Gustavo 17/05/2021
VIVER É TRANSFORMAR DOR EM FLOR
Texto bom. Curtinho, mas profundo. São divagações poéticas tecidas sobre vida e morte, literatura, liberdade, eternidade, infância e velhice, para citar alguns dos principais temas. Parte da herança de Rubem Alves está contida aí.
Destaco aqui 3 importantes temas:
1. A arte e o artista: Alves descreve o artista como um alquimista que busca resistir ao crepúsculo existêncial, eternizando o efêmero, transformando dor em flor. É por meio da dor, da solidão e abandono que fluem, marcada por sangue, as expressões artísticas. Em suas palavras, "[...] a beleza da arte nasce da tristeza" (p. 92). Ao compartilhar o que lhe toca, o artista solidariza-se e comunga com aqueles que desfrutam de sua arte. Em resumo, a arte nasce da dor; o artista tenta capturar o belo, que é efêmero; e assim o faz partilhando de suas entranhas com seus pares.
2. Infância é o destino de quem aprendeu a viver. O lugar de retorno já conhecido, mas sempre novo, para o qual caminhamos. 'Criança é fim, o lugar aonde todo adulto deve chegar' (p. 25). Essa criança que é '[...] desejo de prazer, corpo entregue ao brinquedo, atividade que é um fim em si mesmo, pela pura alegria que produz' (p. 51), é figura arquetipica que representa essa capacidade de amar e desfrutar deste nosso mundo, brincando e se alegrando nele.
3. O tempo da alma da criança e do velho é o mesmo. A alma não é cronológica, mas eterna. Nosso desejo nostálgico e imaginativo assim o provam. A memória, como um vôo para o passado, nos resgata e orienta. O tempo da alma é contado como um álbum fotográfico, sem início, meio e fim, mas como uma seqüência de imagens onde todo sentido contido numa única imagem de nossa experiência, carrega coisas eternas, que permanecem (p. 87)
Vale a leitura pela beleza poética e sensibilidade diante dos mistérios da existência.