Evy 03/09/2017
Finalmente!
Finalmente posso dizer com toda a sinceridade que há um livro da Mary Balogh que não apenas me agradou, mas que virou um favorito da vida. Não me sinto mais uma ET neste mundo literário, amém kkk.
A jornada foi longa (7 livros dela até chegar a este), mas esse livro fez com que valesse a pena minha grande persistência e teimosia em não desistir de vez dos livros da Mary Balogh.
O que dizer desse livro para fazer jus a ele?
Sendo o sexto livro da série The Survivor’s Club, é de se pensar que obviamente esse livro focaria especialmente no membro desse clube: a Imogen, Lady Barclay. Mas na verdade quem rouba a cena desse livro é o querido e maravilhoso mocinho, Percival (Percy para os íntimos), Lord Hardford.
Que personagem bem escrito e particularmente adorável. Há uma grande evolução nele no decorrer do livro digna de acalentar o coração.
O enredo desse livro também foi algo extremamente satisfatório, muito bem construído, sem deixar de lado o elemento surpresa que foi tão bem trabalhado. Literalmente até os capítulos finais há coisas importantes a serem reveladas e incrementadas na trama.
Mas afinal do que o livro se trata?
Ao fazer trinta anos, Percy deveria estar extremamente feliz com sua vida, afinal, aparentemente ele tinha tudo. Mas ele não consegue se livrar de uma sensação de profunda melancolia que ele não sabe de onde vem, nisso, em meio ao torpor da embriaguez, ele resolve ir visitar a propriedade que ele herdou com o título de Conde dois anos atrás e que nunca antes havia visitado. Localizado na remota Cornwall (Cornuália), ele acreditava piamente que iria de encontro a uma propriedade caindo aos pedaços e tudo isso sem saber ao certo exatamente o porque que ele se sentiu compelido de ir para tal fim de mundo.
“Por que diabos ele tinha decidido vir aqui? Ele tinha tudo. Não. Ele tinha tido tudo. Ele não tinha mais. Faltava algo. Auto-respeito, talvez.”
Chegando, ele se depara com um panorama totalmente diferente do esperado. Uma propriedade razoavelmente bem cuidada, duas idosas vivendo confortavelmente na casa, inclusive uma das duas com uma grande disposição a não conseguir dizer não seja para animais como para pessoas debilitadas (fazendo da casa dele um verdadeiro abrigo kk) e Imogen, a viúva do filho do conde anterior (Percy era um parente distante do finado conde que acabou por ser o herdeiro mais próximo na linhagem familiar) que por algum motivo vivia isolada em uma pequena casinha nos arredores.
Imogen com seu passado doloroso é descrita pelo mocinho como “a mulher de mármore”, conforme vamos conhecendo tudo o que ela suportou e teve de fazer, a compaixão e simpatia, certas vezes inclusive admiração, é inevitável de nos acometer. Mas de cara ela e Percy não conseguem se bicar, o que nos rende bons momentos divertidos na narrativa.
“O tipo de pessoa mais abominável nesta terra”, disse ele, com os olhos estreitos, “é aquela que permanece calma e razoável no meio de uma discussão. Você é sempre calma, Lady Barclay? Você sempre é como um bloco de mármore?”
Ela levantou as sobrancelhas.
“E agora veja o que você fez”, ele disse a ela. “Você me provocou a cometer uma imperdoável rudeza. Novamente. Eu nunca sou grosseiro. Eu geralmente sou todo doçura e charme.”
“Isso é porque você geralmente está em um universo diferente”, disse ela, “um que gira em torno de você. A Península estava cheia de oficiais grosseiros e barulhentos que acreditavam que as outras pessoas tinham sido criadas para prestar-lhes homenagem. Eu sempre pensei que eles eram simplesmente bobos e era melhor ignorá-los.”.
E ela virou, a bendita, e começou a retroceder pelo caminho que eles tinham vindo.”
Percy a primeira vista é um completo dândi insensível, uma pessoa que conseguiu a proeza de evitar todo o lado feio da vida e não consegue compreender completamente as consequências de uma vida regada a tristezas, mas ele desabrocha. Seja pela Imogen, pelo fiel cão Hector, ou inclusive por ele mesmo... que já tinha todas as qualidades boas dentro de si e que por viver uma vida tão fácil em que não era exigido nada dele além de futilidade, ele não mostrava tudo de bom que tinha.
O senso familiar aqui, o elo entre amigos, a importância de um propósito na vida e de amor, foi tão bem entrelaçado nas palavras dessa história que ao ler esse livro o senti vivo, todos os sentimentos e reflexões que ele pretendia causar me acertando em cheio.
Essa é uma daquelas histórias que fazem bem para a alma ler, te deixa com um sorriso bobo no rosto pela felicidade tão merecida ser estampada no final. Um bálsamo para qualquer pessoa que tenha a necessidade de ter um vislumbre em uma história que apesar de todo o sofrimento pelo qual os personagens passam, no final a beleza da felicidade descrita acalenta o coração.
Quando um animal inesperado te escolhe e você não quer dar o braço a torcer...
“Quando uma pessoa se imagina caminhando sobre a terra de alguém com um cão fiel no calcanhar”, ele disse, “uma pessoa tende a imaginar um robusto e inteligente cão pastor ou algum outro tipo similar.”
Ela olhou para Hector. “Talvez”, disse ela, “quando um cão se imagina seguindo os calcanhares do seu mestre, ele retrata palavras amáveis e um toque gentil.”
Touché. Ela tinha uma língua afiada.
“Eu não sou o mestre dele”, ele disse.
“Ah,” ela disse, “mas quem escolhe?”
... quando você precisa ouvir certas verdades da vida...
“Meu marido morreu”, disse ela.
“Mas você não apenas lamenta”, disse ele, olhando o biscoito na mão como se ele tivesse acabado de perceber que estava lá e deu outra mordida. “Você também se recusa a continuar a viver.”
Ele era muito perspicaz.
“Eu respiro ar em meus pulmões”, ela disse a ele, “e expiro, constantemente.”
“Isso”, disse ele, “não é viver.”
“Do que você chama, então?”, ela perguntou, irritada. Ele não poderia pegar a dica e falar sobre o clima de novo?
“Sobreviver”, disse ele. “Apenas. Viver não é só uma questão de permanecer vivo, sabe? É o que você faz com sua vida por causa de sua sobrevivência que conta.”
... quando a felicidade te toma de forma inesperada e você não consegue descrevê-la com toda a exatidão...
“Ele era louco.
Eles eram loucos.
Ah, mas às vezes a insanidade parecia tão... libertária.”
... quando de novo você precisa ouvir verdades da vida devido a teimosia...
“Eu acredito”, ele disse gentilmente, “que todos nós temos o direito perfeito de nos fazer infelizes se for isso que escolhemos livremente. Mas não tenho certeza de que temos o direito de permitir que nossa própria infelicidade cause a infelicidade de alguma outra pessoa. O problema com a vida às vezes é que estamos todos juntos nela.”
... quando você se depara com uma linda declaração de amor, digna de um Frederick Wentworth...
“Imogen”, ele disse, “eu tremo em minha presunção ao tentar ganhar seu amor quando você amou tanto aquele homem. Mas eu não espero tomar o lugar dele. Ninguém pode tomar o lugar de outro alguém. Todos devem descobrir o seu. Eu quero que você me ame pela minha lamentável pessoa, a qual eu tentarei muito pelo resto da minha vida, dignificar para você e dignificar para mim. Eu posso fazer isso. Nós sempre podemos fazer qualquer coisa enquanto estivermos vivos. Nós sempre podemos mudar, crescer, evoluir para uma versão muito melhor de nós mesmos. É certamente para isso que a vida serve. Me dê uma chance. Me deixe te amar. Se deixe me amar. Eu vou te dar tempo se você precisar. Apenas me dê esperança. Se você puder. E se você não puder, então que assim seja. Eu deixarei você em paz. Mas por favor, tente me dar um definitivo talvez, se você puder.”
... como pode um livro assim não ser formidável?