A Leitora Compulsiva 03/09/2023
Quentinho no coração ?
AVALIAÇÃO: ????
Duas coisas que gostei logo de cara no livro:
1. Os autores são homens.
2. Não tem hot nenhum. É só o desenvolvimento de um sentimento genuíno entre dois amigos.
Reforço algo que disse em alguns livros anteriores: livros com temática de amor entre rapazes PRECISA ser escrita por eles. Isso porque somente quem vive essa experiência pode retratá-la com veracidade.
Por mais que a mulher também possa produzir uma narrativa fidedigna, tende a acontecer certas cenas onde fica claro que é mais o que ela quer que aconteça do que a realidade.
E amei o fato de não ter cenas quentes, porque não é sobre isso. São apenas dois amigos de infância que cresceram juntos e, de repente, se deparam com o nascer de um sentimento diferente de amizade que vai se infiltrando lentamente. A dificuldade de entender essa mudança gradual dentro dos personagens é muito genuína, pura e principalmente: real. Eles simplesmente não entendem por que, de um momento para o outro, certas coisas que eles costumavam fazer sem problemas ? dormir juntos, tomar banho juntos, brincar juntos ? se torna simplesmente complicado demais agora.
Pro Lucas, fica claro que por mais que ele não saiba o que está nascendo entre eles, ele sabe muito bem de si o suficiente pra se permitir sentir algo a mais do que amizade. Já o Bernardo compreende com mais lentidão; até o final do livro, tudo que ele tinha eram porquês que não eram respondidos, apenas lançados no ar, deixando-o confuso. Ele precisou de mãos ? várias ? pra chegar lá e entender o que de fato era aquela mudança entre eles. Mas eventualmente chegou lá.
O que mais me pegou nesse livro foram os tons de inocência. Não há uma malícia presente nessa tarefa de autodescoberta; mesmo os momentos de maior atrito e contato pessoal entre eles, são todos retratados como uma delicadeza sensível que faz os olhos brilharem e o coração ficar confortável.
Amo livros leves que tem o único objetivo de confortar, e este é um desses. Todo o ambiente de interior, o contraste com a cidade grande onde a tia de ambos moram, até mesmo a descrição das paisagens e casas de ambos fazem você se sentir morando com eles. É de uma magnitude absolutamente deslumbrante.
O único motivo por que retirei a última estrela, é por alguns fatos que ocorrem no livro, sem muita coerência:
? Há uma cena de bullying onde o agressor também é gay; mas a informação é jogada de forma apressada no final do livro e esses personagens secundários são poucos explorados. Em minha opinião, eles deveria ter sido mais esmiuçados para o leitor, mas não estragou em nada a experiência.
? Os autores passam a ideia de que em uma cidade grande ninguém se importa com casais LGBTQIA+, o que, em partes, é verdade; mas há a cena em que a tia do Lucas convida um casal de namorados para o jantar, apenas para ensinar aos meninos que é aquilo que eles devem ser, meio que para apressar as coisas entre ambos. Não curti muito: sei que a ideia era juntar ambos, mas acredito que é um processo que deve ocorrer naturalmente, sem interferência externa.
? A forma como os garotos foram aceitos pelos pais foi irrealista também: mostram uma aceitação muito rápida, o que, ao meu ver, não foi muito condizente com a realidade porque nem eles mesmos sabiam o que estavam sentindo. Especialmente a mãe do Bernardo que deu indicações e incentivos já ao final do livro, mesmo sendo evangélica, para que eles entendessem o amor que sentiam. E isso deu aquele gostinho de final feliz a nível Disney, onde ninguém se opõe em momento algum.
Mesmo assim, nada disso estragou minha experiência lendo esse doce de livro. Foi emocionante, especial, e me trouxe leveza nestes dias tão pesados de trabalho que andei tendo.
Vale super a pena a experiência pra qualquer leitor de livros leves ou LGBTQIA+: é um livro lindo.