Lids 20/08/2016[Resenha] HunterSe você gosta de Supernatural, talvez você deva conhecer os Caçadores de Santa Fé!
Eu logo de cara gostei do universo e a mitologia do livro. Acho que o modo com que foram penadas todas as famílias de caçadores, como se relacionam uns com os outros e com as outras criaturas, foi muito interessante. Fiquei curiosa em saber onde tudo ia chegar e descobrir logo tudo.
Com relação à narrativa da história, achei que tiveram algumas expressões usadas pelos meninos que foram desnecessárias, expressões como “deixa de ser bichinha, mano” são extremamente antiquadas e reforçam homofobia. Não concordo com o uso dessas expressões apenas para parecer mais real, sem uma problematização e um pensamento crítico. Além de que tem cenas que são infantis demais, que os meninos não podem nem dar as mãos que dão risadinhas de “vamos virar gays agora”, isso é desnecessário! Eles poderiam apenas revirar os olhos, como adolescentes normais, eles poderiam fazer tantas outras coisas que também mostrassem o quanto estão odiando essa situação…
O fato de tanto a Sara quanto o irmão Jason terem uma vida romântica bem ativa e só ela ser orientada a mudar de atitude é preocupante e essa diferença poderia ter sido comentada. Fora que ainda é contraditório o Nick se preocupar que os meninos falem da Sara enquanto ele ri do comentário de Jason de que tem uma menina que “é só comida”. Quer dizer, você não gosta que falem da sua amiga, mas fala dos outros? Você é parte do problema, amigo.
A autora me justificou essa situação de que esses diálogos existem porque a maioria dos personagens são homens e vivemos numa sociedade machista e que ela quis retratar a realidade. Eu acho que isso não a exime de responsabilidade em discutir sobre isso, em fazer os personagens questionarem, com uma frase que seja!, se isso era o certo a fazer, principalmente em um livro para jovens. Quando um ator coloca isso num livro para jovens, pessoas que ainda estão em formação, e não discute esses temas, acaba sendo conivente com uma cultura problemática, e isso não ajuda ninguém. Senti que esse livro precisava de uma escrita mais madura e consciente de seu público.
Minha última observação sobre a narrativa/escrita é que tem alguns detalhes que parece que faltaram ser pesquisados. Santa Fé, Novo México, é nos Estados Unidos… Eles não deveriam falar inglês misturado com espanhol? Ou só inglês? Faz sentido a família do Jason ser de lá, porque obviamente Blake é um sobrenome bem americano. Mas daí todos falarem em espanhol? E ainda falarem português? É no mínimo estranho. Eu precisava de mais explicações para entender o que estava acontecendo…
Outra coisa é que não existe teste de gravidez que seja realizado em tão pouco tempo quanto foi no livro… Eu posso acreditar em lobisomens, vampiros, fadas, sereias, mas você não pode inventar do nada que um teste de gravidez de farmácia vai comprovar alguma coisa com apenas poucos dias após o sexo. Isso é simplesmente irresponsável.
Outra coisa que não gostei é o excesso de “vilões”. É importante que o leitor sinta um perigo iminente, que sinta medo dos personagens malvados na história, mesmo que eles tenham um motivo para serem maus. Existem vários “vilões” nessa história: o pai da Sara e do Jason, o Ramon; o Walter, chefe da Academia de Caçadores; a Sereia e o Capanga dela; os Monstros…
E pra mim, o problema de ter tantos vilões é que no final, você não sente medo de nenhum. O Ramon, que é o culpado de todos os problemas dos personagens, e quer a morte da Sara e do Nick, em determinado momento é vitimizado e parece que a autora quer que sentimos pena do que ele tá passando, mas depois de toda a maldade que ele faz, não consegui sentir pena. Dá pra entender a história dele, mas ele não é bonzinho só porque tem um passado triste. Todo mundo pode ter um passado triste e nem todo mundo vira mal.
O Walter é um vilão que a gente sabe que ele tá o tempo todo armando alguma coisa e mentindo, e só no final entendemos que ele é malvado de verdade, mas o plano todo dele parece um acaso, parece que tudo aconteceu sem querer e ele acabou conseguido o que queria. A Sereia é uma vilã que ninguém esperava. No início, ela aparece em flashbacks, aí de repente descobrimos que ela também está no presente e querendo matar todo mundo rs. Parece OUTRA história completamente diferente e eu fiquei meio “que??”, esse arco todo e o plano de vingança dela é tão à longo prazo, com tantas coisas que poderiam dar errado, que parece trabalhoso demais para ser real. E os Monstros… tipo quê monstros? Eles passam mais tempo brigando uns com os outros do que com os caçadores, eu acho.
Eu acho que muita coisa ser melhor explicada, sobre quanto tempo Ramon ficou fora e como os dois Jason e a Sara ficaram esse tempo todo sozinhos tendo apenas 16 anos. Faltou também termos uma noção de tempo sobre os fatos da história, em todos os momentos, não sabemos quanto tempo se passa e pode confundir as pessoas. Faltou a ideia ser melhor explorada, adorei a premissa do livro, da Academia de Caçadores e que cada tipo de Caçador tem uma função nesse sistema é incrível, poderia dar uma ótima história, mas vamos com calma. Acho que talvez se ele livro fosse mais introdutório e menos ousado, com apenas um vilão a ser redimido ou humanizado, teria mais tempo para explicar como tudo funciona, teria encontrado menos furos no roteiro e gostado mais.
Além disso, achei também que houveram cenas pesadas demais, cenas de sexo e estupro que poderiam ser menos detalhadas. Eu pessoalmente não recomendaria para jovens com menos de 16 ou 18 anos.
Recomendado para fãs da série Supernatural, quem gostou de Inquebrável (Kami Garcia) e Filha da Tempestade (Richelle Mead).
Disclaimer: Como o livro que os blogueiros parceiros receberam da autora não estava na versão final, pedi aprovação da autora para publicação e ela confirmou que os detalhes que critiquei estão todos na versão final do livro.
site:
https://cacadorasdespoiler.wordpress.com/2016/08/20/resenha-hunter-o-cacador-de-monstros-kate-willians/