Resenhas -

Flávia Menezes 24/06/2021

Nem todo o dinheiro do mundo, nem uma bela manhã em um café em Paris, podem substituir a presença de alguém que amamos.
A primeira vez que eu tive contato com “Me Before You” (em português traduzido para: “Como Eu Era Antes de Você”) de Jojo Moyes, foi nas telonas do cinema. Eu não conhecia nada da história, então eu me sentei naquela sala escura, e me permiti ser tocada pela trama que prometia muito romance, mas também muitas lágrimas.

A história me tocou bastante, até chegar ao seu final. Enquanto os outros saíram com os olhos molhados de tanto chorar, eu saí do cinema boquiaberta, pensando: como, em sã consciência, a autora pode escrever um final tão absurdo assim?!! Depois que o filme saiu das telonas, e foi para as telas da tevê, na privacidade da minha casa, ainda assisti ao filme incontáveis vezes, me permitindo sentir coisas novas com essa história, muito embora a minha indignação permanecesse sempre a mesma.

Por curiosidade, li o próximo livro, “After You” (em português traduzido para “Depois de Você”) mesmo antes de ler o primeiro, pois eu precisava saber como essa história continuava, e apesar de não ter gostado tanto da nova trama, eu me senti confortada pelo fato de que a autora também tinha os mesmos pensamentos que eu. Me senti compreendida, na minha incompreensão quanto ao final do primeiro livro da trilogia.

Antes de falar sobre a história, porque eu preciso dizer onde a autora trouxe acalento à minha indignação, eu preciso falar sobre a escrita. Através desse livro eu percebi o que realmente me encanta em uma história. Acredito que o meu lado psicóloga sempre está presente durante as minhas leituras, e eu gosto de conhecer as personalidades, e de “ouvir” o que os personagens pensam ou sentem, por eles mesmos. E sabe como isso é possível? Através dos diálogos! E da narrativa que mostra o que está acontecendo, ao invés das descrições sobre o pensar sobre o que está acontecendo. E nesse quesito, Jojo Moyes é um verdadeiro gênio.

Seus personagens foram construídos com tamanha maestria, que tenho que admitir que são mais cheios de vida do que muitas pessoas reais com quem converso. Eles saltam das páginas! Cada um tem a sua personalidade muito bem definida, única, e seus diálogos são tão ricos, inteligentes e muito reais. São tão perfeitos que chega a doer! Sem contar o quanto é belo perceber que a autora não estava preocupada se sua história viraria ou não um filme no futuro. Ao contrário, sua escrita é deliciosa, primorosa, e também, desinteressada. Ela permitiu se transformar em uma interlocutora das vontades de seus personagens, e assim, ela lhes permitiu viver intensamente através de cada página. E foi exatamente isso que essa história foi: intensa!

Louisa Clark é um personagem apaixonante, por ser exatamente essa pessoa de personalidade simples, porém autêntica. Ela pode não ser uma personagem com a vida que gostaríamos de ter, mas certamente é aquela com a sensibilidade que gostaríamos de ver em cada pessoa com quem nos relacionamos, e também em nós mesmos. E que mundo belo teríamos se fôssemos mais como a Lou!

Quanto ao Will.... o que dizer dele? Para mim, por mais incrível que a senhorita Clark seja, ele é a essência dessa história. Ele se permite, em sua vida tão provada pela dor, sair um pouco desse seu universo tão angustiante, para dar a Louisa tudo aquilo que ela precisava: presença! E não existe nada nesse mundo que possa ser mais precioso em uma relação do que uma pessoa que está verdadeira e incondicionalmente presente! Alguém assim nos faz sentir que estamos realmente sendo ouvidos, sentidos, e principalmente, apreciados mesmo nos detalhes mais ordinários da nossa vida. E é aí que o Will se torna, mesmo nas limitações de um homem quadriplégico, o homem dos sonhos de qualquer mulher. Isso sem contar o quão gentleman ele é. Impossível visualizar o Will sem pensar na voz forte, e nas expressões marcantes do rosto do Sam Caflin.

Quando disse que me senti compreendida pela autora, ao ler a sequência de “Me Before You”, é porque ela não me decepcionou tentando provar que uma viagem para Paris, ou que todo o dinheiro do mundo, podem substituir a presença do Will na vida da Louisa. Foi ele quem a fez se sentir verdadeiramente olhada, ouvida e apreciada em sua vida tão simplória. Por mais belas que sejam as experiências da vida, especialmente aquelas que o dinheiro pode pagar, a verdade é que a vida sempre será vazia se não tivermos com quem dividir essas experiências. É outro quem valida a nossa vida. E sem esse outro... nada somos.

Mesmo que você já tenha visto o filme incontáveis vezes como eu, espero que acredite em mim quando digo que ler o livro é como ter uma nova experiência. Fico feliz de constatar que os produtores do filme foram fiéis ao livro, mas mesmo assim, a leitura é um momento único, e podemos experenciar de uma maneira nova os belos sentimentos que essa história nos proporciona.

Espero ainda poder encontrar outras histórias assim: tão bem escritas e repletas de emoções tão sensíveis e ao mesmo tempo, tão intensas.