Lethycia Dias 08/05/2019Entre dois polos"Cabo de guerra" acompanha um sujeito dividido entre dois polos na época da ditadura militar no Brasil. Descoberto seu envolvimento com militantes de esquerda, ele se torna um agente infiltrado a serviço do DOPS.
O protagonista, porém, se envolve com o primeiro de forma passiva, sem realmente acreditar em seus companheiros; da mesma forma, colabora com os militares apenas enquanto é necessário ou conveniente. Enquanto as pessoas ao seu redor acreditam que é preciso escolher um lado, ele se vê dividido entre os dois, enxergando contradições em ambos e sem se envolver de verdade com nenhum.
A narrativa de Ivone Benedetti alterna entre um presente nos anos 2000, em que o protagonista não nomeado recorda seu passado do qual se envergonha, e os acontecimentos das décadas de 60, 70 e 80.
Além disso, ainda há a trajetória de um homem nordestino, de uma família interracial, na atmosfera sufocante de São Paulo, aspirando uma vida de facilidades e de luxo, e não conseguindo trabalhar sua mediocridade, seu despeito, seu desprezo por outras classes sociais, pela amante que passa a ganhar mais, e ainda dividido entre a realidade e as alucinações que tem desde a infância. O protagonista-narrador é um sujeito desagradável, complexo e nem um pouco representativo daquilo que esperamos sobre amos os lados entre os quais se vê "puxado".
Tenho pouca leitura sobre essa época da nossa história, mas não tenho dificuldade em reconhecer a qualidade da ambientação e da narrativa, por vezes irônica, amargurada ou trágica. É um livro como nunca vi antes e recomendo muito a leitura.
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