Antropologia da Criança

Antropologia da Criança Clarice Cohn




Resenhas - Antropologia da Criança


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Dayane 06/06/2022

Segundo a autora, a antropologia se consolida como uma ciência responsável por estudar um
fenômeno existente na sociedade levando em consideração seu contexto social e cultural. Para
isso, a antropologia apresenta uma metodologia própria de coleta de dados, sobretudo o
método conhecido como etnografia, que possibilita uma aproximação e observação direta dos
sujeitos envolvidos. No entanto, Cohn destaca que conhecer as crianças tem sido um desafio
para a antropologia, em virtude da dificuldade em reconhecê-las como um sujeito social.
Clarice Cohn apresenta alguns estudos pioneiros com crianças no campo da antropologia,
desde os primeiros na década de 1920, limitados pela separação entre a vida adulta e a da
criança, idealizados como um ser incompleto. Cabe afirmar que a autora não descarta as
contribuições criadas pelos estudos, que tomaram a criança como ser imaturo, mas acredita
que as finalidades assumidas por esses grupos limitavam a compreensão dos modos de vida
delas.
A década de 1960 marcou um processo no qual a antropologia buscou analisar suas
concepções, sobretudo no que diz respeito aos conceitos de cultura, sociedade e de agência,
ou de ação social. No que diz respeito à concepção de cultura, os antropólogos atribuíram
ênfase aos sistemas simbólicos produzidos pelos atores sociais por meio das relações e
significações dadas a suas próprias experiências. Esses estudos permitiram desconstruir a
ideia de que as crianças são seres incompletos, permitindo compreendê-las como seres sociais
plenos que possuem papel ativo na legitimação de sua própria condição.
O livro apresenta ainda a concepção de infância como um modo particular de pensar a
criança, que foi sendo criado ao longo do tempo em diferentes culturas e sociedades. Assim,
questionamentos como: o que elas pensam e como vivem? As respostas podem variar de
acordo com os diferentes contextos sociais, pelos quais são necessários estudos
antropológicos que procuram conhecer os diversos modos de viver a infância. A autora traz
sua pesquisa de mestrado realizada numa comunidade indígena chamada de Xikrin, localizada no Pará, que procurou compreender como as crianças de outros contextos socioculturais
vivem.
Cohn indica a necessidade da Antropologia da Criança levar em consideração os contextos
socioculturais em que as crianças vivem. Para isso é fundamental uma aproximação das
experiências vividas pelas crianças em estudo, procurando entendê-las por meio de suas
próprias ações dentro de sua realidade social.
Nesse ponto de vista, Clarice Cohn parte da hipótese de que as crianças são seres atuantes. Ela
cita: ?aquela que tem um papel ativo na constituição das relações sociais em que se engaja,
não sendo, portanto, passiva na incorporação de papéis e comportamentos sociais.? (P. 27 -
28). Cohn também traz alguns exemplos, entre eles a experiência com as crianças Xikrin, na
qual foi possível observar o papel ativo das crianças ao realizarem através das brincadeiras
ações que serão importantes para toda a vida.
A cientista social discute o processo de ensino e aprendizagem, sendo de grande importância
observar de maneira ampla as concepções, os meios e os processos. Diante dessa hipótese, as
concepções do que é ser criança, de desenvolvimento e da capacidade de aprender não podem
ser compreendidas de forma isolada.
Ao decorrer da obra, também foram frisadas questões referentes à interdisciplinaridade e
aplicação de pesquisas. Referente a esse assunto, a autora destaca os diálogos entre a
antropologia e as outras áreas. A respeito das metodologias e técnicas de pesquisa, Cohn
apresenta que, por conta da ampliação e variação do campo das análises antropológicas, é
fundamental conhecer o meio sociocultural do grupo a ser investigado para a seleção dos
instrumentos metodológicos da investigação. Uma das possibilidades é a observação
participante, enfatizando-se assim a ação de ouvir as crianças, considerando-as enquanto
sujeitos sociais plenos. Dentre os recursos utilizados na observação participante, a autora
destaca: coletas de desenhos, histórias elaboradas pelas crianças e registros escritos e
audiovisuais. Estas seriam questões importantes na definição e delimitação do campo da
Antropologia da Infância.
Por fim, Clarice Cohn expõe que a Antropologia da Criança pode contribuir a desconstruir
posturas naturalizadas acerca das ideias e concepções existentes sobre crianças e sua infância,
consolidando-se como um campo de estudo primordial na construção de investigações que
tomem como ponto de partida as crianças, indicando a relevância de entendermos as vivências e contextos em que elas estão inseridas, de tal forma que sejam consideradas como sujeitos de
direitos ativos e produtores de culturas.
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