Nenhum aceno será esquecido

Nenhum aceno será esquecido Nathan Sousa




Resenhas - Nenhum aceno será esquecido


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Isabela | @readingwithbells 06/05/2018

Acemira Medeiros, uma mulher de vinte e seis anos perdeu o marido após uma conquista numa aposta de cavalos. Ela pega seus três filhos e decide rumar o mais longe que puder da sua cidade e das suas lembranças.
"Agora é a minha vez de escolher."
No caminho ela acaba encontrando diversas pessoas que são importantes em sua vida de uma forma ou outra.
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Penalux 17/10/2017

Aridez das palavras

Nathan Souza, vencedor de prêmios literários como poeta, estreia na ficção com o livro “Nenhum Aceno será esquecido”. A obra narra a história de uma família nordestina, residentes de um lugar impreciso às voltas do Piauí.
O livro conta a história de Acemira, recém viúva, que visto a morte do marido, e a desolação da fama de sua família trazidas pelas circunstâncias de tal morte, vê-se, pela primeira vez na vida, dona do seu destino e dos de seus filhos. Resolve empreender viagem rumo ao distanciamento da cidade onde viveu por toda a vida, com esta decisão sua personalidade salientada, até então, pelo dom da maternidade passiva, contrasta-se nas novas atitudes de uma mulher de fibra, que ousa encorajar-se pelo desafio da viagem pelas terras áridas do Nordeste, rumo ao sonho de uma vida melhor.
Essa aventura será marcada estilisticamente pela sensibilidade de Nathan, mas também pelo toque de aridez que o autor entrega para cenas, que em tese, deveriam representar sentimentos, mas que visto a situação de vida cru, bem características dos personagens da obra, ganham um retoque de realidade dura. Uma das cenas em questão, é quando Acemira vai se despedir de uma colega que lhe deu hospedagem, chamada Constância, mas esta despedida é marcada “ com respingos de sangue e restos de vísceras”, pois Constância estava degolando uma galinha, antes de acenar para sua amiga em despedida.
O toque de secura afetiva, também se marca pelo modo como os personagens interagem, normalmente com falas curtas, ainda que densas, mas que criam um certo vácuo de distância entre os relacionamentos, como a marcar uma barreira emocional entre a família. Embora o livro tenha sido escrito com a sobriedade, de um observador atento aos “calos da vida”, o leitor expandirá sua percepção, na consciência da existência de realidades áridas nas terras brasileiras.
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Dani - Bibliotecária Leitora 23/11/2016

Personagens daqui, mas de outro mundo.
Em Nenhum aceno será esquecido (Penalux, 2015, 117 p.), de Nathan Sousa, temos vários personagens tentando mudar sua vida de alguma forma: seja através da partida física de um lugar para outro, seja através de ações ou gestos. Conhecemos Acemira, a mãe, e seus três filhos: Álvaro Reis, o mais velho; Germano, o filho do meio; e Engrácia. Eles são acolhidos por Constância e Severo Vasquez, depois que o marido de Acemira veio a falecer, por conta de uma corrida de cavalos. Há quem fique em seu luto para sempre. E há Acemira. Mesmo sendo filha de agricultores judeus portugueses e tendo a obediência como parte de sua personalidade, nossa personagem deixa somente um envelope com dinheiro e uma frase escrita aos seus pais: “Agora é a minha vez de escolher”. Ela quer viver uma nova vida, e ela vai, mesmo com suas dores e angústias.
Leia a resenha completa: https://bibliotecarialeitora.wordpress.com/2016/07/28/resenha-nenhum-aceno-sera-esquecido/

site: https://bibliotecarialeitora.wordpress.com/2016/07/28/resenha-nenhum-aceno-sera-esquecido/
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Krishnamurti 18/06/2016

Nenhum aceno será esquecido, livro de Nathan Sousa. Uma bela alegoria da aventura humana
Alegoria no sentido que os gregos emprestavam ao termo. Ou seja; um método de interpretação dos textos homéricos, por meio do qual se pretendia descobrir ideias ou concepções filosóficas embutidas figurativamente nas narrativas. É o que me veio à mente após a leitura deste bem realizado romance do escritor piauiense Nathan Sousa, um dos ganhadores do Prêmio José de Alencar da União Brasileira dos Escritores UBE/RJ em 2015.
Em suas primeiras páginas o leitor é empurrado para dentro de um mundo que desconhece. São poucas as palavras que servem para localizá-lo, nenhum painel descritivo lhe permite conhecer de antemão o mundo que vai visitar. É lançado diretamente na ação, no meio dos fatos. Uma voz narrativa nos faz saber da aventura de Acemira, a protagonista que empreende após o assassinato do marido, uma viagem em busca de um eldorado mítico onde pretende viver e criar seus três filhos.
Em algum lugar ao sul do Piauí o autor nos mostra o drama humano. E os dramas humanos, importante frisar, não têm pátria. São universais. Universais porque o fato de a obra mostrar-se presa, em matéria narrativa a um contexto cultural específico, onde bebe de sua substância, não impede que adquira sentido universal, senão vejamos como isto acontece.
A protagonista Acemira se desfaz de uma boa casa, duzentas cabeças de gado e cento e cinquenta alqueires de bom pasto. Não representa portanto, em essência, uma “retirante”, não no sentido que veio à luz na literatura brasileira em obras da chamada fase de descoberta de “nossa consciência catastrófica do atraso”, tão bem evidenciada em obras como Vidas secas de Graciliano Ramos, ou O Quinze de Rachel de Queiroz.

“O silêncio se apossou do ambiente, mas Constância quebrou o equilíbrio da contemplação com um suspiro de pouco fôlego, seguido de um desabafo: - Que merda é essa?, indagou ao leu, avistando o mesmo horizonte imutável que, aos olhos de Acemira, representava um mistério menor que o da própria sorte. – Nós somos a merda!, respondeu”.pag.21

Apesar de também estar latente a denúncia social, a narrativa de Nathan Sousa crava punhal na metafísica da miséria humana, aquela que nos faz ardilosos, assassinos, aproveitadores, independente do meio em que nos encontremos. Antes de chegarmos a esta grande questão que permeia o livro, vejamos brevemente o percurso da narrativa no que tem de mais importante.
O que ressalta primeiro na obra, é a maneira direta de tratar o assunto. Há algo para ser contado e se vai até lá sem rodeios. Em termos de técnica narrativa, o autor encontrou uma solução coesa: vivências pessoais se entrecruzam e surgem a nossa frente. Todavia, Acemira (mulher de caráter determinado e empreendedor), está em cada ato, e cada ato, ou nasce dela ou a ela está intimamente relacionado. Nós a vemos através das ações; mas, por outro lado, é ela quem está ligada às ações. Este caráter compacto e dinâmico, esta ligação íntima entre a protagonista e o ato, esta interação entre o ser e o fazer (de importância capital em toda a obra), vão compor a construção do romance que corre fluentemente diante de nós, em direção a um objetivo marcado que acaba por se concretizar em determinado momento.

“A fartura se espalha pelas plantações de banana, pelos pomares de pés de laranja, de manga, de carambola, de goiaba, de caju, de tamarindo, de frutas e mais frutas tropicais” pag. 43

O êxito alcançado pela protagonista no sentido de encontrar e promover uma existência condigna em plenos sertões do Piauí, vem desmontar inclusive ideias deterministas que situam o êxodo rural como decorrente exclusivamente do clima, pois erigimos a imagem de uma natureza hostil, adversa e imutável responsável pelos maiores problemas das sociedades do semi-árido, quando em verdade o que falta, e sempre faltou, é o empreendedorismo humano e a falta de um planejamento que possa dar conta de um novo arranjo socioprodutivo da região. Ainda estamos à braços com os mesmos problemas de séculos passados, inclusive a tal da indústria da seca.
A propósito da palavra séculos. O tempo cronológico do romance, a julgar por vagas alusões (pontificado do Papa Pio VIII-1829 e a batalha da Barra do Rio Longá-1823), o situam em meados do século XIX, mas não se trata de um romance histórico. Não é isto que interessa ao autor. Parece-nos que lhe interessa mostrar mais além, muito mais além, pois assim como ontem, hoje ainda, aqui e agora, em pleno século XXI, nos mesmos rincões do Brasil vivem as mesmas personagens anônimas e subumanas, condenadas a viver à margem de um país que se nega a reconhecer suas existências, pois ainda perdura o processo de exclusão cultural que se mantém em essência. Muito embora os meios de hoje sejam outros. Seres condenados ao silêncio. Ontem e hoje.

“Ensine-me a construir alguma coisa”. Pag 69

A personalidade do escritor de ficção não se mede pelo seu poder imaginativo, mas pelo aproveitamento que faz da imaginação. Nathan Sousa compôs seu romance não de pequenos nadas individuais ou coletivos, mas de uma visão integral, macroscópica, onde o drama das personagens é universal em si, por nascer de inquietações espirituais perenes (a condição humana, o sentido da vida, o ser e o não-ser). A imagem que nos é oferecida não é mais dos modos de experiência, mas sim dos modos de existência, portanto decorre no plano do indivíduo, não no da sociedade, embora esta apareça por tabela, porque a sociedade nada mais é do que a soma de individualidades.
Mas afinal, quem é o responsável pela situação daqueles nordestinos sofridos? Porque o sonho de Acemira rápido como se concretizou, mais rápido ainda degenerou? Quem é o responsável? A natureza, o governo, a sociedade, a vida, Deus, ou os próprios personagens? Por que essa realidade se perpetua, e as perguntas continuam em aberto?

“Em pouco tempo, todos em Terra dos Anjos pareciam ter embaralhado a concepção de suas idades, onde meninos e homens se misturavam nos trabalhos, e meninas e mulheres matavam galinhas, marrecos e cabritos sem a menor diferença nos rostos”. Pag. 83

Porque encontramo-nos desorientados ( ponto à criatividade do autor, como já disse), no meio da rede de confusões a que nos impusemos. Uma confusão eminentemente moral, da qual decorrem todos os fenômenos que aparentemente se mostram insolúveis para a interpretação da sociedade contemporânea. Estamos em plena era da reificação ( o que trata algo abstrato como material) das relações humanas. Promovemos o afastamento e a abstração de toda qualidade sensível das coisas. Dessa forma, a consciência humana tende progressivamente a fechar-se à compreensão dos elementos qualitativos e sensíveis da realidade. Todo valor se transforma ilusoriamente em valor de troca. E toda relação humana se transforma destruidoramente numa relação entre coisas, entre possuído e possuidor. O homem reificado é assim, este aleijão. Egoísta e brutal.

“Terra dos Anjos aumentava suas habitações, e novos comerciantes surgiam, atraídos pela riqueza das águas do lugar, investindo trabalho e dinheiro no plantio de cereais e na compra e venda desenfreada de mercadorias”. Pag. 90

“terra dos Anjos continuava seu avançado trabalho como se os mortos nada significassem diante do lastro da moeda”. pag. 98

“Tubiarana, o curandeiro, já sem saber sua própria idade, não conseguia suprir a crescente demanda por rezas e mandigas de traga meu amor de volta, arranje-me um marido e faça correr rios de dinheiro em minha vida”. pag. 111

Mas eis que, uma suave luz de poesia difunde-se no sétimo e último capítulo do livro, ocupando uma única página, onde o silêncio de todas as perdas encontra-se com a esperança. É o sussurro das vidas humanas oprimidas que sempre terá eco em autores da têmpera de Nathan Sousa. Significativo aceno a nos lembrar de suas existências.
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