fernandaugusta 15/03/2024O acerto de contas de uma mãe - @sabe.aquele.livroEste livro é um forte relato do tiroteio de Columbine, escrito por Sue Klebold, mãe de Dylan, um dos atiradores.
No dia 20 de abril de 1999, Dylan saiu mais cedo do que o costume de casa, e disse apenas a palavra "Tchau". Sue foi trabalhar, e horas depois receberia o telefonema que mudou sua vida: o filho, junto com o amigo Eric Harris, seria um dos responsáveis pelo massacre na Escola de Ensino Médio de Columbine, Colorado. Dylan e Eric entraram na escola, plantaram e atiraram bombas e entre o refeitório e a biblioteca; saíram atirando e mataram 12 estudantes e um professor, deixando mais 24 pessoas feridas, antes de tirarem a própria vida.
Muito se especulou o papel das famílias de Dylan e Eric no ocorrido, e a condenação midiática foi imediata. Afinal, como um massacre cuidadosamente planejado passou batido para pais, amigos, professores e outras pessoas que conviviam com eles?
Sue traz a história do seu ponto de vista de mãe de um garoto calmo, um adolescente normal do subúrbio, que ela nunca imaginava que faria algo desta magnitude. O relato de sua rotina familiar, o fato de ela mesma ser professora e trabalhar com pessoas com deficiência não a preparou em nada para o que aconteceu com Dylan. Ela acreditava que estava tudo bem, mas ao longo do livro vemos que sintomas de depressão, episódios de bullying e uma desconexão cada vez maior do jovem com a realidade foram mascarados habilmente por Dylan, que já registrava o desejo de por fim a própria vida dois anos antes da tragédia, como demonstrado em seus diários.
O que vemos é uma rota que detalha todo o processo que pode ter ocorrido com Dylan até seu extremo ato de violência e morte. E a culpa, remorso e a desintegração da família que ocorreu depois disso, e a luta de Sue atualmente na prevenção de suicídios. Alguns pontos, sobre seu arrependimento e culpa, aparecem por todo o livro e acabam se tornando repetitivos. Também é nítida a tentativa de Sue de justificar o injustificável, através das pesquisas e dados que recolheu, tentando aliviar um pouco o lado de Dylan na história, o que é impossível, como ela mesma cede ao final de cada raciocínio.
O que mais me tocou neste livro foi a necessidade passada por ela de comunicar e do leitor de praticar: devemos observar cuidadosamente nossos filhos e suas relações. Devemos questionar seu sentimentos, mesmo que eles não queiram falar. Devemos investigar seus atos, seu comportamento. E principalmente, devemos ofertar ajuda, mesmo que não solicitada ou até mesmo rejeitada.
Porque a fala mais contundente de Sue é que "o amor somente não foi suficiente". Seu luto é pelo filho e por todas as outras famílias. Uma tristeza sem tamanho.