Resenhas - O Marido Dela

otxjunior 11/05/2020

O Marido Dela, Luigi Pirandello
Leitura difícil, personagens em sua maioria desagradáveis, diálogos entrecortados de maneira que não representavam um descanso entre os parágrafos de ideias mais densas. Diferente do capítulo central, que afasta a protagonista daquele universo turbulento do sucesso recente e a coloca numa cidade idílica do interior da Itália, onde ocorre os pontos mais marcantes do romance. Fiquei abismado de como a gravidez de uma mulher casada é quase considerada uma indignidade, no sentido da subversão de valores daquela sociedade de literatos e artistas.

Maria Clara 06/08/2020

Bem, é uma leitura difícil, meio cômica, meio azeda, melancólica...
Eu gostei da história, do seu tempo e enredo, de sua proposta reflexiva... A única coisa que me incomodou um pouco foi que os personagens mais interessantes, reais e esféricos tiveram espaços limitados no texto, a maior parte das vezes aparecendo como figurantes, seus momentos de voz foram curtos se comparados aos dos outros personagens, mais caricatos. Esses, vale acrescentar, eram quase sempre muito desagradáveis.
Eu reconheço que a existência de pessoas como eles (cegas pelo orgulho, vaidade, egoísmo, narcísicas) não é rara, mas chegou um momento, diante de algumas situações, em que eu esperava uma resposta mais humana deles. Principalmente de Boggiolo.. ao longo da obra, fui ficando convicta de que ele sofria de delírios de grandeza e autorreferência, que tinha essas ideias de forma mais acentuada do que alguém saudável poderia ter.
Mas, mesmo com essa consideração sobre os personagens, reitero que gostei do livro como um todo.

Aninha 23/07/2016

Amor x labor
"Ela sempre se recusara a olhar-se por dentro, na alma. Algumas raras vezes que tentara por um instante, quase tivera medo de enlouquecer." (página 50)

Sílvia Roncella é uma jovem escritora que, no início do século XX, muda-se com o marido para Roma.

Seus escritos começam a se destacar no meio literário e, por isso, ela é convidada para um banquete, onde é apresentada a jornalistas, editores, escritores e demais celebridades do mundo das artes.

Tímida e retraída, Sílvia pouco fala de si e das suas obras. Quem faz esse papel de divulgador e agente - primeiro informal, depois, formalmente - é seu marido, Giustino Baggiolo. Sem medir esforços, nem pudores, ele negocia os textos da esposa, acompanha as apresentações das peças e tenta transformar em dinheiro o que, para ela, são apenas textos produzidos para seu prazer.

"Cada obra, nela, sempre se movera sozinha, por motivos próprios e ela não fizera mais do que obedecer docilmente e com amor essa vontade de vida, a cada seu espontâneo movimento interior." (pág.171)

O filho do casal nasce, Sílvia se recolhe no interior de Cargiore na casa da sogra e, a partir daí, tanto ela, quanto o marido percebem como os planos para o futuro de ambos estão indo para rumos diferentes e conflitantes.

Pirandello descreve cenas e personagens de um modo sutil, por vezes cômico e de uma forma que você consegue simpatizar - ou não - logo de cara com cada um.

Boa leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2016/07/o-marido-dela.html

Ingrid 05/08/2021

A história do casal Giustino Boggiolo e Silvia Roncella não me chamou muita atenção no início, até achei um pouco chato. Mas aos poucos chamou-se atenção o fato de Silvia, uma escritora que no início do livro muda-se para Roma, em virtude do sucesso do seu livro. Silvia odeia o fato de ser famosa e de todos os intelectuais terem curiosidade em conhecê-la. Em contrapartida, seu marido sente-se muito a vontade, e praticamente apropria-se do sucesso da mulher, sempre a incomodar a todos para tornar a obra da mulher mais conhecida e lucrar sempre mais, É interessante ver as condutas dos intelectuais e do próprio marido de Silvia; e constatar que por baixo da modernidade há muito de uma sociedade patriarcal; inclusive fica claro que o marido credita todo o talento da mulher como se fosse sua e de sua propriedade, como se sem ela, ela não pudesse ser uma escritora (detalhe: Silvia escrevia desde sempre). Já para seu avô, Silvia tinha problemas, que era um absurdo uma mulher ter algum talento intelectual. O mais surpreendente para mim, foi a mudança de Silvia, que aos poucos vai se dando conta do seu talento e da sua propriedade sobre ela; e da necessidade de se apropriar da sua vida e da sua obra; assim como do seu sucesso . Assim como é interessante a visão dada a gravidez de Silvia, que a rejeita como se tivesse sendo invadida, e para os outros como se fosse um absurdo e uma ofensa para uma intelectual. Vale a pena a leitura, que senti ser fluída; mas não é um livro que me marcou e não sei se faria uma releitura.

Caiovisck 09/02/2022

O marido dela e fluxo de consciência
Há duas semanas atrás, antes de terminar o livro, eu aprendi um novo termo, ''fluxo de consciência''... Que basicamente é uma técnica literária, que procura transcrever o complexo processo de pensamento de um personagem.
E foi com tal técnica, que ao meu ver, Pirandello construiu a maior parte da narrativa. Apesar de alguns personagens serem poucos explorados, acredito que os principais tiveram sim de maneira detalhada, a descrição de seus pensamentos. O autor consegue expor bem os pensamentos das personagens, as suas angústias, e os seus sentimentos mais profundos, como seus traumas e delírios pessoais.

Por fim recomendo a leitura a todos, não é uma leitura fácil, nem uma leitura tão difícil.

Joao Felipe 09/10/2016

Bom Humor Latente
Primeira leitura de um autor italiano, e me surpreendi, o enredo é inteligente e me deixou em alguns momentos pensativo e ao mesmo tempo com um bom humor incrível.
È uma tragedia anunciada, e entrou pros melhores que já li nessa coleção, espetacular da folha.

Fabiane.Ponte 15/08/2017

Surpreendente
A leitura me surpreendeu muito. Cheguei a ficar aflita por conta do marido. E Silvia, meu Deus, que personagem densa. Gostei muito, recomendo.

regifreitas 29/06/2019

O MARIDO DELA (Suo marito, 1911), de Luigi Pirandello; tradução Francisco Degani.

São dois os personagens principais desta obra: uma jovem escritora (Silvia Roncella), cujo trabalho começa a ganhar reconhecimento junto à crítica, e seu marido (Giustino Boggiolo), funcionário do Arquivo Notarial, que, com o sucesso da esposa, abandona seu emprego para se tornar uma espécie de agente literário dela. O pano de fundo é a Roma do início do século XX.

Aqui Pirandello faz uma espécie de crítica à mercantilização da arte, principalmente através da figura do marido, um sujeito obcecado em ascender socialmente. É ele quem toma a frente das negociações envolvendo os escritos de Silvia, pois ela era uma figura meio tímida, preferindo a reclusão à excessiva exposição que passa a ter, não sabendo ainda lidar com a repentina notoriedade do seu trabalho. Giustino acaba tão envolvido por sua ambição e vaidade, por conta da atenção que passa a receber em nome da esposa, que chega a acreditar que ele é o grande responsável pelo sucesso de Silvia. Só aos poucos Silvia vai se dando conta do papel negativo do marido em sua vida, da interferência dele no seu trabalho, e da pressão dele para que ela escreva incessantemente.

Esta foi minha primeira leitura desse autor, e embora o texto apresente interessantes reflexões sobre o fazer literário e o mercado literário, bem como sobre o meio jornalístico e das celebridades romanas da época, não é uma obra que se destaque narrativamente. O texto é fácil, leve, de leitura agradável, mas sem nada de extraordinário.

Ana 15/03/2022

O teatro da vida cotidiana...
Esse livro, publicado em 1911, se passa no início do século XX em Roma. Aqui acompanhamos um casal, a Silvia Roncella e Giustino Boggiolo, ela é uma escritora que está começando a fazer sucesso, ele trabalha no arquivo notarial, que é um órgão de gestão, organização e acesso de documentos históricos. O início da narrativa já começa com um tom zombeteiro. O narrador nos diz Atilio Raceni, diretor de uma revista feminina, não feminista, vai dar um banquete para este casal. E ele repete duas vezes que essa revista, as musas, é feminina, não feminista. Nesse banquete, percebemos que o Giustino está bem à vontade enquanto Silvia parece estar deslocada. No começo da leitura achei que o marido apoiasse o trabalho da esposa. Mas logo fica evidente que não é bem assim. Giustino se mostra cada vez mais egocêntrico, narcisista e se considera dono do trabalho da esposa. Ele fica deslumbrado com esse mundo da fama e acredita que todo o sucesso da esposa na verdade é dele. Que é ele quem está se destacando. É ele que deve ser reverenciado.
Sua ambição e vaidade aumenta cada vez mais a distância entre ele e a esposa, que nunca teve o objetivo de ficar famosa e rica. Ela escrevia como uma forma de desabafo. Como um exercício catártico. E o arrivismo do marido a incomoda e a enoja. Uma crítica muito clara aqui é a mercantilização da arte. Ela é fruto de talento e inspiração ou é resultado de um bom trabalho de marketing?
Outro ponto interessante que esse livro aborda é a facilidade de se deslumbrar com a fama.
Como é tão convidativo se perder na vaidade...
Como é tão simples se hipnotizar com o sucesso...
O autor usa dois instrumentos interessantes nessa narrativa: o subtexto teatral, termo proposto pelo escritor, ator, pedagogo Stanislavski e significa aquilo que não é falado claramente no texto dramático, mas se evidencia no jeito que é interpretado pelo ator.
E a narrativa moldura, onde uma história é contada dentro de outra história.
Pirandello é escritor tbm de peças teatrais, inclusive as citadas neste livro são peças que ele realmente escreveu. Ele venceu o nobel de literatura em 1934.
Achei o livro excelente. Foi meu primeiro contato com este autor e com certeza lerei mais coisas dele.

Sanoli 21/01/2018

http://surteipostei.blogspot.com.br/2018/01/o-marido-dela.html
http://surteipostei.blogspot.com.br/2018/01/o-marido-dela.html

site: http://surteipostei.blogspot.com.br/2018/01/o-marido-dela.html

Emile.Darcy 11/06/2023

Deviam falar mais desse livro
É o início do século XX e Silvia Roncella é a autora mais falada de Roma. Ela está em todos os jornais e sua obra será adaptada para uma peça de teatro. Mas, quem exatamente é Silvia? Você ouviu falar do marido? O Marido Dela?

- O Marido
Giustino Boggiolo é o tipo de pessoa que não se importa se está sendo ridícula ou inconveniente. Sua missão? Ser ovacionado e reconhecido.
A arte de sua esposa é uma forma de ter isso. Mas não, ele não vai mudar o nome das peças e publicá-las como sua. Isso seria terrível! O que Boggiolo vai fazer é divulgar a esposa e explorar sua arte de todas as formas possíveis. Daí, lutar com unhas e dentes para reconhecerem seus esforços como o verdadeiro motivo da esposa ser famosa. Afinal, quem ligaria para arte dela se não fosse ele fazendo alarde?

- (D)Ela
Silvia Roncella não escreve por fama ou dinheiro. Sua arte apenas transborda e pede para ser escrita. Ela não é culta, nem educada nos saberes da arte, mas consegue contar uma tragédia da forma como ela pede para ser contada. Silvia é um talento bruto que poderia alcançar níveis astronômicos se bem lapidado. Mas ela não quer isso. Escreve para nada, por nada, apenas para desafogar a si mesma.
Esta é a verdadeira tragédia contada pela escritora.

- Considerações finais
Esse livro critica não só escritores como todo o meio, abordando de forma magistral a mercantilização da arte. Afinal, um sucesso é fruto de talento e inspiração ou é resultado de um bom marketing?
A obra também faz vários pontos a respeito de papéis sociais e matrimoniais, refletindo ideias do século XX de forma universal. Perfeitamente alinhado com ideias propagadas pelo realismo, o livro entrega um final de tirar o fôlego.

site: https://www.instagram.com/p/CrwsdXnLLH7/