Tamara 30/11/2016
Eu sou uma grande fã de livros reportagens, e quando descobri esse aqui imediatamente me senti interessada, principalmente por já conhecer outro livro do autor, chamado A queima roupa, onde ele trazia a reportagem, em detalhes, sobre outro caso que abalou o brasil, um crime passional envolvendo pimenta neves que matou a namorada, Sandra Gomide, pelo fim do relacionamento. Na época em que li esse livro, A queima roupa, já havia ficado impressionada pelo quão bem o autor conseguiu transmitir os fatos, e agora, com a chegada de A clínica, não foi diferente.
Confesso que eu pouco sabia sobre o caso Abdelmassih. Como uma pessoa que está nas redes sociais e assiste televisão ocasionalmente, é claro que eu já havia ouvido muito esse nome e havia visto os títulos apelativos das manchetes, falando sobre crimes sexuais e uma sentença de muitos anos de prisão, mas não sabia com detalhes quem ele havia sido, qual seu papel, dentre outras coisas, o que pude descobrir com muita propriedade nesse livro tão bem construído. Aqui, começamos a acompanhar o livro através da narração de uma festa, dada em homenagem ao médico, onde estavam presentes vários famosos. Essa festa significava o auge da carreira do médico, e logo em seguida, voltamos para o passado, acompanhando sua formatura, o início de seu trabalho, até o crescimento na clínica, e então, a descoberta chocante do que ele cometera todos esses anos.
Como ponto mais que positivo destaco a escrita do autor, que é muito clara, simples e cumpre com maestria o seu papel, que é o de informar o público leitor, com imparcialidade. Outra coisa que gostei muito foi a coerência, o autor não faz viagens mirabolantes, narra tudo em uma cronologia fácil de acompanhar e entender, e dá espaço para falar sobre as vítimas, o médico, sua família, o papel da justiça, dentre vários outros fatos.
Confesso que eu não tenho pontos negativos a destacar, apenas uma coisa me incomodou durante a leitura, mas foi um fato bastante isolado com o qual me deparei: em uma das partes, enquanto fala sobre uma lei, sancionada em 2009, que prejudicou um pouco mais o caso de Roger, pois a lei passava a igualar os crimes de atentado violento ao pudor e de estupro, porém, o que me chamou atenção é que o livro diz que essa lei foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff, porém nessa época ela ainda não estava no poder, e foi na verdade sancionada pelo ex-presidente Lula, e essa informação errada achei que se deveu a uma falta de verificação.
Aqui não há personagens fictícios sobre quem falarmos. Infelizmente todos foram protagonistas mais que reais de episódios tristes e lamentáveis, mas algumas pessoas mencionadas no livro que merecem destaque são, obviamente, o médico Roger, cuja história aqui é contada, e um homem que choca por sua frieza, sua simpatia e sua capacidade de possuir dois lados tão contraditórios. Além disso, o leitor se solidariza com as vítimas que deram a cara a tapa e resolveram denunciá-lo, mulheres que tiveram seus sonhos despedaçados e que tiveram muitas consequências pelas ações do médico. Ainda, cabe um destaque especial aos jornalistas sérios que se empenharam no caso, como a jornalista Lilian Christofoletti, repórter de política da folha de S. paulo, que mesmo não sendo de sua área o tema, foi a fundo e construiu uma reportagem impecável para denunciar na mídia os crimes desse homem. Outro repórter que se empenhou muito no caso foi Leandro santana, da Tv Record, que acabou indo inclusive a procura de Roger, quando ele fugiu das autoridades brasileiras, dentre vários outros que merecem receber destaque pela atuação.
O livro é dividido em cinco grandes capítulos, simbolizando as fases da história de Roger, além de um epílogo, e a obra é toda narrada em terceira pessoa, em tom de reportagem e não encontrei erros durante a leitura, que realizei em ebook. Recomendo essa obra para todos aqueles que gostam de acompanhar livros reportagens, e que gostam de conhecer a fundo histórias reais que marcaram nosso país.
site: Resenha postada originalmente em: http://rillismo.blogspot.com.br/2016/11/resenha-clinica-por-vicente-vilardaga.html