F. Pierantoni 11/08/2011FeiosDepois que terminei, maravilhado, o livro Jogos Vorazes, de Suzanne Collins (Editora Rocco), mergulhei de imediato numa busca por outra obra de perfil semelhante. Deparei-me então com Feios (Editora Galera Record), escrito por Scott Westerfeld. Futuro pós-apocalítico? Confere. Uma cidade opressora? Confere. Um governo que força adolescentes a fazerem algo que não pode ser recusado? Confere. Feios parecia ser o livro que eu procurava, e, naturalmente, minhas expectativas para ele cresceram. O que foi uma pena.
Na trama de Feios, a humanidade já não existe como a conhecemos hoje. Depois de alguma catástrofe desconhecida, nossa civilização quase que desapareceu. Restaram apenas alguns grupos isolados de pessoas, vivendo em cidades futurísticas, rodeadas por florestas selvagens e ruínas antigas. Como forma de gerar estabilidade, equilíbrio e justiça entre a população, é costume que, aos dezesseis anos, cada cidadão dessas comunidades passe por sua primeira cirurgia plástica, que o transformará de seu estado natural considerado feio à categoria de perfeito.
Todas crianças e adolescentes sonham com o dia em que serão estonteantemente belos, vivendo nas mansões e prédios reservados aos perfeitos. Para a jovem Tally Youngblood, mesmo habituada a realizar travessuras pela cidade, isso não era diferente. Contudo, quando estava prestes a fazer dezesseis anos, ela conhece Shay, uma garota obcecada por rumores de um grupo rebelde vivendo na selva e pela contrariedade às cirurgias plásticas obrigatórias. Através de uma sequência de eventos que ela é incapaz de controlar, logo Tally se vê envolvida em conspirações, sem saber exatamente de qual lado está e o que realmente deseja de sua vida.
Feios tinha tudo para brilhar: um cenário intrigante, um background misterioso e uma temática polêmica. Ainda assim, o autor não soube aproveitar esses ingredientes picantes. Preferiu adoçar tudo com uma escrita politicamente correta e comedida, eufemizando as injustiças, a violência e os riscos de vida. Os personagens não se comportam de maneira realística nas situações de perigo e quase ninguém tem coragem de machucar outra pessoa. As questões morais sobre a busca da perfeição não são profundamente abordadas e os rebeldes, por sua vez, são simplesmente molengas. Juntando-se a estes problemas, outros também saltaram aos meus olhos. A narrativa tem cortes esquisitos e o romance entre dois dos personagens me pareceu surreal. Nunca vi alguém se apaixonar tão rapidamente. Nem nos desenhos animados da Disney.
Apesar de tudo isso, o livro não é ruim. É razoavelmente bom, aliás. O suficiente para que eu o tenha recomendado para outras pessoas e feito questão de ler os volumes seguintes. A história me entreteu e, mesmo com a rédea curta do autor, o ambiente idealizado por ele não deixa de ser interessante.
Feios foi uma obra divertida, embora não plenamente satisfatória. Talvez minhas exigências estivessem exageradamente altas, ou, quem sabe, o instinto em compará-lo com Jogos Vorazes tenha prejudicado minha capacidade de avaliar o título por si só. Assim, sugiro que, se este livro lhe chamou a atenção, não deixe de lê-lo e tirar suas próprias conclusões. Como a obra faz questão de ressaltar: o que é feio para alguém pode ser bonito para outro.
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