Acervo do Leitor 02/02/2018
Meio Rei – Trilogia Mar Despedaçado #1 | Resenha | Acervo do Leitor
Existe certo preconceito ou pré-conceito quando se fala em livros YA (Young Adult – ou Jovem Adulto em tradução literal). Muitos fãs torcem o nariz porque é comum encontrar dentro deste nicho, romances adolescentes, amizades com pouco embasamento, personagens rasos, violência restringida, baixa complexidade na criação do mundo, uma linguagem mais acessível, entre outras coisas. Isto é ruim? Não! Claro que não, mas é obvio que um leitor um pouco mais experiente em Fantasia, FC e demais gêneros, muitas das vezes prefere um livro mais robusto, sem restrições quanto à sua classificação etária. E “usa” os livros YA como uma válvula de escape entre leituras mais complexas.
“Conversas só geram problemas. – Nada levantou a espada. – O aço é sempre a resposta… O aço não elogia nem faz acordos. O aço não mente.”
Para quem já leu a trilogia A Primeira Lei, é difícil acreditar que o autor Joe Abercrombie, com toda sua pompa sonora e sarcástica, temas pesados e descrições com alto teor de violência entre no ramo dos YA. Meio Rei, primeiro livro da trilogia Mar Despedaçado vem para confrontar esta dúvida, afirmar Joe como um dos grandes autores de Fantasia da atualidade e até mesmo busca agregar componentes dentro do gênero.
“Um bom rei sacrifica tudo para vencer e esfaqueia quem for preciso, como puder. O grande guerreiro é o que ainda respira quando os corvos se refestelam. Um grande rei é o que observa as carcaças dos inimigos queimarem. Que o Pai Paz derrame lágrimas com relação aos métodos. A Mãe Guerra sorri com os resultados.”
Meio Rei foca suas atenções em Yarvi, segundo príncipe de Gettland, filho do temido rei Uthrik e da respeitada rainha Laithlin. Yarvi possui deficiência em uma das mãos, deficiência esta que lhe causa muitos reveses dentro de um reino onde guerreiros precisam de todas as armas de que possam usufruir. “O Aço é sempre a resposta”. Com isto, o jovem príncipe, dotado de uma inteligência considerável, vê seu futuro traçado a ser um Ministro – espécie de conselheiro para reis e rainhas. Mas, quando seu pai e seu irmão são alvos de uma emboscada e mortos pelos seus inimigos, Yarvi precisa assumir o trono e governar um reino da qual nunca imaginou que pudesse fazê-lo. Provações, Intrigas e traições espreitam a cada esquina, levando Yarvi a um caminho de dor e sofrimento.
“Quando você tem um fardo, é melhor carregá-lo do que chorar.”
Não vou entrar em mais detalhes quanto a história. O grande ponto a ser destacado no livro é a capacidade de transição do autor. Como mencionado acima, Meio Rei é enquadrado como Fantasia YA, mesmo que em alguns momentos você duvide disto. Sua linguagem é sempre muito irônica e sarcástica, Yarvi é um rapaz amargurado pela sua deficiência e pela maneira de que todos ao seu redor o tratam. Há uma boa dose de batalhas e elas são bem exploradas em suas descrições, com direito ao rolar de cabeças e ao sangue quente escorrendo por entre as mãos frias do agressor. Não podemos deixar de lado um dos grandes méritos da obra, suas reviravoltas. A cada 50 páginas, aproximadamente, tudo muda, os ventos sopram para caminhos diferentes daqueles inicialmente previstos, e em suas últimas páginas somos tragados para dentro de uma tempestade, onde o turbilhão de revelações acaba nos deixando sem fôlego.
SENTENÇA
Meio Rei é indicado para TODOS os amantes de uma boa história, independentemente de seu gênero ou classificação etária. Para quem já conhece o trabalho de Joe Abercrombie, sabe que seus personagens são em grande parte memoráveis e nutridos de frases marcantes. Você irá sorrir, você irá sofrer e ao final ficará surpreso com a capacidade que o autor tem de agregar tantos sentimentos dentro de um livro com pouco menos de 300 páginas: medo, raiva, tristeza, superação, amizade, regozijo e vingança.
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