nanda 23/01/2023
Quem inventou os triângulos amorosos? Peça para desinventar
Vamos falar sobre previsibilidade. É previsível que alguém como eu ? que sempre tem algo para dizer ? gastaria alguns bons minutos para vir até aqui dar algumas palavras sobre essa continuação. É previsível que muito não mudasse magicamente sobre a narrativa, personagens e escrita. E é também previsível que minha opinião não se alterasse tanto assim, mas tentarei falar sobre o que não foi tão previsível sobre Ônix.
A autora parece encontrar nesse livro um ponto de partida consistente para o Daemon, o que, confesso, é meio surpreendente. O personagem era basicamente descrito como o ser mais babaca existente, sem muito aprofundamento sobre suas motivações, o que era claramente incômodo. Não houve uma enorme mudança sobre a linha que foi tomada desde o início, mas é louvável que a autora tenha conseguido converter o personagem a alguém mais tolerável. Só é um pouquinho decepcionante que todas as hesitações fossem transferidas para a Katy. Ao invés de uma personagem não marcante e sem sal, ela se tornou uma personagem irritante.
A autora se mantém refém de todos os clichês possíveis. Dessa vez nos deparamos com o grande clichê do segundo livro: o triângulo amoroso. Não é por vezes um pouco peculiar como sempre surge o personagem secundário masculino super atraente, engraçado, interessante e que dá atenção a todos os assuntos que o verdadeiro interesse amoroso da personagem principal não dá? Ele é e faz tudo aquilo que o Daemon parece não ser capaz na visão da Katy, mas se você consegue somar 2 + 2 já percebeu que ele não é e nunca será o escolhido no final. Não é um spoiler, é aquilo que sempre foi: um clichê repetitivo. Me pergunto como a pessoa que colocou esse plot em prática pela primeira vez se sente ao ver que ele ainda se mantém tão em alta. Se você já se deparou com clichês o suficiente na sua vida, vai conseguir prever muito do que acontece nesse livro. Também é um pouco decepcionante como a autora descarta todo o desenvolvimento de alguns subplots que fariam os personagens mais interessantes. Tudo se mantém muitíssimo raso. Por exemplo, ela poderia fazer uma super filosofia sobre as paixões e falta de ambição da Katy, o porquê de ela ser tão fanática pela leitura e mesmo aos 18 não ter a mínima ideia do que quer. E há o início de uma tentativa sobre, mas muito curta. Como eu disse, decepcionante que ela não explore do que ela dispõe.
A escrita ainda é algo demasiadamente fácil e comum. A palavra babaca, tão exaustivamente repetida no livro anterior, foi substituída por "pulôver de capuz". Parecem vícios de linguagem que torna tudo com uma aparência muito pobre. Os adjetivos para personagens parecem algo muito limitado. E percebo agora que isso faz grande diferença na experiência que você tem com qualquer livro.
Para ser o mais breve possível e não dissertar o máximo que conseguir sobre falta de detalhes e os pontos negativos, como a falta de bom senso sobre o intervalo de tempo entre cenas e eventos, direi que foi imprevisível o pouco que a qualidade da trama melhorou. Realmente. Eu praticamente devorei a história e, apesar dos pesares, o enredo conseguiu me prender mais do que o livro anterior. Parece ter uma essência um pouco diferente de Obsidiana, esse parece ser um livro mais complexo e bem construído, uma história possível e que faz sentido.
No mais, essa continua sendo uma ótima saga para se passar o tempo se você não é muito exigente.