Jim do Pango 03/07/2010
Eagle Bearer
Em que pese a irritante morosidade da Editora Record no lançamento das edições brasileiras dessa série monumental de Bernard Cornwell, o velho Richard Sharpe aparece em grande forma em A Águia de Sharpe.
De fato, no ritmo atual de lançamentos, que não supera dois volumes por ano, na mais otimista expectativa, o leitor brasileiro será obrigado a aguardar mais 08 (oito) anos, antes de poder contar com toda a série em sua prateleira, em edições no bom e velho português falado deste lado do Oceano Atlântico.
No início, os intervalos entre os lançamentos dos livros dessa série registraram curtos períodos entre uma, por assim dizer, aventura e outra. Até que vieram as Crônicas Saxônicas que venderam bem mais e, portanto, tiveram prioridade em relação Às Aventuras de Sharpe. O argumento mercadológico é compreensível e mesmo razoável, entretanto não me convence, pois de todas as séries de Cornwell, essa, para mim, merece grande destaque.
Segundo os amigos do Bernard Cornel Brasil (http://bernardcornwellbr.vilabol.uol.com.br/), o mais famoso site dedicado às obras de Bernard Cornwell no Brasil, logo na capa ocorre um erro, por certo que os eventos ali descritos dizem respeito à batalha de Talavera, ocorrida em Julho de 1809, na Espanha e, não, em Maio de 1809, em Portugal, conforme a inscrição desta primeira edição. Considero que este é um detalhe que não compromete o enredo de mais essa aventura de Richard Sharpe.
Aqui encontramos um Sharpe mais maduro, conscio das responsabilidades do oficialato e exercendo sua liderança de forma marcante, não apenas em relação ao destacamento de Fuzileiros que lidera desde os eventos ocorridos um ano antes em Portugal (A Devastação de Sharpe), como em relação ao próprio exército inglês. Isso fica claro na forma com que o personagem se revela aos inexperientes soldados de um regimento que fica sob o seu comando.
Esse novo Sharpe, tão distante do soldado raso que lutou em Assaye e foi o flagelo do Sultão Tipu, nos tempos em que serviu na Índia, me faz lembrar bastante outro grande personagem dos romances históricos: John Blackthorne.
O piloto Blackthorne, inglês como Sharpe, conhecido como Anjim-san é o protagonista de Xógum. Ao que me pareceu os dois guerreiros, que, na ficção, viveram em épocas diferentes, possuem perfis muito parecidos. Gostaria imenso de perguntar ao senhor Cornwell se, por acaso, ele não buscou inspiração em James Clavell para compor o seu personagem.
Claro que Blackthorne é um tipo mais refinado que Sharpe, que como a maioria dos soldados que se alistavam no Exército Real no século XIX, pertencia à escória da sociedade e não teve educação formal. Inclusive, uma das dificuldade que Sharpe teve que superar para se tornar oficial foi a alfabetização tardia. Blackthorne, era versado em várias línguas e só parecia realmente um bárbaro quando comparado aos japoneses do século XVII, que viviam em uma sociedade muito mais limpa e organizada que a européia.
Na obra em comento, Sharp, a não ser pelas suas origens humildes, que ainda o distinguem em relação aos demais oficiais de carreira, que pertenciam à nobreza inglesa – e talvez pelos seus modos – já é reconhecido como um oficial completo pelos seus comandados, ainda mais que, suas qualidade na arte da guerra são indiscutíveis.
Estimo no caminho que o levará à Waterloo, gradativamente, e cada vez mais, Sharpe irá se tornar ainda mais parecido com o Anjim-san de Clavell.
O curioso é que ambos, Sharpe e Blackthorne, foram vividos por atores consagrados em séries de televisão: este por Richard Chamberlain (1980) e aquele por Sean Bean (1992 a 2008).
No mais o que se vê é um romance histórico bem ao estilo Cornwell, com muita ação e precisão nos detalhes históricos. As descrições dos uniformes militares da época são maravilhosas e o enredo é muito envolvente.
A meu sentir, outro destaque da obra são as circunstâncias que envolvem um dos pilares do enredo, que é a captura de uma Águia de “La Grande Armée”, o exército conquistador da Europa de Napoleão Bonaparte, pelo protagonista. Antes de sabermos se ele vai conseguir ou não realizar a façanha já se pode antever que nas pouco mais de 300 (trezentas) páginas do livro estão reservados momentos da mais pura e vibrante ação.
Agora é torcer para a Record fazer a sua parte o quanto antes. Longo e tortuoso é o caminho até Waterloo.