Tamirez | @resenhandosonhos 23/08/2018SilêncioSilêncio vem com a proposta de ser uma fantasia stand alone, o que é algo bastante raro, principalmente nesse tamanho. Eu nunca li nada da autora, então esse livro fez o meu debu com Richelle Mead, amada pelos fãs pela série Vampira Academy. Havia algumas dúvidas no ar quando comecei a leitura, pois vi que o livro não foi bem aceito por todo mundo, mas logo que comecei já soube que teria uma boa experiência.
Acho que delicada é a palavra perfeita pra descrever a escrita de Mead nesse livro. É tudo exposto de forma tão leve que as páginas praticamente se viram sozinhas. O contexto da história também tem muito a ver com a aura desse livro e acho que consegui captar isso bem durante a leitura. Sempre me peguei pensando: esses personagens estão fazendo isso, pensando isso e vivendo isso em completo silêncio e é incrível que eu esteja sentindo essa sensação mesmo que o mundo ao meu redor continue ruidoso.
“O grito vem de um lugar mais obscuro, das profundezas da nossa alma, e, quando gritamos nesses momentos em que estamos tristes ou com muita raiva, existe uma constatação terrível que acompanha esse ato: a de que estamos dando voz a uma emoção que é simplesmente grande demais para caber no nosso coração.”
Quando a personagem começa a ouvir ela vai buscar nos antigos registros do povoado se há alguma coisa sobre como os sons são. Lá ela encontra as descrições de uma mulher que resolveu escrever quando a audição de todos começou a desaparecer. Esses significados escritos são tão interessantes quando expostos assim, pra representar algo que faz tão parte da realidade da maioria de nós, que fiquei um pouco tocada. Nunca me imaginei descrevendo a badalada de um sino, o tic tac de um relógio, o grito de alguém. Mas ao ler as descrições apresentadas no livro, pude sentir o quanto aquilo fazia sentido.
A personalidade de Fei é bem interessante, já que ela tem muita coragem, mas ao mesmo tempo se encolhe dentro de si. Ela faz o que precisa ser feito para manter sua irmã e única família a salvo, mas questiona seus atos, pois não quer que eles prejudiquem seu futuro bem encaminhado. Futuro esse que fez com que ela se afastasse de Li, um jovem corajoso, obstinado e até um pouco descuidado por causa da energia que o move.
Quando eles unem forças para tentar encontrar uma forma de descer a montanha e ajudar a todos, trazendo mais comida ou uma solução para o problema da perda de visão, fica claro que há e vai se desenvolver um envolvimento entre os dois. Com relação a isso achei um pouco abrupto, mas não chamou demais a minha atenção, já que eu estava tentando descobrir o que realmente havia por trás da história. O que fez essas pessoas perderem a audição e agora a visão? Quem está na base dessa montanha?
Quando as respostas começam a vir, é possível ter um vislumbre da ganância e crueldade humana e de como podemos ser reféns de uma realidade onde o lucro é tão mais importante que a vida das pessoas. E, por mais que a fantasia se apresente aqui de forma rala, o que gerou a reclamação junto aos leitores, acho que consegui compreender o porque disso ou, preferi interpretar dessa forma.
Tentei acreditar até o final que havia uma explicação real, e imagino que essa tenha sido uma artimanha da autora. Fazer com que o leitor caminhasse por um mundo palpável, para só lhe entregar o fantástico quando não houvesse mais opção. Feito isso, há duas opções: ou você conquista o leitor pela simplicidade ou o frustra pelo mesmo motivo.
Dito isso, fiquei com a primeira opinião. Acredito que seja bem complicado apresentar um mundo vasto de fantasia em tão poucas páginas e ainda desenvolver uma história concisa em cima. Há como fazer, claro. Podia ter um contra ponto entre as duas coisas? Sim, também. Mas não me desagradei do livro nem de Fei.
Com uma narrativa leve e delicada, que não explora muito o folclore oriental como poderia ser esperado, Richelle Mead apresenta uma história envolta em mistério, com um pequeno desvio para o romance, que tanta fazer com que o leitor esqueça que está lendo uma fantasia, em busca de encontrar suas próprias explicações para o dilema apresentado. É preciso ter em mente que não há um enorme world building em Silêncio, mas que há sim uma boa história pra contar.
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