Nan ® 24/10/2020
#RIPCursed!
Quem desconhece a lenda do Rei Arthur – sim, prefiro o Arthur com "h", do inglês – e os Cavaleiros da Távola Redonda? Ou o celebre Merlin e a, vez ou outra citada, Morgana? Cresci sob essas histórias, meus primeiros contatos com a fantasia, meus primeiros fascínios com a fantasia antes de o Senhor dos Anéis, quando sequer me aventurava pela literatura; lembro-me até de desenhos, jogos e brincadeiras com meus amigos: Merlin, Arthur, Lancelot... os memoráveis em qualquer idade.
Recentemente, graças ao livro e à série Cursed – dona Netflix! –, respectivamente nessa ordem, a curiosidade de desvendar mais desse universo maquinava nos meus sonhos e anseios mais discretos, mormente devido às revoltas com o livro – a série fez-me ler o livro, e o livro fez-me não assistir à série, só para variar!
Mas a Nimue, confesso somente saber da famosa Senhora do Lago, por este nome, mais recentemente, ou Guinevere revigoraram esse interesse de criança no meu peito – sequer lembrava de ouvir Guinevere quando criança, embora vez surgia um Derfel aqui e ali.
Questionava-me tantas coisas. Quem diabos foi essa Nimue, afinal? Quem é Arthur? Por que cada história aborda Arthur duma maneira tão parecida e ao mesmo tempo tão diferente? Qual o reflexo mais parecido da realidade, embora ainda lúdico dessa lenda?
Tantas questões, saciadas em O Rei do Inverno (sequer acreditei quando li as primeiras páginas e ponderei: "Essa obra tem potencial", e antes de cinquenta páginas indagava-me: "Por que diabos nunca conheci esse autor antes?", “O que estou fazendo com a minha vida literária?” – pois bem, fui um pouco dramático agora!).
Bernard Cornwell... simplesmente fenomenal. Já anseio todos os livros dele, já ansiava tais e concedera cinco estrelas a O Rei do Inverno antes mesmo de findá-la!! A imersão que tive com essa obra foi surreal, em todos os aspectos. Não distingo defeitos, e isso é tão estranho quando dialogo com meu senso crítico.
Simplesmente incrível, e repito outra vez, incrível!
A pesquisa e, mormente, a interpretação dos fatos e a mão de Bernard Cornwell sobre essa lenda foi-me sublime, asfixiante, impecável. Notar-se-á o amor, a paixão do autor por contar esse tipo de história, está implícito. Quando fazemos o que amamos profundamente, ninguém faz melhor: isto é visível nesta obra, Bernard Cornwell não somente ama ler, escrever e pesquisar sobre a história, como torná-la quer inteligível quer atraente para que outros também amem o que ele ama. E eu amei.
É monstruoso, surreal e inspirador sentir isto implícito numa obra: o quanto o autor ama o que faz, e faz-nos amar até mais do que ele, pelo que ele faz.
Isto posto, consinta-me alguns últimos comentários, mais voltados à obra em geral – pois estou borbulhando insanamente para contá-los!!
Resumo As Crônicas de Art(h!)ur da seguinte maneira: uma biografia de Derfel, em que narra (devido ao pedido da nossa amada senhora! Ah, deus! Ainda me sinto tão dentro dessa obra!) a lenda de Arthur como ela foi.
Se desgosta de biografias, duma narrativa com certo distanciamento, talvez desgostará dessa proposta, mas ainda recomendo arriscar-se, valerá cada segundo do seu tempo.
Derfel é um narrador magnífico. Naturalmente, ser-nos-á bom na maioria das suas passagens e reconhece erros pequenos, humanos até. Logo, não sabemos muito se sua parte da história reflete o que realmente adveio, até porque sempre está evidente a astúcia de Derfel até em manipular os fatos narrativos (com justificativas cabíveis – mas não irei me prolongar sobre, embora tentadíssimo! Droga, essa obra é muito boa!!).
Em suma, a magia não passa das artimanhas humanas nessa obra, e certa indiferença à magia e às passagens épicas por Derfel cativaram-me insanamente. Sentir-se-á a lógica do narrador, de quem presenciou infindos combates durante a vida toda, não necessariamente pelo prazer – ah, eu e aquela vontade de prolongar-se a esse respeito!
Já o sarcasmo e a inteligência narrativa de Derfel são como o vinho; até presumo que renovarão o gosto da fantasia no seu interior, caso o sinta fraquejar aos poucos.
Derfel, portanto, é-nos um personagem e narrador amável. (Maldição, realmente quero ler o próximo volume. A história de Ceinwyn espanca-me aqui!!)
O que nos leva à nossa amada senhora, Igraine! Igraine é majestosa, incrível, perfeita: por vezes faz as mesmas perguntas que eu, o leitor, quereria fazer a Derfel. Essa cartada de, entre as partes, ambos conversarem foi um dos ápices à parte da obra. Ela e Derfel juntos renderam-me ótimas gargalhadas, devo pontuar. Creio que a curiosidade de Igraine, às vezes, tornou-se a minha, como no caso de Ceinwyn! – depois de toda aquela história com certa pessoa, eu ainda estava com um pouco de fé, eu e a minha fé... eu e a minha fé...
Nimue foi sensacional do começo ao fim, mormente no fim!!! Louca, forte, inteligente, arrojada, guerreira, maníaca... tudo que conseguir imaginar e mais um pouco, certamente uma das personagens que mais nos apegamos a obra inteira.
Merlin, entretanto, certamente é um dos melhores personagens, mas sem piegas! – ah, ele e Derfel... senti até pena de Derfel!!! Peculiar como nenhum outro, Merlin é o mais louco – no bom sentido, embora nem tanto!
Arthur, contudo, sempre o incrível Arthur com “h” das nossas histórias tão conhecidas e carismático que até dói, mas a narrativa de Derfel... a maneira que ele vê Arthur, a língua sutil... houve algum atrito entre ambos, descobriremos nos próximos volumes, certamente houve... para ele narrar uma das pessoas que mais gostava sob aquelas sutilezas no olhar – mera especulação aqui, embora duvide que seja apenas “mera”. Houve, impossível não haver... é como se pudéssemos ouvir Derfel articular-nos no pé do ouvido que devemos preparar-nos para o apocalipse, porque ele chegará.
Isto posto, Arthur não somente um dos personagens mais interessantes ou cativantes quanto o pilar da obra inteira, tal como em toda a obra ele acaba tornando-se, com ou sem as pequenas sutilezas "humanas" de Derfel sobre o seu senhor!
Morgana... gostei dela, gostei muito, devo dizer... creio que sou apegado a personagens estranhos e peculiares. Espero vê-la mais no próximo volume, mas Nimue apaga qualquer um mesmo que sequer posso culpar o autor por isso!
Agora o Lancelot... Bernard Cornwell, o Lancelot... seu Lancelot, Bernard Cornwell!! HÁ! HÁ! HÁ! Apenas leia, sequer comentarei. Deveras, o melhor e o mais brilhante personagem da trilogia!!! (isso dará tanta merda, não é, Guinevere?!). Sério, que obra maravilhosa.
Enfim, prolonguei-me demais aqui, mas estou tão empolgadíssimo que poderia prolongar-me por mais dez horas e sequer perceberia, melhor interromper esta resenha agora.
Foi, certamente, um dos melhores livros que li em 2020, recomendo sempre.
Abraços!
P.S. o meu “#RIPCursed” alude que, diferente da resenha que fiz dessa obra, não lerei a continuação, tão somente isso, sem querer depreciar a obra muito menos uma série que mal assisti.
Agora, com a sua licença, Bienal 2020, aqui vou eu!