Nerdvino 31/07/2016Eleanor Rigby - The BeatlesAcompanhe o relato em primeira pessoa de Lexie, uma garota de 18 anos que ao começar a escrever um diário a pedido de seu terapeuta como forma de exercício para expressar seus sentimentos retraídos, acaba descortinando os limites sobre tristeza, desilusões, pesares, felicidade reprimida e esperança.
Contudo, e o mais importante de tudo, atente-se para a depressão, porque ela é silenciosa e arrebatadora.
O livro faz parte da série Darklove da editora Darkside e com seu enredo belíssimo e sem sentimentalismos baratos a escritora Cinthya Hand, nos conduz através de um caleidoscópio de emoções contraditórias, mostrando que a beleza existe nas coisas mais simples, e que todo momento é tempo de consertar as coisas.
Desculpa, mãe, mas eu estava muito vazio
Como dito acima O Último Adeus, de Cinthya Hand, nos transporta para o cotidiano pós suicídio do irmão de Lexie, fato já explorado nas primeiras linhas do livro, sem menções aos motivos ou explicações por trás desse ato.
O livro transcorre dia após dia, mostrando o que um ato isolado pode causar na vida das pessoas, desde as mais próximas até as que não possuem relação direta com o ocorrido.
Chamo a atenção para a sutileza da narrativa, ao abordar um assunto pesado com tamanha delicadeza, no entanto, sem perder a mão e deixar descambar para o rio de lágrimas das lamentações.
Temas como abandono, solidão, tristeza, conflitos internos, necessidade de aceitação, primeiros amores e todas as suas consequências boas ou não de todos esses sentimentos são deixados claros à mostra de qualquer um em seus detalhes e como moldam as atitudes e propiciam desculpas para as fugas da realidade muitas vezes implacável.
"O perdão é confuso, Alexis, porque, no fim, tem mais a ver com você do que com a pessoa que está sendo perdoada."
Agora o tema que permeia o livro, a depressão, silenciosa que abate sem deixar rastros e que envia sinais discretos. Uma viúva negra que oferece beijos de Dementador e não deixa ser notada, leva aos poucos a felicidade, o ânimo e a vontade de ser e estar. Muito julgam ser frescura, preguiça ou corpo mole, mas muito pelo contrário é algo que deve ser tratado porque mata de verdade, todos os dias se não tratada. O enredo explicita isso claramente, demonstrando que quando ela chega é difícil notar e quando é notada é tarde demais e arrasta todos no entorno para dentro desse turbilhão de confusão e falta de atenção devida.
Tyler, irmão de Alexis, que comete o suicídio deixa uma declaração somente, a de que estava “muito vazio”, com o decorrer do livro percebemos que se trata justamente do contrário. Acredito que nosso coração é como uma caixa e possui um limite, quando chegamos ao ponto de sentir esse vazio é porque já temos tantas coisas dentro do peito que deixamos de caber lá dentro e é aí que o perigo mora, dependendo da quantidade de coisas, magoas, rejeições, medos, inseguranças, não há volta para casa nesse caminho entulhado de coisas, nesse momento nos perdemos e já era, não há um caminho feliz para casa.
“ As pessoas que amamos nunca se vão realmente”
Recomendo a leitura de olhos fechados e abertos, muitos assuntos são tratados de forma adorável, a superação, recuperação e como saímos de situações de improvável sucesso, compensam toda a leitura e nos deixa com saudades assim que a última linha surge.
Uma experiência única e que acaricia quem deseja sair da zona de conforto e conhecer pessoas simples, criveis e que sofrem assim como eu e como você.
Por fim, deixo vocês com a música que escutei escrevendo essa resenha: I Better Be Quiet Now by Elliot Smith.
Música linda, a letra combina com o clima do livro, linda e devastadora e infelizmente há um ponto coincidente com Tyler, Elliot Smith também se suicidou.
Façam um favor a vocês e leiam esse livro, absorvam tudo de bom que ele honestamente compartilha e aprendam que cada última palavra, gesto ou ação podem de fato ser o último contato.
Bom dia, boa tarde e boa noite!