o caos eterno. Aos poucos vamos conhecendo alguns desses ditos herdeiros e conhecendo um pouco de suas historias, mais especificamente de Ada e Ricardo, dois jovens que passam a morar com o primo João Jarndice. A partir desse fato, Ester é convidada a ser governanta deles e é a narradora de nossa historia.

Bom, para compor 800 páginas temos muitas subtramas envolvendo alguns mistérios e assassinatos, mortes infortunas e esse é meio que o diferencial desse livro em relação à outras obras do autor que li até então, ele tem essa pegada de suspense e mistério (mas já falei isso e estou sendo repetitiva), o leitor tem que ir pegando as pistas e tentar juntá-las para ir compondo e desvendando os fatos (confesso que me perdi em alguns momentos, rs), porém o livro é delicioso de ler e não dá vontade de parar até chegar ao seu final. Isso meus amigos é Dickens sendo Dickens, maravilhoso como só ele consegue ser.

Mas nem tudo são flores meus amados, essa edição apesar de esteticamente falando ser legal, contém uma tradução que deixa muito a desejar e chega a ser irritante,para exemplificar vou falar uma das coisas que me deu gastura, tipo ao invés de usar o termo animado ou animada, usaram "animoso" (ninguém merece). Infelizmente é a única que temos no mercado e se quisermos ler a obra, tem que ser nela ou no original (algo que não domino).

Enfim, é isso. A casa soturna é mais um livraço do meu amado Charles Dickens e eu recomendo fortemente à vocÊs, não se assustem com o tamanho dele, porque eu garanto melhor ler 800págs de um clássico maravilhoso e fluido do que ler 300págs de um livro porcaria, e tenho dito! Fui.
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skuser02844 29/05/2023

Um novelão, que merece uma melhor tradução
"Os advogados misturaram tudo em tamanha confusão, que os méritos originais da causa há muito desapareceram da face da terra. Trata-se de um testamento, e dos legados de um testamento... ou era disso que se tratava antigamente. Agora nada mais resta senão custas. Estamos sempre aparecendo e desaparecendo, prestando juramento, sendo interrogados, cruzando e descruzando petições, discutindo, selando, movimentando, encaminhando, relatando e dando voltas em torno do lorde Chanceler e de todos os seus satélites, e todos por igual valsando em torno das custas, até ficarmos reduzidos ao pó da morte. Essa é a grande questão. Tudo mais, em virtude de certos meios extraordinários, se esvaneceu. Sim, era a respeito de um testamento, quando ainda era a respeito de alguma coisa. Certo Jarndyce, numa maldita hora, conseguiu fazer grande fortuna e fez também um grande testamento. No discutir-se como os legados do tal testamento deveriam ser administrados, a fortuna deixada pelo testamento foi-se dissipando; os legatários constituídos pelo testamento estão reduzidos a tão miserável condição que estariam suficientemente punidos se tivessem cometido o enorme crime de receber uma herança, e o próprio testamento se tornou letra morta. De um extremo a outro da deplorável causa, todos precisam ter cópias sobre cópias de tudo que se tem acumulado em torno dela, capazes de encher uma carroça de autos(ou deve pagá-las sem possuí-las, o que é usual, pois ninguém as quer); e tem de entrar e sair de tanta coisa, em meio de tão infernal contradança de custas, honorários, asneiras e corrupção, como nunca foi sonhada nas mais horrendas visões do Sabá das Bruxas. A Justiça faz perguntas à Lei; em troca, a Lei faz perguntas à Justiça; e a Lei acha que não se pode fazer isso, a Justiça acha que não se pode fazer aquilo; qualquer delas só sabe dizer que não se pode fazer nada sem o solicitador tal informar, e o advogado tal comparecer representando A, e o solicitador tal informar, e o advogado tal comparecer em nome de B, e assim por diante, pelo alfabeto inteiro, como na história da Torta de Maçãs. E dessa forma, durante anos e anos, durante vidas e vidas, tudo continua, constantemente começando e recomeçando, sem que coisa alguma tenha fim. E não podemos sair do processo de forma nenhuma, porque nos fizeram parte dele, e temos de ser parte dele, que gostemos, quer não."



Opinião:
Pelo "pequeno" trecho que destaquei acima você pode ter uma ideia do intrincado plano de fundo dessa história. Apesar do livro ser muito mais do que o eterno processo judicial Jarndyce e Jarndyce todas as personagens estão, de alguma forma, envolvidas e tendo suas vidas afetadas pelo tal processo, e são muitas personagens, uma quantidade ridícula de personagens, eu não contei nem fiz lista, mas indico ( a parte de fazer lista) mas já vi gente dizendo que passa de cem personagens, e eu acredito.
Enfim, começamos vendo um pouquinho, muito pouco mesmo, sobre o tal do processo antes de sermos apresentados a nossa protagonista, uma garotinha chamada Ester, órfã criada pela sua madrinha uma mulher... amarga... e que nada tem a ver com o tal do processo, pelo menos é nisso que vamos acreditar por boa parte do livro. Com a morte da dita madrinha depois de falar com todo o carinho para Ester que ela e sua mãe são a desgraça uma da outra Ester é levada para receber educação e depois passa o tempo na casa de uma mulher que conhecemos com sra. Jelleby, essa mulher vive em função de escrever cartas, fazer petições e uma burocracia sem fim para, segundo ela, ajudar a África, mas não faz nada de concreto, inclusive fica tão presa nessa neura, teoricamente humanitária, que nada mais importa, nem sua infeliz família nem as crianças das quais, supostamente cuida, nem a sua casa que é um verdadeiro chiqueiro mantido em pé por infinitas gambiarras.
Para a sorte de Ester ela não fica muito tempo morando nessa... er... casa, apesar de voltar lá em outros momentos no futuro, ela é levada para conhecer seu tutor, o cara que por alguma razão desconhecida a tirou da casa onde morava e a deu educação e sustendo, João Jarndyce. Acho que é um bom momento para reclamar das escolhas do tradutor, além de ter feito o bom humor do autor quase desaparecer por completo da obra essa ideia de traduzir os nomes das personagens causa muita estranheza, ainda mais com os sobrenomes peculiares que eles possuem.
João Jarndyce é o único Jarndyce que vamos conhecer no livro, ele então denomina Ester como a dama de companhia de uma prima sua que também está sob seus cuidados, Ada, além dela um outro primo também vai morar na casa de João Jarndyce, a tal Casa Soturna do título, inclusive, esse chama-se Ricardo, e logo ele e Ada se apaixonam. Ester fica muito amiga de Ada e por ser extremamente responsável logo vira uma espécie de governanta da casa também.
A Casa Soturna também é com frequência por um cara extremamente irresponsável, tratado como uma criança em corpo de adulto por João Jarndyce que vive atolado em dívidas que outros precisam pagar porque ele nunca aprendeu a lidar com dinheiro, e nunca fez questão, esse cara acaba tendo certa influência por Ricardo, que não demonstra muito interesse em trabalhar pois, na cabeça dele, o eterno processo que está se arrastando e ficando mais complicado por gerações vai magicamente se resolver e ele será um homem rico que não precisará trabalhar.
Tudo isso vemos através da narração da própria Ester, ainda temos um outro narrador em terceira pessoa, que não é um narrador personagem, mas vai passear por todos os outros vários núcleos de personagens e deixar pistas de como todas essas histórias, uma mais bizarra e intrincada que a outra vão se cruzar e amarrar todas as pontas.
Uma outra personagem que vale a pena falar, além de Lady Deadlock, que é importante pra caramba mas vá ler o livro pra saber dela, é uma senhorinha que vai todos os dias ao tribunal para acompanhar o eterno processo, ela é hilária (ou foi feita pra ser, já que a tradução mascara toda e qualquer comédia) e tem diversas gaiolas com pássaros em casa que comprou para libertá-los quando o processo finalmente for concluído, mas o que acontece é que os pássaros morrem de velhice e ela precisa comprar novos, já que o processo é eterno.
Se fosse pra definir o livro com apenas uma palavra eu diria desafiador, ele não é uma leitura rápida, li ele em pouco mais de dois meses, mas já tinha lido cerca de metade dele ao longo de anos, mas precisei retornar ao início. Muito disso atribuo a tradução, com certeza se tivéssemos uma nova tradução esse seria um livro muito mais divertido e tranquilo de se ler. Apesar de que é consenso de que este não é um livro tão engraçado como os demais do autor, mas ele tem seus momentos.
A mensagem principal do livro, quem sou eu pra definir, né? Mas eu diria que é mais ou menos o que vemos em O Deserto dos Tártaros, ficar com a vida estagnada esperando algo que, talvez e muito provavelmente nunca chegue... mas o livro vai muito além disso, cada um dos zilhões de personagens tem seus próprios dramas com suas próprias resoluções. É um novelão delicioso, desafiador, longo, lento, mas maravilhoso. Não recomendo como uma porta de entrada na obra do autor, mas se você já conhece ele, muito provavelmente você já adora, então vai pra essa leitura sem medo de ser feliz, sem pressa e degustando. Acho que é um dos livros que mais me orgulho de poder dizer que li.

site: http://hiattos.blogspot.com/2023/05/opiniao-casa-soturna-charles-dickens-512.html
Aylane Nunes 29/05/2023minha estante
Tem spoiler nessa resenha ?


skuser02844 29/05/2023minha estante
Não, tem alguns acontecimentos, mas todos do início do livro




Henggo 14/05/2023

Cansativo demais
Achei muito cansativo. Não chega a ser maçante, porém, a narrativa, na minha opinião fecal, se alonga demais, como galhos de uma árvore que ultrapassam os limites de um terreno. Ao invés de mostrar as ações, Dickens optou por contar. Isso não seria um problema se esse contar não significasse páginas e páginas de descrições minuciosas. Perceba: a crítica social, a construção da Casa Soturna como uma metáfora das relações entre os personagens, a questão do ridículo do processo judicial, tudo faz sentido e está ali. Há belos momentos de reflexão. Mas o invólucro desses elementos é tão pesado, foi tão cansativo para mim, que em certos momentos eu até esquecia do fio condutor da trama. "A Casa Soturna" é, sem dúvida, um clássico literário. Entretanto, haja paciência para nadar por estes parágrafos. Fiz natação durante 10 anos e sei bem como é ficar cansado após um treino. E digo: ler este livro foi muito mais cansativo do que dez voltas em uma piscina olímpica. Algumas pessoas dizem que você "precisa anotar os nomes dos personagens" para poder entender. Cara, sério, se o leitor precisa fazer isso para entender um livro, tem alguma coisa em excesso nessa obra.
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elainegomes 01/01/2023

É um livro longo, em diversos momentos com ritmo lento, com uma infinidade de personagens que tornou a leitura cansativa, parecia impossível conectar tantas histórias intricadas?

Mas, FELIZMENTE, eu resisti a tentação de abandonar o livro.

Não foi meu melhor livro de Dickens, difícil superar o amor que construí por David Copperfield, a emoção de Grandes Esperanças a beleza narrativa de Um Conto de duas cidades ou a poesia esperançosa de Um conto de natal.

Mas em A Casa Soturna, Dickens conseguiu me surpreender, com um final lindo e emocionante, imaginei diversas possibilidades de desfechos, foi uma verdadeira aventura investigativa.

Pontos comuns das obras de Dickens é a forte crítica social, e nesta obra os contrastes foram colocados de forma muito interessante, pois temos a descrição das dores e sofrimento tanto de personagens de classe social alta como de personagens paupérrimos, e como sofri junto e me emocionei com lady Dedlock e com o pobre Jo.

Como pano de fundo do romance, temos um eterno processo judicial ?Jarndyce x Jarndyce? com seus procedimentos legais intermináveis, com a garantia de entrega da INJUSTIÇA, transformando pessoas e gerações doentes, que passam a levar uma vida morta, triste, solitária, engaiolados, em que a esperança de liberdade está em uma herança que só faz crescer o ódio ao seu próximo. Todo o cenário forense burocrático é descrito como essencial tendo em vista a evolução daquela grande sociedade. Ou seja, quanto maior o crescimento social, maior a distância com a preocupação da efetiva entrega de justiça e ainda maior as diferenças sociais.

Valeu muito a pena resistir e acompanhar essa linda história, Dickens através de um texto maravilhoso, conseguiu ao final conectar todos os personagens, e me surpreendeu com seu quebra cabeça literário.

?Um sorriso iluminou-lhe a face quando ela se curvou para beijá-lo. Lentamente encostou ele seu rosto no seio dela, enlaçou-lhe mais fortemente o pescoço com seus braços, e com um soluço de despedida começou a viver. Não esta vida, oh, esta não! A vida que conserta esta?.
Charles Dickens - A Casa Soturna.
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victor.victor.victor 04/07/2022

Finalmente acabou!
O livro é bom: é um romanção, lotado de núcleos e situações aparentemente desconexas. A escrita é rebuscada, mas logo se acostuma e a sensação de ler 'A casa soturna' é conforto, pois ele abraça.

No entanto, não é perfeito. O próprio Dickens não teve tempo de editar o texto e isso fez uma grande falta. Pelo menos 100 páginas poderiam ser excluídas, com cenas repetidas.

Outra coisa que me incomodou foi como os personagens mais pareciam caricaturas. O Dickens tinha uma escrita sarcástica, que tirava graça de alguns estereótipos, mas... para mim foi difícil me conectar com alguns personagens por não levá-los a sério!

Ainda assim, vale a leitura. Mas leiam com um papel ao lado anotando situações chave e novos personagens. Eu não fiz isso e precisei reiniciar o livro já pela metade. Por isso demorei 4 anos pra terminar ?????
Dan 13/09/2022minha estante
Dickens tem esse defeito grave da prolixidade.


victor.victor.victor 13/09/2022minha estante
Concordo, professor




Milena.Saleh 28/06/2022

O melhor livro que já li até hoje
O enredo trata de uma família que tem um processo judicial em andamento há incontáveis anos na Inglaterra do século 19, quando o sistema judiciário era (mais) lento e ineficaz. Há a oposição nobreza/pobreza, há críticas satíricas a nobres que se autopromovem por fazer caridade, a pessoas que se isentam de atitudes e responsabilidades, à forma militar de ser, à hipocrisia do pudor excessivo. Minha parte favorita são os personagens bondosos e humildes em sua forma de ver o mundo. E a resmungadoria!
Sobre a estrutura, Dickens é genial. Ele faz histórias completamente distintas se aproximarem ao longo dos capítulos e acabarem se entrelaçando profundamente. Por meio da narrativa de diferentes personagens, temos visões muito distoantes da mesma realidade; e os personagens são caricatos, ricos em características únicas que por vezes nos dão raiva, e por vezes nos fazem desejar que eles existissem na vida real. Passamos raiva, felicidade, tristeza, agonia. Pequenas coisas a que não damos importância adquirem enorme relevância no decorrer da trama. É um livro completo, como uma novela; cada capítulo desenrola mais um pouco os fios da narrativa. Não perdi a vontade de ler em nenhum momento e até agora me pego pensando nos personagens e suas vidas. Recomendo fortemente esse livro, cada página é um deleite, não dá vontade de terminar.
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Isa 04/05/2022

Entendiante até o osso
O ponto alto desse livro é a originalidade dos personagens, são personalidades caricatas com histórias de vida super interessantes e manias engraçadas e diferentes. Mas essa é uma característica da escrita de Dickens e você encontra em outros livros dele a mesma coisa, livros cujas histórias são infinitamente mais interessantes e a leitura flui bem mais do que essa. As tramas são super clichês, a narrativa é sem sal, sem sabor, super entendiante e maçante
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Bela 23/04/2022

A Casa Soturna - Charles Dickens
Sobre o Livro
Apresentando uma narrativa em primeira e terceira pessoa, A Casa Soturna apresenta a história das vidas afetadas pelo infame e jamais concluído caso “Jarndyce e Jarndyce”, que há tantos anos reside nas cortes legislativas e jurídicas de Londres e já virou uma piada comum aos relatores. Acumulando ódios, perdas e uma disputa eterna sem nenhuma perspectiva de conclusão, vemos sob os olhos da órfã Ester Summerson o interior da casa soturna, local onde a moça é acolhida por seu tutor junto de dois outros jovens, também envoltos nesse grande redemoinho judicial.

“Esta é a Corte de Justiça que tem casas decadentes e terras estéreis em cada condado; que tem seus malucos alquebrados em cada hospício e seus mortos em cada cemitério; que tem seus demandantes arruinados, de calcanhares cambados e roupas coçadas, correndo a roda dos conhecidos, a fazer empréstimos e a pedir dinheiro; que dá aos poderosos endinheirados os meios abundantes de fatigar o direito; que de tal modo exaure finanças, paciência, coragem e esperança, de tal modo arruína o cérebro e destroça o coração, que entre seus profissionais não existe um homem honrado que não dê – que muitas vezes não dê – o seguinte conselho: “suporte toda e qualquer injustiça que lhe hajam feito, em vez de vir pedir justiça aqui”.

Ao lado de Ester, temos também um narrador que vagueia de ambientes nobres para cenários de total miséria e desolação, apresentando personagens cujas vida foram destruídas pela hipocrisia de suas causas ou pela injustiça e desigualdade social que cercam a sociedade da época. Há alguma justiça possível em um caso que já degradou tantas vidas? Quantos inocentes foram e ainda serão puxados para esse mesmo espiral de amargor, mágoa e incerteza?

E, para além dos impactos individuais, o que a total incompetência da legislação e do judiciário para dar conta de um caso como os do Jarnydce pode revelar sobre a incompetência da própria sociedade em dar conta das suas inúmeras falhas e deficiências sociais que tanto consomem vidas?

Minha Opinião
Possuindo há muito tempo uma paixão especial pela escrita de Dickens, posso afirmar com um pouco de pesar, mas total honestidade, que a “A Casa Soturna” foi o livro mais difícil do autor que já li e que exigiu de mim muita atenção, bem como muitas batalhas para com a narrativa. Elogiado por muitos críticos como sendo sua narrativa mais rica e madura, parte do que sinto que foi meu entrave inicial com a história foi a dificuldade de estabelecer empatia com os personagens, elemento esse tão fácil de se conseguir em outros livros do autor que já li anteriormente. Foi meio aos trancos e barrancos que a leitura de A Casa Soturna foi feita e, no fim, há uma mistura de admiração com decepção ao fim da experiência de passar por essa história.

Uma das coisas que mais admiro em Dickens é sua brilhante habilidade de construir personagens que são ao mesmo tempo o arquétipo de bondade e um poço de sucessivos erros humanos banais que causam consequências desastrosas. É essa humanidade genuína que faz de David Copperfield, Pip, Agnes e tantos outros personagens o que há de mais especial nas histórias do autor, foi por suas tramas me empolguei, com seus medos que me envolvi e com suas atitudes e decisões que admirei e relutei em deixar esses personagens para trás quando alguma leitura havia sido concluída.

Dickens não escreve bem apenas seus personagens principais; em seus livros e contos, mesmo os secundários têm extremo desenvolvimento ficcional e narrativo e possuem tanto ou mais capacidade de conquistar e provocar emoções no leitor do que os próprios narradores e protagonistas da história. Vinda de uma experiência como essa em livros anteriores, foi com uma pequena frustração que me deparei com a dificuldade em me conectar com os personagens de A Casa Soturna para além de Esther. Talvez por Ester ser a narradora que mais se aproxima do leitor, é dela que é mais fácil gostar quando estamos acompanhando a trama e é até proposital esse efeito, considerando que Ester é a personagem mais típica de romances que podemos conhecer: genuinamente boa e aberta a sentir empatia pelo próximo, Esther fornece os olhares mais doces e mais pesarosos do livro e não à toa é em torno dela que ficaram os núcleos mais interessantes.


Em contrapartida, a narração que vagueia de forma mais impessoal entre diferentes núcleos menores de personagens, dividindo assim o livro com a perspectiva de Esther, sofre muitas vezes por não conseguir estabelecer laços o bastante entre o leitor e a trama relatada. É fácil entender que determinados personagens estão ali para complementar a construção da crítica social que está sendo feita por todo o livro e também para sedimentar os caminhos para os mistérios deixados ao redor do enredo. Contudo, comparados a forte presença de Ester na trama, tais passagens acabam soando muitas vezes cansativas. Não deixam, claro, de ser lindamente escritas e de possuir o toque de humor dickensiano que é tão característico. Mas não geram a mesma emoção que outros momentos, sob o ponto de vista de Esther e em torno dos personagens que pairam ao seu redor.

“Sua mãe, Ester, é a sua desgraça e você a desgraça dela. Tempo virá, e não demorará muito, em que você compreenderá isso melhor e também o sentirá como ninguém pode sentir senão uma mulher.”

Com uma história tão longa, há diferentes assuntos abordados na obra para além da questão Jarndyce, o que foi muito interessante. Uma das tramas mais curiosas e que mais gera reflexões giram em torno da família Jellyby; com uma mãe que está muito mais ocupada com os negócios na África do que dentro de casa, vemos na jovem Caddy o sofrimento de uma filha que sozinha vê o estado lamentável em que sua família fica ao ser deixados de lado pela figura materna. Foi essa a primeira trama que modelou um conceito que percebi que permeia a história inteira e talvez seja a real temática da trama: toda a história de A Casa Soturna gira em torno da hipocrisia.

Seja do caso Jarndyce e da incompetência dos judiciários, seja na mãe de Caddy e seu total abandono da família ou mesmo na figura indecisa e instável de Ricardo e no passado misterioso de Ester, com sua tia que a cuidou com tanta rigidez, mas que escondia segredos por trás dos panos que revelam que mesmo as pessoas que se entendem como as mais corretas podem cometer erros que machucam diversas relações ao seu redor.

O humor de Dickens permeia boa parte das narrações mais impessoais, o que é extremamente divertido já que as maiores críticas vêm em passagens bem irônicas que desdenham de alguma atitude ou pensamento de determinados personagens. Sendo um livro robusto e muito extenso, as passagens mais irônicas e sarcásticas ajudam a aliviar o clima e facilitar a leitura. Contudo, mesmo momentos como esse não tiram a lentidão com que a leitura de A Casa Soturna precisa ser feita.

Diferente de outros livros do autor, esse é um romance muito difícil de engatar e que por vezes tira um pouco o ânimo de ser lido. Por essa razão esse é um livro que não me conquistou como os outros e acabou sendo uma leitura um pouco mais tediosa. É, claro, uma leitura que vale a pena pela construção crítica e pela complexidade das tramas apresentadas e é por essa razão que segue sendo uma recomendação gigantesca da produção do Dickens, porém é importante já se precaver para uma experiência de leitura que vai exigir muita atenção e bastante tempo para ser dedicado a conhecer o livro.

site: https://resenhandosonhos.com/a-casa-soturna-charles-dickens/
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Luiz.Goulart 24/03/2022

Uma pérola no fog
Confesso minha ignorância sobre a existência deste livro de Charles Dickens, escritor que é uma verdadeira instituição inglesa. Já havia seus livros mais conhecidos (David Copperfield, Oliver Twist, Um Conto de Duas Cidades, A Pequena Dorrit, Grandes Esperanças e Um Conto de Natal), mas nunca tinha tomado coragem para ler nenhum. E veja que coisa: comecei por ler o autor pelo único que não conhecia.
A Casa Soturna foi um romance publicado em 1853 e é considerado pela crítica como a obra mais perfeita de Dickens. Em suas 800 páginas, o autor discorre sobre aqueles temas sempre presentes nos seus livros, como o sofrimento das crianças pobres nas ruas inglesas. Aqui, Dickens, que já havia trabalhado no sistema judiciário britânico, tece críticas ácidas ao Judiciário por meio do motor da história: um processo que se arrasta por gerações sem jamais chegar perto de uma solução, pondo em xeque o mastodôntico sistema jurídico inglês do século XIX.
Esta história, como todas as demais do autor, já foi adaptada mais de uma vez para as telas em filme e minissérie com seus mais de 40 personagens magistralmente manipulados pelo autor, revelando o perfeito domínio da narrativa, apesar de deixar o leitor algumas vezes confuso com os diferentes enredos que vão se entrecruzando. O bom humor de Dickens é surpreendente por estar em uma trama que aborda pobreza, morte, assassinato e solidão.
A primeira página do livro já dá uma mostra da narrativa especial na descrição da ambientação não lisonjeira de Londres. Imediatamente, lembrei-me da descrição feita da cidade Paris no livro O Perfume, de Patrick Süskind, com a diferença de que na Casa Soturna o conjunto se mostra através do olhar, enquanto no Perfume tudo está ligado ao olfato. Eis Londres e seu “esplendor”:
“Tanta lama nas ruas, como se a superfície da terra houvesse acabado de emergir das águas, e não seria maravilha encontrar-se um megalossauro, de doze metros de comprimento mais ou menos, saracoteando-se como um lagarto elefantino, no alto da colina de Holborn. Poder-se-ia imaginar que a fumaça que descia das chaminés, formando uma garoa leve e escura, com flocos de fuligem, tão grandes como fornidos capulhos de neve, era luto posto pela morte do sol. Cães indistintos no meio do lodaçal. Em não melhor estado os cavalos, enlameados até os antolhos. Pedestres, entrechocando os guarda-chuvas, como que contagiados todos de mau humor, escorregando nas esquinas das ruas, onde dezenas de milhares de outros pedestres vinham deslizando e escorregando desde que o dia raiou (se é que um dia assim pode raiar), acrescentavam novos depósitos às crostas e mais crostas de lama, que aderiam tenazmente naqueles pontos ao calçamento, acumulando-se a juros compostos. Nevoeiro por toda a parte. Nevoeiro rio acima, onde este corre entre verdes ilhotas e campinas; nevoeiro rio abaixo, onde ele rola, sujo, entre os renques de embarcações e a sujeira das praias duma grande cidade (grande e imunda). Nevoeiro nos pantanais de Essex, nevoeiro nas alturas de Kent. Nevoeiro insinuando-se nas cozinhas de brigues carvoeiros; nevoeiro pairando sobre os estaleiros e suspendendo-se do cordame dos grandes navios; nevoeiro caindo sobre as amuradas de barcaças e pequenos botes. Nevoeiro nos olhos e gargantas de antigos reformados de Greenwich, respirando, asmáticos, junto às lareiras de suas enfermarias; nevoeiro na boquilha e no fornilho do cachimbo vespertino do colérico capitão de navio mercante, fechado no seu camarote; nevoeiro beliscando cruelmente os dedos dos pés e das mãos do grumetezinho a tremer ali no tombadilho. Gente ociosa, nas pontes, espreitando por cima dos parapeitos o firmamento baixo de nevoeiro, toda cercada de nevoeiro, como se se encontrasse num balão, a plainar em meio de nuvens de névoa.”
Selecionei outro belíssimo trecho onde o autor descreve a miséria do maravilhoso personagem Jo, um dos meninos inesquecíveis e que são puro deslumbramento descritivo em uma obra “Dikensiana: “...não é um autêntico selvagem estrangeiro: é apenas o artigo comum fabricado em casa. Sujo, feio, desagradável em todos os sentidos. De corpo, uma criatura comum das ruas comuns, pagão apenas na alma. A imundície doméstica o enxovalha, os parasitas domésticos o devoram, as chagas domésticas estão nele, os farrapos domésticos o cobrem: a ignorância nativa, floração do solo e do clima ingleses, afunda-lhe a natureza imortal, pondo-a num nível inferior ao dos brutos que perecem. Adianta-te, Jo, com as tuas maneiras inflexíveis! Da sola dos pés ao alto da cabeça, nada há de interessante em ti!”.
Infelizmente o livro, que estava esgotado há anos, foi relançado com graves problemas na tradução (imperdoável numa edição de luxo com capa dura e belas ilustrações) pela Biblioteca Áurea selo da Editora Record, custando mais de R$ 70,00. É incompreensível a tradução de nomes próprios como Ricardo, Haroldo, João e Príncipe. Uma coisa irritante de ser lida que jamais vi sequer num livro ruim. Os erros de revisão ficam evidentes no descuido pela tradução de termos de uso lusitano no lugar de brasileiros, como “quinta”, para terreno; “miúdo”, para criança; “gira”, para maluco e “algibeira”, para bolso.
Apesar de tudo isso, o prêmio de ler Dickens não tem comparação. Agora não tenho qualquer desculpa para não devorar David Copperfield, Oliver Twist e seus amigos, que há tempos me olham acabrunhados da estante.


site: https://www.blogger.com/blog/post/edit/32639542/8722051839343676601
Rinaldo.Sousa 25/03/2022minha estante
Perfeito!




Reginaldo Pereira 30/01/2022

Encantamento! Sublime encantamento!
O livro acabou e, com lágrimas nos olhos, posso dizer - já com imensa tristeza e saudade - que foi uma extraordinária experiência!
Tantos personagens pairando ao redor de um intrincado processo judicial, cada um com suas características, qualidades, caráters e trejeitos, constroem um bela, divertida, triste e emocionante história.
Dickens, mais uma vez, permite ao leitor se deleitar com uma enchurrada de sentimentos, aqueles mesmos que caracterizam a nossa humanidade e nos fazem perceber do que todos somos feitos!
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