Queria Estar Lendo 05/08/2016
Resenha: O Ano em que Te Conheci
Quatro estações do ano contando os doze meses de licença desde que Jasmine foi despedida do emprego. O Ano em que te Conheci poderia ser incrível, mas foi bom. E eu vou contar pra vocês porquê.
Jasmine descobriu que ia morrer aos cinco anos; como? Como qualquer pessoa. De repente, sem ver isso chegando. Mas, para uma garota de cinco anos, a perspectiva da morte foi brutal e transformadora. Jasmine transformou toda a sua vida em um plano. Ela se dedicaria ao emprego, ela compraria uma casa, ela viveria bem. Seu emprego acabou se transformando na sua vida, e para ela estava tudo bem assim. Quando Jasmine é demitida pelo sócio e recebe uma licença de doze meses - o que significa que não pode arranjar outro emprego nesse meio tempo - o seu mundo cai, sua rotina despenca, suas perspectivas viram fumaça. Do outro lado da rua, seu vizinho parece estar enfrentando o mesmo mau. Seu emprego na rádio sofre um boicote, porque aparentemente ele fala demais sobre temas polêmicos demais, sua família está um caos e ele vive chegando bêbado em casa. Eis que, nesse meio tempo, os dois se unem em meio a essas tragédias suaves, e o que antes era só uma observação casual se torna um contato importante.
"Se quiser fazer alguma coisa, você tem que fazer isso agora. Se quiser dizer alguma coisa, então precisa dizer agora. E, principalmente, tem que fazer você mesmo. A vida é sua, é você quem vai morrer, é você quem vai perder."
Parece bom? Também achei. O problema nasceu com a narrativa e se desenvolveu assim até o fim.
Jasmine gosta de pensar. Gosta até demais. Ela tem opinião sobre tudo; sobre seu jardim, sobre as histórias envolvendo o porquê de o seu jardim não ter mais grama, sobre o que a motivou a ter histórias envolvendo a falta de grama no jardim. Ela pensa sobre o vizinho, dez parágrafos sem parar sobre como a vida dele é caótica e como ela o odeia por isso. Ela pensa sobre a família, sobre o pai e a falta de caráter e de bom senso dele, sobre como acha injusto ele não ter estado ali pela irmã e por ela como está agora pela filha caçula.
"Não gostar de você me deu alguma coisa em que eu possa me concentrar. Não gostar de você se tornou meu emprego em tempo integral."
Isso poderia ter sido bem aproveitado para o desenvolvimento da história, mas foi usado demais durante toda a narrativa. A partir do terceiro capítulo, os pensamentos longos e intermináveis da Jasmine criaram um clima de tédio. Eu não queria saber sobre tudo o que ela tinha a dizer sobre a situação; queria poder analisar sem ter os fatos jogados para mim com toda uma monografia escrita a respeito deles. A história não te abre espaço para pensar nas situações do outro lado da visão da Jasmine porque ela te diz que é daquele jeito, e não tem abertura para imaginar outra coisa. Os acontecimentos, as opiniões, os personagens coadjuvantes, você não conhece eles através de um ou outro comentário, através de uns diálogos soltos. Você os conhece através da protagonista, e o fato de ela ter tanta certeza do que está pensando torna isso chato.
"- Não estou triste.
- Claro que não. São quatro da manhã, você está mexendo no jardim, eu estou quebrando a luz do poste, estamos muito bem."
Matt, seu vizinho, foi um personagem raso, mas tinha muito mais a oferecer do que o ódio inexplicável da Jasmine dizia sobre ele. Apesar de ser um babaca de marca maior, ele também é um ser humano com falhas e com a necessidade de explodir para lidar com a pressão de tudo que vem vivendo. Nada disso o justifica, claro, mas te ajuda a entender a psiquê do personagem. A aproximação dos dois rendeu bons momentos, conversas interessantes e uma boa troca de experiência de vida. Antes uma sombra a ser observada, Matt se torna um companheiro do dia a dia da Jasmine, alguém que a entende e que sabe dizer a coisa certa na hora certa, porque a Jasmine precisa disso. Ela precisa desses momentos de susto, de perceber que nem sempre o que está vendo e pensando é a certeza universal. Deus sabe que essa mulher gosta de pensar.
Gostei bastante da dinâmica da Jasmine com a irmã, Heather. Foi a relação que mais me agradou em todo o livro. Heather é doce e frágil e incrivelmente perspicaz, cheia de vida e de vontade de experienciar o que o mundo tem a oferecer. Ao contrário da Jasmine, cautelosa até o último fio de cabelo, Heather é solta em meio aos detalhes que a contém, ansiosa para ver o mundo, para conhecer tudo dele.
"Eu não o conheço, e nem devo nada a você, mas sei que todos nós temos um botão de autodestruição e não posso deixar você fazer isso."
A edição da Novo Conceito está excelente; encontrei um ou dois erros de gramática e uma ou outra frase que ficaram sem sentido, mas no contexto geral, a edição ficou impecável. Fonte agradável, capa bonita, um conjunto perfeito para uma história que poderia ter sido muito mais...
Como eu disse, o livro te oferece uma visão ampla sobre tudo, mas a história perde a magia por estar fadada a um único ponto de vista. Jasmine nem sempre está certa, mas quer estar, e isso torna a narrativa maçante; a impressão que eu tive é que o tempo e as páginas não passavam.
Nada dentro dos seus monólogos me agradou; frases de efeito soltas em meio a grandes descrições sobre o passado e o presente, explicações extensas e diálogos um pouco rasos exatamente por serem seguidos de parágrafos enormes sobre fatos aleatórios. O livro tinha prometido uma história agradável, mas se tornou uma leitura enjoativa. Infelizmente para mim, minha primeira experiência com uma obra da Cecelia foi desagradável, mas se você se interessa por romances leves e por uma carga de drama extensa, talvez O Ano em que te Conheci seja a leitura perfeita para a sua estante!