Os melhores poemas de Gregório de Matos

Os melhores poemas de Gregório de Matos Gregório de Matos




Resenhas - Os melhores poemas de Gregório de Matos


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Sarah 10/07/2019

A poesia irreverente
Gregório de Matos é considerado, pela maioria dos críticos, o primeiro poeta verdadeiramente brasileiro. Ele viveu no Brasil colonial, no século XVI; nasceu na Bahia – a temática baiana está presente em muitos de seus poemas –, filho de um nobre português, pertencente a uma família que possuía muitas terras. Estudou em Portugal, na Universidade de Coimbra, e, depois de formado em Direito Canônico, retornou ao Brasil, onde viveu até o final de sua vida.
Gregório é conhecido também pelo apelido “Boca de inferno”; a razão de tal denominação é visível em seus poemas: sua escrita era satírica, subversiva e obscena. Assim como o próprio poeta, que já desobedeceu ordens da coroa e abandonou a vida clerical.
O poeta, porém, não publicou nada impresso em vida. “Impressos muitas vezes desde o século XIX, todos [seus poemas] são apógrafos” (HANSEN, 2014). Tudo o que temos do autor nos dias atuais é um compilado se considera de sua autoria. A razão de tal ausência da preocupação do autor com o pertencimento de seus poemas deve ser analisado historicamente: no Brasil seiscentista, não havia a mesma distinção que fazemos hoje de “autoria” e “direitos autorais”. Nesse cenário, o poeta não se preocupou em deixar uma coletânea registrada, nem de publicar nada.
Mesmo que ele seja considerado como pertencente ao Barroco europeu, a escola a qual Gregório pertenceu não é muito clara, já que não havia produção literária real no Brasil do séc. XVI – essa produção sufocada encontra sua razão em vários fatores, sendo um dos mais sintomáticos a proibição da coroa que houvesse gráficas no Brasil.
Em seu poema nomeado postumamente “Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa” é possível observar tanto o cenário baiano quanto o modo debochado com que descreve as estruturas de poder. É preciso analisar, também, o contexto em que o poeta viveu: a colonização portuguesa ainda ensaiava seus primeiros passos, explorando o Brasil com o ciclo da cana-de-açúcar e importando escravos africanos.
Os poemas de Gregório de Matos são permeados pela franqueza: nos satíricos, não se acanha ao dizer de forma crua e chocante; nos religiosos, admira a Jesus com devoção, nos líricos, é permeado por uma questão existencial.
Seus poemas são dotados de ritmicidade e sua forma – soneto, entre outros – varia bastante, o que pode ser explicado com a oralidade com que seus poemas eram proclamados. Apesar de não ter sido encontrado nenhuma compilação de Gregório acerca de seus próprios textos, é presumível que ele os escrevia, dado ao planejamento de sílabas e rimas intrínsecos aos seus textos.
Mesmo que não seja totalmente correto considerar Gregório como um poeta pertencente ao movimento barroco, é certo afirmar a forte influência de seu estilo sobre o poeta. O período barroco, que permeia a poesia europeia – e potencialmente o de suas colônias – do século XVI e XVII, refletiu na arte as contradições de seu tempo. Em 1517 iniciou o movimento da Reforma Protestante por Lutero, influenciado pelas ideias renascentistas e pelo crescente poder da burguesia. Não se pode deixar de destacar também os impactos das grandes navegações. Tudo isso influenciou o homem europeu a criar o barroco, um movimento artístico de contradições – o súdito leal da Idade Média sendo substituído pelo progressista reformador, dois espíritos em oposição.
O poema nomeado “Rompe o poeta com a primeyra impaciencia querendo declarar-se e temendo perder por ouzado” fica muito claro a dualidade barroca que permeia a sua obra: descreve a mulher como metade anjo, metade demônio. Outro exemplo claro da sua contradição barroca é criticar a Igreja e então ir pedir perdão a Cristo por meio de um poema lírico – o que já se relaciona intimamente com a temática central religiosa do barroco.
Suas palavras eram sem dúvidas chocantes na época – o que pode ter contribuído para sua fama, de ser lembrado postumamente mesmo sem publicar nada – e até os dias atuais, conforme se pode notar pela tentativa de sua censura na época da ditadura militar ( HANSEN, 2014).
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