allanpatrick 30/11/2016
Sakamoto tem que agir como escreve
Antes de mais nada, para que não fique mal entendido e imaginem que sou um troll anti-sakamoto, esclareço que adquiri três exemplares desse livro, um pra mim, dois para doá-los à biblioteca pública da universidade onde estudei (UFRN). Além disso, sou contribuinte mensal da ONG Repórter Brasil, dirigida por este fantástico jornalista.
A minha primeira bronca com a obra é o jeito "isentão" de Sakamoto de lidar com a crise atual (2014-2016 & continua). Diz que o radicalismo atual não é produto do radicalismo de direita mas de um "monstro que foi alimentado pelos dois mais importantes partidos políticos brasileiros" (pág. 10 da minha edição).
Minha segunda bronca é com sua abordagem crítica em relação ao bolsa família (pág. 44), como se este não fosse um dos programas com maior massa crítica de dados e pesquisas acadêmicas acumuladas mostrando sua eficiência. Sua crítica ao bolsa família parece ser dirigida a agradar o leitor de classe média alta carregado de preconceitos contra o programa.
Mas tem mais, Sakamoto arruma tempo pra bater palma pros programas sociais do governo FHC (pág. 111) e ataca o PT por ser muito "pragmático", por fazer alianças políticas de conveniência (sem indicar qual seria a alternativa? Fechar os poderes legislativos?), mas ao mesmo tempo acusa o PT de ser culpado pelos radicais de direita serem como são! (pág. 112).
Mas não para aí, apesar de ele atacar o PT por seu "pragmatismo", ele condena quem se recusa a atender aos grandes meios de comunicação (o popular "PIG") e recomenda ser mais pragmático no trato com a imprensa (pág. 59; curioso, qual a diferença entre o PP de Maluf e uma TV que desvia R$ 1 bilhão em sonegação?) e coloca em segundo plano a questão da democratização dos meios de comunicação.
Pra mim, o autor, por quem tenho imenso respeito como profissional, saiu menor deste livro.