Otávio - @vendavaldelivros 29/03/2023
“Paranoia em pequena quantidade é como caldo de galinha, não faz mal a ninguém.”
Eu cresci tendo como referência de romances policiais e investigativos a dupla inglesa Agatha Christie e Arthur Conan Doyle. Demorei até me aventurar em outras obras que fugissem desse imaginário investigativo inglês que contempla os dois maiores detetives da literatura, Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Quando decidi ler “O Seminarista” do mineiro Rubem Fonseca fui positivamente surpreendido com um livro investigativo com o tempero da intensa realidade brasileira.
Publicado em 2009, “O Seminarista” conta a história de Zé, protagonista que nunca sabemos o real sobrenome, mas que escolhe por conta própria o segundo nome de Kibir. Zé é um ex-seminarista e assassino de aluguel que resolve se aposentar depois de anos se dedicando ao trabalho de tirar vidas, algo que nunca lhe deu nem remorso, nem prazer. O prazer mesmo ele encontrava na literatura, no cinema e com as mulheres. Após decidir pela aposentadoria, porém, Zé descobre que estão tentando matá-lo e, após se apaixonar perdidamente por uma alemã, resolve ir atrás de quem o persegue.
O roteiro do livro é simples, sem muitas voltas e toda a escrita de Rubem Fonseca anda da mesma forma, seca, cortada, fria, direta e sem muita vontade de poupar o leitor de qualquer cena de violência. A sensação que tive lendo esse livro era de que estava assistindo um filme de ação daqueles clássicos do final dos anos 90 e começo dos anos 2000, com Denzel Washington, Bruce Willis e aqueles tradicionais atores hollywoodianos que faziam papéis de detetives nos cinemas.
A história acaba sendo um previsível e achei Ze Kibir um pouco inocente em alguns momentos dado todo o seu histórico como assassino de aluguel e sua personalidade claramente desenhada como alguém paranoico. Ainda assim, o livro é divertido e empolgante, perfeito para quem quer uma distração e uma leitura rápida para intercalar com livros mais densos. Fiquei com vontade de ler o famoso “Agosto” do autor, que gira em torno da morte de Vargas.