Retalhos e Prefácios 31/03/2017
Simplesmente lindo e inspirador!
No início dos anos 80, com seus poucos 22 anos e tendo se preparado para receber seu primeiro filho da melhor maneira possível, Olivia percebe - assim que João vem ao mundo - que as dificuldades naturais que a primeira maternidade traz não seriam, nem de longe, o que ela sonhava!
João nasceu com uma síndrome rara, que causa o desenvolvimento anormal do crânio: a síndrome de Apert. Crianças com esta síndrome apresentam uma forma distorcida da cabeça e da face, além de outras deficiências que lhes acompanham desde o nascimento.
Em momento algum do livro é sequer mencionado a palavra "feminismo". Não trata-se de um livro para mostrar a força de Olívia. Mas, mostra. Não é um relato com o intuito de mostrar empoderamento. Mas, é.
Enquanto lemos as palavras de Olívia, revivendo sua história, tudo parece um grande bate-papo. A narrativa da autora é leve e flui de forma que perdemos a noção de estar lendo uma obra literária. Em vários momentos me senti sentada ouvindo uma amiga contando suas memórias.
E quando eu digo que, mesmo sem ter essa premissa, o livro traz uma narradora empoderada, e porque a vida a fez assim. E isso não se deu apenas através do nascimento de João (isso fica claro em uma passagem extremamente emocionante e dolorosa que aborda o estupro). João veio, ao meu ver, apenas somar e construir de forma ainda mais sólida, sua personalidade.
Este foi um dos motivos que escolhi falar deste livro no mês de março (mês em que o Blog está voltado, majoritariamente, para empoderamento feminino).
Ainda casada com o pai de João, Olívia tomou algumas decisões que, mais tarde, viria a refletir se fez o correto. Talvez por imaturidade, inexperiência ou impulso de querer o melhor desde o início para o filho, João passou por muitas cirurgias além das emergenciais.
Em pouco tempo, o casamento de Olívia acabou.
Convenhamos: salvo raras exceções, pais ficam muito bem sendo pais de crianças educadas, quietas e saudáveis. Qualquer coisa que ultrapasse esse limite os colocam pra correr.
Ficando claro ou não o motivo do fim do casamento dos pais de João, é necessário fazer a observação acima, pois, todos os dias mães em situações semelhantes passam pelo mesmo. Algumas têm sua vida realmente destruída a partir dali, por completa falta de estrutura para seguir em frente. Outras conseguem seguir sendo o que sempre foram. E, outras, dão uma reviravolta em sua vida, se empoderam cada vez mais e assumem o controle de suas vidas e daqueles que deveriam ser de responsabilidade do casal.
Enfim... Olívia Byington era uma cantora, vinda de uma família bem estruturada tanto financeiramente quanto emocionalmente. Claro que isso contribuiu muito para tudo o que ela teve de enfrentar e a forma como o fez. O mesmo vale para como pode cuidar de João, levando-o, inclusive, para médicos e cirurgias fora do país mais de uma vez.
Toda essa estrutura a coloca em uma situação de privilégio bem grande em relação à muitas mulheres que vemos em tais situações. O que não quer dizer que foi emocionalmente mais fácil para ela. Filho é filho, não é mesmo?
Olívia casou-se de novo, teve mais três filhos e nenhum com qualquer deficiência.
Mas e João?
João foi crescendo e seu desenvolvimento intelectual não acompanhava a idade cronológica. Isso preocupava Olívia que buscava a melhor educação a acomodar o filho. Enquanto isso, mesmo não tendo o mesmo desenvolvimento cognitivo dos outros alunos de sua idade, João tornava-se cada vez mais independente.
Aprendeu andar em uma bicicleta especialmente adaptada para suas necessidades, andava pela cidade. Sendo apaixonado por carros e ônibus desde bem cedo, quando mais velho passou a andar de ônibus sozinho também.
Quando descobriram que ele sentia-se muito melhor em Petrópolis, onde morava a mãe de Olívia, em uma decisão que certamente foi extremamente muito acertada para o melhor desenvolvimento de João, ele foi morar com a avó e passou a estudar em uma escola muito preparada para lidar com suas necessidades educacionais especiais.
João, hoje com seus 35 anos, usa redes sociais, namora uma menina com a mesma síndrome que ele, é bastante independente, carinhoso e, como podemos perceber em todo o livro: muito, muito forte!
Olívia encontrou uma maneira muito equilibrada de contar a história de vida de João, dentro da vida dela, sem que uma ou outra tirasse as respectivas importâncias de cada.
Tiramos lições de cada um e percebemos que, no fim, cada um com sua individualidade, são, parcialmente, reflexo do outro.
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