Maria - Blog Pétalas de Liberdade 28/07/2016Recomendo! "- São vaga-lumes, vovó!
- Fale baixo, Ronaldo. Eles pensam que são estrelas.
- Bobagem! Eles não entendem o que estou falando.
- Nem eu estou entendendo. Será que sou um vaga-lume?
- Não, vovó. Você é uma estrela." (pagina 12)
Ao terminar o primeiro capítulo de "O romance inacabado de Sofia Stern", já imaginei que seria um livro que eu iria gostar, suposição que foi se confirmando a cada página lida. Na obra conheceremos Ronaldo (protagonista e autor tem o mesmo nome), um rapaz que cuidava da avó Sofia Stern com muito carinho, mas que estava preocupado com comportamentos atípicos que a senhora vinha apresentando (se bem que ela nunca foi uma pessoa comum, talvez por ter vindo para o Brasil fugindo dos nazistas no início da Segunda Guerra Mundial, mas só ela sabia quais traumas trazia da guerra, pois não gostava de falar sobre o assunto).
"Netos raramente conhecem os avós. Podem até ser seus cúmplices e amá-los de verdade, mas quase nunca suspeitam de mistérios que não tiveram condições de desvendar. Avós são esfinges porque ali mora mais do que alguém. Ali mora o tempo. Com minha idade, vovó já havia enfrentado vilões históricos, atravessado o Atlântico e se casado com o homem a quem daria uma filha em 1954. Uma epopeia!" (pagina 15)
Um dia, Ronaldo encontrou um diário de sua avó, e outros objetos suspeitos da época em que ela ainda não morava no Brasil, mas como ela se recusava a lhe falar claramente sobre esse período, ele resolveu pesquisar por conta própria. Pouco tempo depois, ele recebeu uma ligação de uma juíza alemã, informando que sua avó poderia ser a herdeira de uma grande quantia num processo que corria na Alemanha, mas ele teria que viajar para lá para representar a senhora. Sofia decidiu ir com o neto, e juntando as descobertas que ele faria nessa viajem com os escritos do diário, ele descobriria que a vida da avó foi surpreendente.
Aos 15 anos, em 1933, Sofia conheceu Klara, uma garota vinda do interior e que, talvez por isso, era a única da escola a não se importar com o fato de Sofia ter sangue judeu. As duas se tornaram amigas, mas para manter essa amizade com o passar do anos, teriam que enfrentar toda a segregação que estava sendo imposta pelos nazistas, e fariam coisas inimagináveis uma pela outra, ainda que em alguns momentos suas vidas se distanciassem por causa de suas origens. Klara, a modista talentosa, Sofia, a cantora nas noites, Klara e sua vida ariana de luxo e aparências, Sofia e sua vida no submundo. Amores, medos e sonhos, tudo isso compartilhado entre elas. Sofia veio para o Brasil e se tornou avó, mas como ela chegou até aqui? E o que aconteceu com Klara? Só lendo para saber.
"Vovó carregava culpas lancinantes desde a juventude na Alemanha. Quantas delas infundadas?" (pagina 187)
"O romance inacabado de Sofia Stern" é um livro que me surpreendeu muito, e que eu recomendo que vocês leiam! Foi uma leitura muito agradável de se fazer, tão boa e com uma escrita tão fluida que eu poderia ter lido o livro todo num único dia, mas interrompi a leitura para continuar no dia seguinte por ainda não estar preparada para me despedir dos personagens. Falando nos personagens, eles são tão vivos e com personalidades tão interessantes, que é como se eu estivesse vendo o Ronaldo, a Sofia, a Klara, o Hugo (irmão da Klara, ele tem um papel importante na trama) na minha frente! O quanto eles cresceram e se modificaram com o passar dos anos, as escolhas que tiveram que fazer, o quanto sofreram, o quanto amaram, e o quanto especialmente o Hugo acreditou e esperou e mudou, o quanto Sofia sofreu por coisas que não era culpada mas não sabia, o quanto Ronaldo foi capaz de ir atrás da história da sua avó, o choque que o final trouxe para ele e para nós.
Eu dei cinco estrelas para o livro, mas não o marquei como favorito por causa do final. "O romance inacabado de Sofia Stern" tem a mesma temática de outro livro da Editora Record: "Uma Praça em Antuérpia" escrito pela Luize Valente e publicado em 2015. Os dois se passam na época que antecede a Segunda Guerra Mundial, embora o de Luize continue no decorrer da guerra e o de Ronaldo fique apenas nessa fase antecedente; ambos trazem protagonistas idosas que tem seu passado desvendado, mas enquanto o livro de Luize tem um carga dramática maior, o de Ronaldo tem uma pegada bem mais divertida na forma como ele conta a história (e por isso vale a pena ler ambos), e traz uma esperança para o leitor conforme coisas improváveis vão acontecendo. E já que, por mais perigos que seus personagens tenham enfrentado, Ronaldo vinha mantendo-os vivos, eu esperava um final diferente (não tô dizendo que alguém morre no final, não tô dando spoiler, tá gente!), e aí veio um final que é bom e que deixa o Ronaldo personagem sem chão, mas que não precisava ser daquele jeito e que meio que dá um nó na cabeça da gente ao nos obrigar ver partes da história de outra forma. Talvez se eu não tivesse lido "Uma Praça em Antuérpia", eu poderia ter ficado satisfeita com o final de "O romance inacabado de Sofia Stern", mas como já li, não foi algo novo, o que não diminui o meu amor pelo livro de Ronaldo Wrobel, minha admiração pelo que ele escreveu e meu encantamento pela história de Sofia.
Sobre a edição: capa bonita e condizente com a trama, páginas amareladas, boa revisão, diagramação simples e com margens, letras e espaçamento de bom tamanho.
Enfim, fica aqui a minha recomendação para que leiam "O romance inacabado de Sofia Stern", um livro daqueles que a gente começa e não quer mais largar, de tão curioso para saber o que vai acontecer em seguida e o que o Ronaldo descobrirá sobre sua avó excêntrica. Uma leitura divertida e emocionante, da qual eu poderia falar por horas, mas acho que por hoje está bom, né?!
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