Renata 31/08/2016
Seria Henry Walker um Eragon brasiliano? Não, Henry tem um toque bastante original.
"Ele sentia que tinha nascido para algo maior, para realizar feitos importantes e audaciosos, mas seu velho pai não o compreendia..."
Henry Walker é um jovem zelador que vive em Greenland onde ele limpa todos os dias, estábulos de dragões, o que é até irônico tendo em vista que o maior sonho de Henry é algum dia se tornar um cavaleiro de dragão. Mas a história tem muito mais de um protagonista, e a trama não se resume apenas ao sonho de Henry. Greenland é um reino onde todos vivem sob um maldição, nenhum dos habitantes do reino é capaz de sonhar exceto Evangeline Lince. Evangeline sempre foi para todos os moradores do reino apenas uma fábula folclórica, mas na verdade Evangeline sempre foi real e dorme profundamente em uma câmara subterrânea no castelo do Rei de Greenland, lá ela pode sonhar para quem sussurrar em seu ouvido qualquer coisa e até mesmo determinar quem vence uma guerra, mas o despertar da princesa não é algo a se considerar já que isso oferece perigo aos cidadãos de Greenland. Dreamler, o senhor do palácio de fumaça e ossos nas terras não povoadas, o motivo pelo qual os cidadãos de Greenland não sonhavam nunca, é uma espécie de ladrão de sonhos, digamos assim, ninguém tem certeza do que ele é de fato, mas todos sabem que é por causa dele que são impedidos de sonhar. Ao saber da existência concreta de Evangeline Lince, Dreamler vai em busca dela, ou melhor, em busca de todo o poder que ela oferece e se apropriando desse poder Dreamler colocaria um fim a todo o reino de Greenland.
"Ela entendera que merecia mais. Ela queria uma vida normal, queria deixar aquela Câmara escura para a qual voltava. Queria, principalmente, deixar de ser sozinha o tempo."
Mas em meio a tudo isso o cavaleiro de dragão Morten Quelix chega um dia ao estabulo em que Henry trabalha e despeja uma história absurda sobre ele: Evangeline Lince é real, dorme em algum lugar do reino de Greenland e precisa de proteção porque os soldados do Dreamler estão tentando invadir o reino. O garoto acha graça, afinal para ele Evangeline Lince é somente uma lenda, mas Morten o convence que não, ela é mesmo real e eis que então naquela mesma noite depois de absolver toda a história que seu amigo lhe contou, Henry tem pela primeira vez um sonho, e este é com Evangeline Lince. A partir daí Henry acaba entrando para aquela que se prova ser sua primeira e grande aventura e a aventura que determina o seu destino, ele se torna uma peça muito importante na proteção da princesa Evangeline e do reino de Greenland de forma geral.
"Mas Henry Walker havia passado a vida inteira, seus dezessete anos, esperando por aquela oportunidade de fazer algo mais do que apenas limpar estábulos. Ele queria ajudar Evangeline não só porque sabia que ela só podia contar com ele por enquanto, como também porque era a chance dele de viver uma aventura, de correr um risco verdadeiro."
Além disso temos os príncipes de Greenland: Peter e Aprilyne. Peter é o filho mais novo do rei, um rapaz bastante centrado, um ótimo guerreiro ao se ver com uma espada na mão e o segundo sucessor do trono de Greenland, enquanto Aprilyne é a filha mais velha e herdeira futura do trono, mas em suas horas vagas a princesa participa de competições de magia, claro, sem que o Rei saiba. As competições de magia são eventos para a plebe, mas isso não é algo com que a April parece se importar, Peter sim se importa e sempre dá um jeito de boicotar a irmã em seus duelos de magia subornando o responsável pelo evento para que ele coloque como dupla da princesa algum oponente fraco. Mas em um certo dia, Peter não consegue esse feito e April ganha um oponente bastante peculiar, que faz ela se questionar sobre tudo o que ela sabe sobre magia, porém, como uma grande aventureira, Aprilyne não abre mão do duelo e acaba dando um desfecho inesperado a ele, desfecho esse que a faz ter que fugir do local da competição.
"Seja forte, você é uma feiticeira. A magia está em você e não em sua voz, reaja."
Em meio a tantos pensamentos e ainda em fuga April tem um imprevisto em sem caminho de volta ao castelo e se vê em perigo, e então Henry Walker e seu amigo Morten cruzam o caminho da princesa. Nenhum deles sabem no momento, mas acabariam tendo uma grande aventura ao lado uns dos outros, descobrindo segredos, lutando pela vida e por todo o reino de Greenland, mas não se engane as aventuras nem sempre trazem somente coisas boas, elas também são capazes de quebrar e mudar coisas dentro de nós.
Cada página virada para mim foi nostálgica, eu me vi em um reencontro com Eragon, mas isso não deve ser uma comparação, o livro traz essa lembrança mas é na verdade algo bastante autêntico. Uma prova viva de que não deve haver um balanço entre literatura estrangeira e nacional, todos os autores são autores, e um autor nacional (nesse caso, uma autora) tem tanta capacidade de produzir uma história fantástica como qualquer outro de qualquer lugar do mundo, já se passou do tempo em que só era possível encantar e iniciar na leitura uma criança ou adolescente utilizando clássicos da literatura brasileira. Nota-se também que a autora não escreveu um livro para agradar ao público, talvez isso seja mesma uma consequência, mas é possível sentir que a autora escreveu aquilo que ela quis de fato escrever e que agradava à ela, o resultado disso foi uma história fantástica em todos os seus sentidos.
As Crônicas de Henry Walker é uma aventura com dragões falantes, bruxas e elfos, mas que além disso, nos faz sonhar e que nos mostra através de seus personagens que não devemos aceitar simplesmente o destino que parece nos pertencer, que devemos lutar pelos nossos sonhos e nunca nos contentar em permanecer aonde estamos e da forma como estamos, se soubermos que podemos ser melhores, se soubermos que podemos transformar algo a nossa volta em algo muito melhor, devemos ousar tentar.