Cabo de Guerra

Cabo de Guerra Ivone Benedetti




Resenhas -


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Toni 12/11/2019

Dos livros sobre a ditadura brasileira que conheço, Cabo de guerra é o primeiro centrado na história de um “cachorro”, expressão usada entre as décadas de 60 e 80 para designar infiltrados da polícia militar nas organizações de esquerda. Criatura mesquinha e ressentida, o narrador deste romance é uma construção complexa de perdas e decepções que não estão ali para desculpar sua ignomínia, mas para torná-lo ainda mais factível enquanto brasileiro mediano, inteligente e sem brilho, dependente de favores e sempre pronto para abraçar oportunidades que lhe tragam status e dinheiro com o mínimo de esforço — alguém que frente ao cabo de guerra da história nacional pende sem escrúpulos, por inércia ou omissão, para o lado do mais forte. 📖

O que mais impressiona no texto é como toda a narrativa parece controlada, ironicamente, pela inércia. Deixando-se levar por uma série de acasos, o narrador-protagonista acaba enredado numa vida dupla, ainda que não pertença “de verdade a nenhum daqueles mundos” e se entedie “nos dois com a mesma paixão”. Sobre ele conhecemos um pouco da história de sua família na Bahia e de seu histórico médico de esquizofrenia, mas diferente de todas as outras personagens, nunca sabemos seu nome ou quaisquer traços físicos que possam prendê-lo a uma identidade. O recurso à anomia, neste caso, faz com que essa voz esteja mais próxima de nós do que desejaríamos, podendo assumir a forma de um parente, um vizinho, um estranho simpático que nos dá bom dia na padaria. 📖

O romance é narrado em retrospectiva, quando o narrador encontra-se paralisado numa cama em 2009. Tendo apenas a própria memória por companhia, o “cachorro” só pode fazer uma coisa: lembrar. E isso é bastante significativo porque, na fatura da obra, o "narrador" nunca consegue sair efetivamente dos anos de chumbo. Livro bem escrito e revoltante—Cabo de guerra é uma versão brasileira do homem do subsolo dostoievskiano que merece leitura e releitura. 📖

#DuraMemória #ivonebenedetti #cabodeguerra #boitempoeditorial
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Cachamorra 14/02/2023

Como se faz um traidor?
Eu queria muito ler algum romance que se passasse no período da Ditadura. Cabo de Guerra não me entregou nada do que eu gostaria. Mas, é bom.

O personagem principal é meramente um coadjuvante da própria vida. São os eventos (e as pessoas) que movem a história, ele é só a memória..muito confusa até.

A narrativa é um vai e volta na memória de alguém que não sabia o que estava fazendo e assim fez muito mal. O livro é bom, poético às vezes. Mas, não é uma leitura fácil.
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Julia Prado 12/03/2023

O final é muito bom, mas não sei se recomendo
O livro demora demais pra acontecer, mas melhora muito no final. O protagonista é muito bem construído para ser um narrador não confiável e uma pessoa horrível, que age apenas em benefício próprio e faz coisas horríveis por não ter convicção alguma e se deixar levar pelas circunstâncias. Provavelmente um dos mais complexos que eu já li. A ambientação no período da ditadura militar foi muito bem trabalhada ao longo da narrativa, e achei interessante o fato de a autora escolher esse contexto para desenvolver um personagem absolutamente impossível de simpatizar, mas que ao mesmo tempo não se resume ao que esperaríamos em vários momentos.

O livro cresceu muito para mim na última parte, mas foi muito difícil chegar até o final, tanto pela personalidade do protagonista (mesmo eu já esperando isso), que por vezes torna a narrativa um pouco repetitiva, como pela EXTREMA LENTIDÃO do começo do livro. O fato de os acontecimentos da sinopse só se iniciarem quase na metade do livro é um exemplo disso (até aí o livro se foca em situações que eu considerei desinteressantes, e só se tornam importantes no último terço da história). Também não tenho certeza se a alternância entre passado e presente funcionou para mim nesse caso, uma vez que eu senti que isso só me tirava da história.

Apesar disso, fiz muitas marcações, e reconheço que as temáticas abordadas são de importância fundamental atualmente, e que as reflexões que fiz enquanto lia me acompanharão depois da leitura.
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Bianca 09/08/2021

Eu quase que literalmente tropecei nesse livro e comecei como quem não dá nada, mas (e desculpa a expressão) [*****] merda que livro incrível! Fazia tempo que eu não lia algo tão bem narrado, com uma personagem principal que é tão repugnante e ainda assim quase que te obriga a simpatizar com a vivência dele. Recomendo demais esse livro, é uma obra de arte, maravilhosamente bem escrito e envolvente.
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mascpassos 01/09/2016

Leitura fascinante, especialmente no momento histórico que vivemos - 2016.

O cenário político e o drama pessoal do personagem principal criam uma história envolvente.
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Paulo Santos 02/05/2020

Trauma na ditadura
Uma obra boa para se enveredar no período da ditadura civil-militar. Por meio de pelo menos três linhas temporais, Benedetti nos apresenta um personagem sem nome obrigado a viver entre militares e militantes, ditadores e revolucionários. É nesse ambiente de conflito que vemos o personagem se perder e carregar traumas que lhe marcaram para sempre.
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Clarisse.Figueira 23/09/2020

Uma perca de tempo
Esse livro é muito ruim. Além de ter uma leitura super chata, a história não é nada interessante.
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fev 15/01/2023

3,25

A minha expectativa sobre Cabo de guerra era outra. Mais uma vez por culpa minha levei uma rasteira. Não é um livro ruim, mas o seu foco narrativo não me agradou. Talvez o livro em primeira pessoa tenha ajudado nisso.

A autora conseguiu construir um personagem extremamente comum para mostrar em certos aspectos a banalidade do mal. Ele estava ali fazendo o mal, mas não se importava muito. Era o seu trabalho espionar e denunciar. O foco não é construído nas violências, mas como pessoas comuns também podem fazer mal as outras.

Há poucas passagens onde são descritas torturas. Mas as poucas geram um incômodo significativo. Enfim, apesar de não ter curtido muito ainda considero o livro interessante.
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Cheiro de Livro 10/08/2016

Cabo de Guerra
As ditaduras que o Brasil sofreu ao longo de sua história são terreno fértil para obras de ficção. O que diferencia o livro de Ivone Benedetti dos demais é o seu protagonista, aqui não temos um guerrilheiro ou um torturador, temos um cachorro. Cachorro na linguagem do repressão era o militante de esquerda transformado em informante, em agente duplo. Uma faceta pouco explorada da ditadura militar e que em “Cabo de Guerra” ganha protagonismo.

Na orelha do livro Bernardo Kucinski argumenta que o título do livro é sobre a disputa moral que o protagonista teria ao ser agente duplo, a visão dele tem respaldo no livro e mesmo assim eu leio esse título de forma diferente. Cabo é a primeira graduação que um soldado recebe e é essa graduação que pouco lisonjeira, a de agente duplo ou cachorro, que seguimos no livro.

Saindo do título e embarcando na história em si, a narrativa é um vai e vem do presente para o passado. O protagonista nos guia em primeira pessoa por sua vida, sua chegada a São Paulo vindo da Bahia, seu envolvimento, meio por acaso, com a militância de esquerda, sua prisão e transformação em Cachorro. Demora-se um pouco para chegar na parte mais interessante do livro, aquela que o diferencia dos demais, a transformação de alguém envolvido na militância de esquerda em informante e isso me frustrou um pouco. Quando a transformação se concretiza a historia passa a ter um rumo mais acelerado, os anos se multiplicam e cheguei a me perder um pouco no tempo, nada que chegue a macular a leitura.

O Cachorro criado por Benedetti se envolve em tudo por acaso, não tem convicções nem a direita nem a esquerda, faz o que é necessário para sobreviver e se preocupa pouco com o que isso acarretará. Não é a culpa que o destrói e sim um amor, sua sobrevivência depende mais da ajuda de amigos do que dele mesmos, é um desses personagens por quem não se torce em momento algum e mesmo assim não se coloca o livro de lado.

“Cabo de Guerra” é uma boa leitura e uma narrativa de um aspecto da ditadura militar no Brasil que é muito pouco explorado na ficção, infelizmente.

site: http://cheirodelivro.com/cabo-de-guerra/
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Literatura Policial 08/09/2016

Assassinos têm consciência?
Descobrir jovens talentos literários é muito bom, mas ser conduzido pela história por mãos maduras e seguras provoca uma experiência de leitura única. Os personagens se mostram multidimensionais, os cenários têm mais profundidade de campo e as circunstâncias nunca são simples. “Cabo de Guerra”, de Ivone Benedetti (Boitempo, 2016) é um exemplo vibrante disso. Muito por conta da trajetória da autora, experiente tradutora e escritora reconhecida. Em 2010, seu “Immaculada” foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, o que despertou interesse de parte da crítica. “Cabo de Guerra” não é só mais um atestado da qualidade literária de Ivone, mas um mergulho profundo na maior ferida política brasileira: a ditadura militar de 1964-1985.

Confira a resenha completa no literaturapolicial.com

site: https://literaturapolicial.com/2016/09/07/cabo-de-guerra-de-ivone-benedetti/
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Lopes 29/01/2018

As vertigens da consciência
"Cabo de guerra?, de Ivone Benedetti, carrega dois pesos insuportáveis, amparados, ou melhor, desamparados pela guerra, que em nenhum lugar ou momento é positiva, amadora ou trivial, é sempre a força brutal que aniquila a vida e o espaço. Os pesos, humano e social, se chocam, como dois machados em riste, que eclodem a todo instante para extrair as variantes de uma ditadura, cultura e história, trazendo à tona uma representação e discussão mais avançada sobre esse período, revelando as consequências de existir diante as ruínas físicas, psíquicas e de pensamento. Ao tomar consciente o ato de existir onde precisa estar, Benedetti examina o ponto neutro da essência do que nos tornamos diante de um sistema político e histórico, que retrai tudo que somos ou podemos ser. O caráter, quando julgamos a personagem principal por denunciar e ser informante da Ditadura, resvala nessa neutralidade paradoxal. Claro que discuto aqui uma neutralidade mentirosa, farsante, mas é a palavra que consegue partir para outra escala, a que pretende chegar ao que a personagem evoca, a consciência dos que moravam na sombra, e, talvez, seja nesse breu o abrigo das verdades. Ao situar o leitor a partir da covardia, Ivone também recria um reduto de contrários ao criar mecanismos na linguagem que penalizam o leitor pelos julgamentos contra o "cachorro" - personagem principal -, tornando mais um exame sobre a condição humano no Brasil, que é - ou se torna - seguramente esquivo, pronto para atuar, sem torturas ou mansidão. O combate que a autora propõe é o da imagem que esse cachorro cria e recria, temporalmente, em nossas mentes. Nos fazendo enfrentar a realidade contemporânea. O jogo de palavras empresta ao horror impregnado nos escombros da memória ou do conhecimento, virtudes que não respeitam lágrimas ou rebeldia, mas criam atos de coragem para enfrentar esta história e a História, destruindo a inércia do pensamento literário ao contrapor com trevas a escuridão dos tempos de chumbo
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Lethycia Dias 08/05/2019

Entre dois polos
"Cabo de guerra" acompanha um sujeito dividido entre dois polos na época da ditadura militar no Brasil. Descoberto seu envolvimento com militantes de esquerda, ele se torna um agente infiltrado a serviço do DOPS.
O protagonista, porém, se envolve com o primeiro de forma passiva, sem realmente acreditar em seus companheiros; da mesma forma, colabora com os militares apenas enquanto é necessário ou conveniente. Enquanto as pessoas ao seu redor acreditam que é preciso escolher um lado, ele se vê dividido entre os dois, enxergando contradições em ambos e sem se envolver de verdade com nenhum.
A narrativa de Ivone Benedetti alterna entre um presente nos anos 2000, em que o protagonista não nomeado recorda seu passado do qual se envergonha, e os acontecimentos das décadas de 60, 70 e 80.
Além disso, ainda há a trajetória de um homem nordestino, de uma família interracial, na atmosfera sufocante de São Paulo, aspirando uma vida de facilidades e de luxo, e não conseguindo trabalhar sua mediocridade, seu despeito, seu desprezo por outras classes sociais, pela amante que passa a ganhar mais, e ainda dividido entre a realidade e as alucinações que tem desde a infância. O protagonista-narrador é um sujeito desagradável, complexo e nem um pouco representativo daquilo que esperamos sobre amos os lados entre os quais se vê "puxado".
Tenho pouca leitura sobre essa época da nossa história, mas não tenho dificuldade em reconhecer a qualidade da ambientação e da narrativa, por vezes irônica, amargurada ou trágica. É um livro como nunca vi antes e recomendo muito a leitura.

site: https://www.instagram.com/p/BxLge3egzAv/
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