Lilian_89 05/09/2020
Fim da Guerra de Tróia
A peça se inicia com o vigia do palácio, sentinela, em seu posto aguardando por notícias da guerra, absorto em pensamentos, demonstra apreensão sobre as possibilidades de derrota e felicidade sobre as possibilidades de vitória.
Enquanto devaneia, a sentinela acaba por ver ao longe se acender os fogos de aviso e entende o recado: a guerra acabou e os gregos saíram vencedores. Seu amo, o rei, está voltando para casa.
Tendo visto os fogos se acenderem dando notícias do fim da guerra, a sentinela corre para o palácio a fim de avisar a rainha, Clitemnestra, da vitória do rei Agamenon.
Sem saber ainda das notícias, o coro entra em cena com comentários sobre a guerra, seus motivos e razões e acontecimentos ocorridos anteriormente à saída de seu rei Agamenon. O coro crê na legitimidade da guerra e crê ser possível a vitória de Agamenon, pois os deuses favorecem os justos.
É importante mencionar que, para conseguir zarpar com seus exércitos para a guerra, a Agamenon foi solicitado um sacrifício. Artemis esconde os ventos e não permite aos barcos de Agamenon zarpar para Tróia. Para conseguir de volta os ventos, o Oráculo diz a Agamenon que ele deverá sacrificar a filha, Ifigênia, aos deuses, só assim os ventos retornariam e ele e seus homens poderiam finalmente navegar.
Em dúvida sobre o que fazer finalmente Agamenon se decide por cumprir o Oráculo e sacrificar a própria filha, o que de fato devolve os ventos, e ele e seus homens enfim, embarcam e vão para a guerra.
Quem não fica nada satisfeita é a esposa de Agamenon, Clitemnestra, que se revolta pela morte da filha e, em seu âmago, promete vingança.
A guerra de Tróia dura 10 anos, ou seja, por 10 anos Clitemnestra se viu como rainha e governou a cidade e o palácio sem a presença do marido. Nesse tempo, outra vingança tem lugar, a do filho de Tiestes, Egisto, que se vinga de Atreu em nome do pai, ao se tornar amante da esposa do filho de Atreu, Agamenon, enquanto este está na guerra junto ao irmão em Tróia.
Continuando a peça, a rainha se dirige ao altar para realizar suas orações, ela já foi informada do fim da guerra pela sentinela do palácio. O coro a vê e se dirige a ela, tendo visto movimento nos templos com inúmeras honrarias aos deuses, o coro a questiona sobre o motivo desse movimento repentino.
Inicialmente, Clitemnestra não responde às indagações do coro. Então, um dos anciãos avança e comenta sobre a guerra, sobre o sacrifício de Agamenon e a participação da deusa Artemis. O ancião ainda narra como Agamenon assassinou a filha Ifigênia em honra aos deuses para que pudesse seguir para a guerra.
Nesse momento, Clitemnestra encerra suas orações e se dirige ao coro e anciãos, ode é questionada pelo corifeu e lhes conta as boas novas: notícias recém-chegadas da vitória de Agamenon e queda de Tróia.
Clitemnestra explica o motivo do movimento na cidade e de suas orações aos deuses e conta sobre as notícias de que Tróia foi conquistada e sobre o fim da guerra e a vitória de seu esposo.
O coro dá sinais de não acreditar nas notícias de fim da guerra e vitória dos gregos, dando sinais de crer serem tais notícias somente a manifestação do desejo da rainha e não fato real que Agamenon venceu e retorna à Pátria:
"Em breve saberemos se o revezamento de chamas claras e fogueiras sinaleiras nos transmitiu um fato, ou se foi sonho apenas essa visão de luz, engano dos sentidos" Coro.
Ao longo da peça o cora delibera e pensa sobre a possibilidade da notícia da rainha ser ou não verdadeira, e, juntamente com o corifeu agradecem aos deuses pela vitória e falam sobre a justiça ter sido feita contra aqueles que violaram a lei da hospitalidade. Pedem prudência aos vencedores, que honrem os deuses e prestam homenagens aos soldados mortos que lutaram.
O coro ainda não crê totalmente na notícia e Clitemnestra pede cautela, pois o sinal é de que a guerra foi ganha, faltam ainda os desafios do retorno para casa:
"A luta não termina com a vitória; falta
a volta, que é metade de um longo caminho.
Ainda que regressem todos de mãos limpas,
sem máculas de excessos e de impiedades,
o ultraje aos numerosos inimigos mortos
se não causou ainda amargas decepções
mais tarde pode provocar rancor divino."
Clitemnestra.
Coro continua duvidando das notícias até que o arauto chega à cidade, dando notícias do retorno de Agamenon e vitória contra Tróia. O arauto pede que se preparem festas na cidade para a chegada do rei que se aproxima, ele conversa com o corifeu, lamentando as perdas da guerra e as tempestades que interferiram em seu retorno.
Assim, o corifeu finalmente acredita do fim da guerra e vitória do rei Agamenon. Clitemnestra então sai do palácio e fala aos presentes que irá iniciar os preparativos na cidade para o retorno do marido, ela se diz uma mulher fiel que permanece a mesma desde que o marido se foi.
Podemos perceber a ironia na fala de Clitemnestra, pois como sabemos, ela traía o marido com o filho de Tiestes, Egisto, entretanto, em seu discurso se diz mulher honesta e fiel, fingindo demonstrar felicidade pelo retorno do marido.
“Retorne sem demora!” Nada mais desejo,
pois a cidade é dele e o quer de volta já.
Que venha ao lar e veja a companheira honesta
como a deixou, zelosa, igual a cão fiel,
maior amiga dele e inimiga máxima
dos que lhe querem mal, a mesma esposa em tudo,
durante tanto tempo guardiã atenta
de quantos bens ficaram sob o seu cuidado.
não conheci prazeres vindos de outros homens
e nada sei de intrigas e maledicência
(tais coisas são para mim totalmente estranhas)"
Clitemnestra.
Após seu discurso, Clitemnestra se retira e retorna ao palácio deixando o coro e o arauto a sós conversando sobre o fim da guerra e as notícias de Agamenon e seu retorno. Corifeu e arauto conversam, o arauto elogia o discurso da rainha enquanto que o corifeu parece duvidar de suas palavras. Acredito que nesse momento o corifeu interpreta a falsidade da rainha, pois o corifeu diz ao arauto:
"são para tua informação essas palavras,
mas quem as ouve e as interpreta retamente
conclui depressa que elas são todas malévolas."
Corifeu.
Arauto então conta ao corifeu os desafios do retorno, o mar agitado, a fúria que dispersou e afundou muitos barcos matando diversos homens afogados. É questionado sobre o retorno de Menelau, irmão de Agamenon, porém dele o arauto não tem notícias.
Em seguida, o arauto se retira e temo a chegada do rei Agamenon, que chega em seu carro as portas da cidade tendo consigo uma mulher, Cassandra, escrava tomada como amante do rei.
Ao recepcionar o rei, o coro faz menção ao fato que em breve se verá quem de fato lhe foi fiel durante todo o tempo que esteve fora, o que nos faz refletir sobre o discurso de Clitemnestra e sua recepção à Agamenon.
Chegando às portas da cidade, Agamenon então saúda a cidade e os deuses que o protegeram e permitiram seu regresso e é recebido pela esposa, Clitemnestra, que sai do palácio para encontrar o marido retornado.
Clitemnestra em seu discurso de recepção do marido diz que ansiava pelo seu retorno e demonstra ser uma esposa fiel e saudosa, revela seu medo da derrota do marido e de sua morte se mostrando como uma esposa carinhosa e fiel. Conta que enviou o filho, Orestes, para ser criado em outro reino por temer a derrota do marido explicando que o enviou para protegê-lo, caso Tróia ganhasse a guerra e os escravizassem.
Em honra ao marido, Clitemnestra pede que as criadas que estendam mantos de cor púrpura ao chão para Agamenon adentre a cidade pisando em solo digno de um rei. Podemos apreender um duplo sentido nesses tapetes, pois, Clitemnestra diz ser algo para honrá-lo, entretanto outro sentido possível pode ser o de que, com tal prática, Agamenon se vê privado de pisar de fato em sua terra, uma vez que seus pés não tocam o solo da cidade.
Agamenon de início não aceita a honraria de sua esposa e se nega a entrar na cidade e no palácio pisando em tais mantos luxuosos temendo assim desagradar os deuses, demonstrando humildade. Os dois dialogam até que Agamenon decide aceitar a honra de sua esposa e aceita, mesmo que a contragosto, entrar em sua terra pisando os mantos luxuosos estendidos em sua homenagem.
É interessante notar que, para Agamenon, tais honrarias eram dignas apenas dos deuses, e sua recusa a aceitar se devia ao receio de provocar a ira divina, pois ele sabe que um mortal não deve aspirar honrarias dignas dos deuses, um mortal não deve se comparar aos deuses.
Após ceder aos desejos da rainha sua esposa, Agamenon retira suas sandálias e se dirige ao palácio em pés descalços sobre tapeçaria púrpura. Ele ainda apresenta à sua esposa, sua companheira de viagem que estava junto a si em seu carro, Cassandra, concubina e troféu de guerra.
Cassandra era considerada a mais bela flor de Tróia e foi tomada por Agamenon como troféu de guerra, se tornando sua concubina. Cassandra era profetisa em Tróia, se tornou profetisa após tentar enganar Apolo para ter o dom da vidência. Foi então punida por Apolo a ter o dom da vidência, porém jamais alguém iria acreditar nela.
Agamenon e Clitemnestra, juntamente com as criadas, entram no palácio e deixam Cassandra a sós com o coro. O coro então dialoga com Cassandra e tenta fazer com que ela desce do carro e siga o rei e sua esposa para dentro do palácio, cumprindo seu papel humildemente.
O coro deixa entrever certo medo de algo desconhecido, não crê na tranquilidade do retorno do rei, pois sente na alma que algo ruim está para acontecer. Demonstra apreensão. Quando então inicia conversa com Cassandra.
Corifeu consegue convencer Cassandra a descer do carro e ir para o palácio, porém Cassandra primeiramente conversa com Apolo, clama ao deus pois tem uma visão terrível. Ela vê sua própria morte naquela cidade, além da morte do rei Agamenon.
Cassandra então profetisa a morte de Agamenon em breve e diz ser a punição, pela morte e decapitação de tantos homens. Ela vislumbra em sua visão o assassinato de Agamenon pelas mãos da esposa em uma banheira de banho.
Para convencer o corifeu de sua previsão, Cassandra conta em detalhes os crimes da casa de Atreu, desde Tântalo até os filhos de Pélops. Corifeu confirma como corretas as lembranças de Cassandra, dos crimes dos antepassados de Agamenon, porém não entende a previsão da morte de Agamenon pelas mãos da esposa, Clitemnestra.
Cassandra também profetiza a vingança pela morte de Agamenon e lamenta as tragédias que viu em sua vida: a queda de Tróia, e agora a queda de Agamenon. Por fim, acaba aceitando seu destino e, despedindo-se do corifeu, se dirige ao palácio.
Após Cassandra entrar no palácio, coro e corifeu ouvem gritos de alguém sendo morto. Percebem ser gritos de Agamenon e deliberam junto aos anciãos o que poderá ter acontecido. Anciãos e coro discutem o que fazer: ir ao palácio verificar o que estava acontecendo ou aguardar notícias. Nesse tempo de discussões, Agamenon é morto junto a sua concubina, Cassandra ambos mortos pelas mãos da rainha Clitemnestra.
Nesse tempo de indecisão, abrem-se as portas do palácio e os anciãos podem ver os corpos de Agamenon e Cassandra aos pés de Clitemnestra, além das mãos manchadas de sangue da rainha.
Clitemnestra não nega seu feito, assume o assassinato e se mostra orgulhosa de tê-lo feito. Acredita ter vingando a morte da filha, assassinada por Agamenon para que ele conseguisse atravessar os mares em direção à Tróia. Discursa ao coro e corifeu sobre seus atos e diz que a justiça foi feita, assim, Clitemnestra não crê ter alguma culpa, pois estava em seu direito de vingar a filha morta.
Nesse momento aparece Egisto, que conta como participou da trama para assassinar Agamenon e informa ter parte na vingança de Clitemnestra, porém Egisto se vinga em nome do pai, Tiestes, humilhado e ofendido pelo pai de Agamenon, Atreu.
Corifeu discute com Egisto e o critica por não ter sido ele capaz de cumprir sua vingança ele próprio, tendo usado uma mulher para cumprir seus desejos de vingança. Egisto é então chamado de mulher, como uma ofensa, pois o mesmo não teve a hombridade de assassinar Agamenon com as próprias mãos.
A discussão vai ficando cada vez mais acalorada até que ambos, Egisto e Coro decidem passar o conflito de apenas bate boca para as vias de fato, porém são impedidos por Clitemnestra, que afirma que sangue o suficiente fora derramado. E assim se encerra a primeira peça, onde Agamenon é morto pela própria esposa, que acredita ter vingando o assassinato da filha.