Sâmella Raissa 20/02/2017Resenha exclusiva para o blog SammySacionalInverso, primeiro livro da duologia Espelhos, havia sido uma das minhas primeiras leituras de 2016, já começando o ano com uma leitura particularmente diferente do que costumo ler, mais puxada para um thriller psicológico e meio fantasia, apresentando uma abordagem clichê mas ao mesmo tempo distinta de universos paralelos em espelhos, e desde então eu mal podia esperar para concluir a leitura no segundo volume e saber como todos os acontecimentos e revelações do primeiro seriam concluídos. Fechando o ciclo de leitura, enfim, Reverso foi exatamente uma das minhas últimas leituras do mesmo ano, precisamente em Dezembro, e culminou em um desfecho que, ainda que com algumas breves pontas soltas, conseguiram me cativar de igual modo e se mostrar uma duologia realmente incrível dentro de nosso acervo nacional. Irei tentar ao máximo não soltar spoilers, mas, por via das dúvidas, quem não quiser pegar nenhum detalhe a mais do enredo nesse volume pode pular o próximo parágrafo e já seguir para o terceiro dessa resenha.
No desfecho da duologia Espelhos, Karen Alvares nos apresenta um clima um tanto mais sombrio e incerto envolvendo nossos personagens. Após os acontecimentos e revelações de anteriormente, Megan tenta prosseguir com sua vida, ainda que uma consulta em particular esteja agitando seus nervos mais do que tudo, ao mesmo tempo em que Megami, mesmo do outro lado do espelho, ainda consegue perturbá-la em alguns momentos e reafirmar, a cada vez mais, o quão não será fácil livrar-se dela completamente. Daniel permanece atento a cada passo da amiga, com receio de uma nova aparição repentina do clone oposto da jovem, enquanto que o pai desta, por mais que inicialmente não tenha conhecimento de toda a situação, começa a temer que sua filha mais velha esteja fadada ao mesmo fim de sua esposa, anos atrás.
“Megan sentiu-se um pouco melhor: era, ao menos, uma vitória. Bem pequena, é verdade. Mas a vida é uma coleção de pequenas vitórias.”
O início da leitura, ainda que em cenas aparentemente cotidianas da personagem, já chegam carregados com um clima um pouco mais denso, não pesado, mas não menos conflitante por tudo o que ele envolve. A tão temida consulta de outrora no livro anterior enfim acontece nesse segundo volume, e será o pontapé inicial para tudo o mais que irá se desenrolar, seja bom ou ruim. Tendo se passado pouquíssimo tempo desde o primeiro livro, Megan se encontra ainda confusa, agitada e assolada pelas preocupações para com a existência iminente de Megami, e começa a evitar quaisquer reflexos seus com medo de novas aparições desta. À medida que a história vai se desenvolvendo, percebemos Megan cada vez mais longe da garota despreocupada, mas responsável e simpática - a seu modo, hehe - de antes, dando lugar a uma jovem mais cautelosa, preocupada e invariavelmente tensa durante boa parte do seu dia, chegando a descontar um pouco dessa fúria na própria escola, chamando então a atenção do pai para com a seriedade da filha.
“[...] era isso que era de verdade do outro lado do espelho. Mais dor, não física, mas muitas vezes a dor física é bem mais suportável. E, desse lado, amor era tudo o que lhe restava.”
Não vou entrar muito em mais detalhes, mas por si só vocês já percebem o quão a coisa começa a ficar um pouco mais séria nesse livro, principalmente no quesito psicológico. Enquanto que no primeiro livro Megan ficava indo e voltando do espelho, com ela e Megami alternando as atitudes centrais no enredo, nesse segundo livro Megami está apenas à espreita, ainda que igualmente ácida e assustadora como sempre, perturbando Megan de todos os jeitos possíveis, e mesmo quando ela tenta revidar, o desfecho daquela confusão, aos olhos da clone, é quase iminente, e Megan tem que correr contra o tempo para escapar do mesmo destino que sua mãe tivera anteriormente. A metade do livro, em especial, foi particularmente um dos momentos mais tensos, não de forma sombria, mas pelo emocional mesmo, por levar a personagem a viver algumas situações bem desagradáveis e de apertar o coração, que muito me fizeram lembrar e identificar-me com a cena, inclusive, por ter estado naquela mesma ambientação alguns meses atrás - quem ler, vai entender ao que me refiro. Apesar disso, porém, Megan dá um show particular de força, uma vez que, por mais difícil que seja o que ela está vivendo, ela permanece ativa, ainda que se abale de vez em quando, afinal, ela é humana, mas a cada recaída sofrida, sua determinação em vencer tudo aquilo só cresce, e o medo de outrora começa a dar lugar a uma coragem única.
“Nós somos heróis da própria história, mas isso não significa que os outros são vilões; eles têm suas próprias histórias para viver.”
Assim, é com um certo clima mais sombrio, mas um tanto quanto mais emocional, que Reverso segue, e até então já estava contabilizando cinco estrelas na avaliação para mim até que, no entanto, o final chegou e irritou ao mesmo tempo em que me desestabilizou um pouco. Desde o primeiro livro o leitor meio que supõe que a morte da mãe de Megan esteja ligada de alguma forma ao espelho, mas não se sabe direito como nem porquê. Nesse segundo livro, então, isso ficará um pouco mais claro para o leitor, mas é aí que está o problema, ele fica apenas um pouco mais claro, e não totalmente esclarecido. De repente nos vemos angustiados juntamente com Megan por descobrir como driblar o perigo atual até que a única solução que surge, em dado momento, meio que mexe com a vida de nossa protagonista. A questão é que essa solução me pareceu um pouco conveniente demais para que uma certa coisa - que não vou falar o que é, mas quem ler deve entender a que me refiro, também, rs, sorry - não viesse a acontecer, da mesma forma que, ainda, a relação entre o espelho e essa solução em si não foi muito esclarecida também, e nem sequer me soou muito plausível.
Foi um desfecho que particularmente me fez dar um pé atrás com relação ao livro, que só não tornou-se uma leitura cinco estrelas como seu antecessor por ter sido concluído de uma forma um pouco clichê, digamos assim, e penso que poderia haver outros finais que conseguissem fazer mais sentido que o escolhido para o fim da duologia. Ainda assim, porém, no geral, Reverso foi uma leitura satisfatória e que muito me prendeu e emocionou durante alguns momentos - tanto é que bati um recorde pessoal e o devorei em menos de 24h, durante a Maratona Jingle Books 2016. Enfim, por mais que o final em si não tenha me agradado por inteiro, isso foi uma questão mais pessoal, mas de forma alguma deixarei de recomendar a leitura da duologia, muito pelo contrário. Está aí mais um dos achados incríveis ainda do meu ano de 2016, que me fez experimentar emoções intensas e adentrar numa adrenalina e suspense psicológico que me surpreendeu e muito! Leitura da duologia de Karen Alvares mais do que recomendada!
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