DRK 08/02/2022
A vida é uma só e o destino é inexorável
As Crônicas de Arthur: O Rei do Inverno | Análise ?
Além de um excelente historiador, Bernard Cornwell é um fantástico escritor de romances históricos tendo alcançado milhares de fãs que ovacionam suas obras? e não atoa.
Esta trilogia é narrada por Derfel Cadarn (Cuja pronúncia correta, do galês, é Dervel), um monge idoso que conta a história de quando ele era um jovem saxão criado por Merlin, que tinha o desejo de ser um guerreiro e um dia conheceu Arthur, o maior homem que já viveu; Derfel escreve sobre Arthur em segredo, dizendo que na verdade se trata de uma cópia do evangelho para o saxão pois a história de Arthur não deve ser contada por algum motivo; é nesse contexto histórico do século V, na Grã Bretanha, que conhecemos a ?verdadeira? historia do mito.
O mais interessante deste livro é o quão surpreendente ele foi para mim, eu sabia que se tratava de uma história densa e que tentava por o Rei Arthur num contexto real mas não imaginava o quão divertida essa história poderia ser! Estou falando de piadas, diálogos hemorrágicos, intrigas políticas gostosas de se acompanhar, viradas inesperadas e mais, BATALHAS INCRIVELMENTE BEM NARRADAS!
Alguns devem lembrar da minha crítica ferrenha ao Martin nesse sentido, em Cornwell eu encontrei o extremo oposto, o homem tem um talento nato em descrever nos mínimos detalhes, desde as longas horas que uma parede de escudos poderia durar com suas batalhas lentas porém desesperadoras até pequenas intercessões como a terra molhada atrapalhando a movimentação de tropa e de como o suor, sangue, fezes e urina permeiam um campo de batalha.
Isso é um espetáculo do livro mas os momentos de diálogos não ficam para trás, ele sempre adiciona algo que irá levar a trama pra frente e ao mesmo tempo irá desenvolver seus personagens, que como eu já disse, são o ouro que carrega qualquer história.
Derfel, Nimue, Gallahad, Arthur, Merlin, todos são personagens carismáticos e com histórias próprias e motivações próprias, não só fazendo a história andar como também levando ela pra diferentes destinos, cada ato tem sua consequência ou no ato ou com o vim do tempo.
E apesar de Derfel e Nimue serem meus favoritos, eu não posso deixar de fazer um parênteses para falar sobre o Arthur:
Arthur Ap Neb, bastardo de Uther Pendragon e general de guerra da Drummonia; esta versão de Arthur é de longe minha favorita, Cornwell o descreve como um homem bondoso, que quer a paz acima de tudo mas que sempre demonstra que assim como todos os homens, possui pecados, e o maior deles é o orgulho.
Arthur não quer apenas a paz da Britânia, ele quer ser o algoz dessa paz, e prefere lutar com unhas e dentes por isso, levando homens a morrerem por ele se for preciso a dar a si próprio por essa paz.
Apesar do orgulho ele ainda é possivelmente o personagem com mais virtudes, carregando a Caledwich (ou Excalibur pros mais íntimos) e ganhando a lealdade máxima de seus homens com seu carisma e entusiasmo.
E Derfel é seu seguidor, fiel e esforçado, o garoto de Merlin é um protagonista extraordinário, chegando ao ponto de me fazer pesquisar mais para saber se ele de fato existiu (spoiler: existiu sim) e até esquecer de Arthur; Conhecemos o passado de Derfel, sua origem poderosa quando criança e de como foi crescer em Tor, também conhecido como Ynys Wydryn (Avalon para os mais íntimos), sua paixão por Nimue e a lealdade a Arthur e a todos que o inspiram de alguma forma.
Aos 15 anos Derfel teve a chance de matar alguém, depois daquilo ele conseguia se ver com ainda mais facilidade sendo um guerreiro; seu povo foi cercado por um exército e ele ficou dentro de uma parede de escudos vendo sua morte de perto (primeiras de muitas vezes) e nesse dia ele viu Arthur pela primeira vez, foi naquele momento que seu desejo de ser um guerreiro começou a se realizar e sua vida mudou por completo, pois ela é uma só e o destino é inexorável.
Nota: 10/10, rei absoluto!