Naty__ 26/09/2016Às vezes me sinto a maior crítica literária da espécie (no sentido mais chato possível), outras vezes me sinto a boazinha (o que não ocorre com certa frequência). Tenho tido leituras balanceadas este ano, ora muito boas, ora mais ou menos e tinha ficado por aí. Até pegar O ar que ele respira e despencar de vez na balança.
Tenho lido diversos elogios sobre a obra. Leitores afoitos por Tristan (infinitos), outros por Elizabeth (poucos), mas o fato é que Cherry tem arrebatado corações por aí afora. É claro que li resenhas negativas, porém, fico imaginando se eu sou o problema em enxergar tudo exagerado e forçado demais ou se o livro realmente é assim – em alguns (longos) pontos.
Quando li a sinopse imaginei que a leitura seria emocionante do início ao fim, afinal, quando o assunto é perda dificilmente uma obra não consegue nos tocar profundamente. Não vou dizer que a história não teve nenhum ponto positivo, pois teve sim – não o suficiente para arrebatar mais um coração.
Elizabeth precisa seguir sua vida após a morte do seu marido; Tristan não é diferente, está passando pelo mesmo processo por ter sofrido duas grandes perdas – e ele se culpa muito por isso. Como lidar com uma dor? Como superar uma perda irreparável? É difícil responder mesmo quando passamos por isso. Ninguém está preparado para a morte. Ninguém está pronto para lidar com uma ausência eterna.
Decidida a enfrentar as lembranças de seu casamento, Elizabeth decide voltar ao seu antigo lar. Chegando à pequena Meadows Creek, ela não imagina que se depararia com seu novo vizinho, Tristan, e que um sentimento estranho poderia surgir – um cara fechado, grosseiro, solitário e com um semblante sempre abatido.
Quando a protagonista tem a oportunidade de se aproximar dele, ela percebe que por trás desse homem frio e insensível, existe uma pessoa devastada e com marcas de perdas profundas. É aí que a comunicação de ambos ganha força e o que tinha tudo para ser uma simples confusão acaba se tornando um sentimento tímido naqueles corações.
Embora um relacionamento bem clichê, estava preparada para me emocionar pelo motivo do contato do casal. Acontece que a história toma um rumo que me fez ficar desgostosa pela obra. Não queria mais saber do livro, de Tristan, de Elizabeth – eles chegaram a um ponto que eu não queria mais saber. Mas fui atrás do desfecho.
Tristan sente falta de sua esposa, é claro; Elizabeth sente a falta do seu marido. Porém, um sentimento entre eles começa a nascer e a necessidade do contato físico é notório. Qual a coisa comum a ser feita nesse caso? Acreditem se quiser, mas eles fazem o que não é o comum (penso eu). Um deseja que o outro seja o morto (consegui ser clara?). Elizabeth pede para Tristan ser o marido morto. Ela deseja olhar para ele com as roupas de Steven, com o pensamento e com o olhar no falecido. Assim como Tristan deseja o mesmo.
Não concordo com a narrativa desenvolvida para essa lógica, nem tampouco com a cena que me deixou horrorizada. Mas o que posso fazer quando o rumo muda e não acontece o que esperamos? Não posso julgar os personagens, apenas não aceitei que tudo poderia ocorrer com aquela facilidade.
Algumas cenas me pareceram forçadas, como o momento do sequestro e o seu desfecho. Assim como alguns diálogos entre os personagens principais. Não posso afirmar que a obra apenas tenha pontos negativos, como disse. No entanto, o único ponto positivo presente na história não foi o suficiente para brindar com mais do que duas estrelas. Sinto muito, senhora Cherry, mas comigo não funcionou.
Como tem muita gente gostando da obra, acredito que valha a pena tentar a sua vez e ver se funciona com você. Adianto que eu não sou fã de romances, então minha crítica possa ter ido além do normal, mas não deixei de ser justa. Não vou pintar um desenho bonito de que gostei da história sendo que não foi isso que senti. Jamais mentiria, caro leitor.
Quotes:
“(...) — Se esse garotinho fosse tudo que te restasse no mundo, você iria querer saber se ainda resta uma esperança, certo? Você imploraria a alguém que te dissesse o que fazer. Como fazer. O que você faria?”.
“— Às vezes, acho que as pequenas recordações são as piores. Consigo lidar com as lembranças do aniversário dele e até do dia em que ele morreu, mas quando as pequenas coisas vêm à tona, como o modo como ele cortava a grama, ou ele pegando o jornal só pra ler as tirinhas, ou fumando charuto na véspera do ano-novo...”.
“Nós dois estávamos em mundos separados, feitos de nossas pequenas recordações, e, ainda assim, conseguíamos sentir a dor um do outro”.
“Gostava de me lembrar dos meus pecados através das dores do meu corpo. Eu adorava me machucar. Mas só a mim. Adorava me ferir. Ninguém mais precisava sofrer. Fiquei longe das pessoas para não machucar ninguém. Machuquei Elizabeth, mas não foi de propósito”.
“Talvez eu sempre acabasse machucando as pessoas. Talvez por isso eu tenha perdido tudo o que tinha”.
“— Não, é que você sempre está com um livro na mão. É inacreditável que não tenha lido Harry Potter. Era o favorito do Charlie. Acredito que existem duas coisas no mundo que todos deveriam ler, porque ensinam tudo sobre a vida: a Bíblia e Harry Potter”.
“Às vezes, a pior parte de existir sem a pessoa que amamos é ter que se lembrar de respirar”.
“Primeiro, me apaixonei pela ideia. Me apaixonei pela ideia de que um homem me faria rir e chorar novamente. Eu me apaixonei pela ideia de alguém me amar, mesmo estando tão despedaçada, com meu coração em cacos”.
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