Confissões de uma leitora 07/10/2017
Reflexivo!
Distopias, em geral, acabam trazendo uma forte crítica social que, infelizmente, nem todos que lêem param para refletir sobre ela, por “n” motivos, dentre eles um bem comum, condicionamento padronizado, onde a atenção seletiva fora treinada para dar atenção ao que é fútil e, simultaneamente, excluir de seu campo de visão as coisas importantes das quais, se déssemos a devida atenção, a vida de todos seriam diferentes... para melhor. Twain diz que somos a única criatura que causa dor por esporte, com consciência de que isso é dor. Isto super cabe aqui!
Dayanne Fernandes traz uma história cresce diante dos nossos olhos, mantendo o suspense sempre a borda, bem como a curiosidade é alimentada com doses homeopáticas acumulando uma miríade de questões pertinentes. Quando você pensa que já aconteceu de tudo, que já sabe de tudo e nada mais te surpreende... BUM! A história se desdobra e te choca com os novos acontecimentos. Este é um enredo muito bem elaborado. Adorei como se construiu e evoluiu, e como aconteceu a integração e desenvolvimento de novos personagens, os quais tiveram importantes papeis no desenrolar da trama.
O romance ficou em segundo plano, porém merece uma atenção, pois era uma das coisas que estava curiosa para saber como a autora iria desenvolver sem se perder do foco da história central (o que sabemos ser fácil de acontecer), mas, Graças a Deus, não aconteceu. Dayanne foi super feliz, sem pressa, passo a passo, sutil, e quando aconteceu, foi expressivamente natural. Não desfocou. Dosado e equilibrado.
Também houveram momentos que fizeram meus olhos molhados e o coração tão pequeno... Camille é uma guerreira. É incrível como tiramos forças dos momentos mais fúnebres, que até aquele momento desconhecíamos, na força imensurável da esperança. E somente somos capazes disso porque temos um motivo. Isto é tudo que precisamos para fazer a diferença, para mudar nossas vidas e transformá-las: um motivo que nos impulsiona.
Há uma riqueza de detalhes que me proporcionou uma visão clara dos ambientes, mesmo a atmosfera, pessoas e os sentimentos.
Maaaaaas, voltando à mensagem da história...
Temos orgulho da racionalidade e da consciência que nos difere dos animais e nos coloca no topo da cadeia alimentar. Porém, me pergunto, de que isso adianta se a usamos de formas tão estúpidas, as quais acabam com nós mesmos?
Quando o único ser que pode destruir o homem e tudo que habita na Terra é o próprio homem? Quando vemos que ele não poupa esforço para tal feito, alimentado por seu ego, ambição e vaidade? E, pior, com o consentimento dos demais? Porque se você não faz nada para melhorar o mundo, você contribuiu para que ele seja destruído por seus iguais.
Quem realmente são os selvagens aqui?
Quem realmente são os tolos nessa equação?
Por que é tão difícil para nós pensar e agir em prol do coletivo? Qual a necessidade de complicar uma equação tão simples? Somos mesmo bondosos? Ou apenas mascaramos nossa natureza cruel porque a roupagem da bondade é mais aceitável ainda que sejamos conscientes da ilusão por detrás disso? Por que não enfrentarmos nossos problemas de frente, ao invés?
Percebo que não há vergonha para ser ambicioso, prepotente, e às vezes até mesmo grosseiro, mas parece haver uma forte vergonha em agir com humildade e ser solidário.
Isso me traz tantas questões e vergonha... Eu sei, é uma história, uma ficção, mas é uma história, uma ficção não tão distante de nossa realidade doente.
Usamos muito o “não sou obrigada” ou “não é problema meu”.
É problema seu, meu, nosso, SIM!
As consequências de nossas atitudes afetam a todos. É uma rede contínua, e me deixa chocada que com toda essa racionalidade, inteligência e consciência, nós criamos e alimentamos um círculo vicioso que nos destrói pouco a pouco a cada dia.
Bem, Dayanne, nem preciso dizer que terminei o livro com uma sensação de pesar, e claro, WTF! Mulher, como assim???? Enlouqueceu??? Não pode!!!!!
Finalizo com uma sensação de nostalgia do caramba!