Delirium Nerd 26/06/2017
[LIVROS] Meu Nome é Lucy Barton: Relacionamento entre mãe e filha e o vínculo com a realidade
O conhecimento popular de que o que vivenciamos na infância, não apenas nos molda, mas nos assombra pelo o restante de nossas vidas nunca foi tão real quanto durante a leitura de Meu Nome é Lucy Barton. Ao longo das 159 páginas do novo livro da ganhadora do prêmio Pulitzer, Elizabeth Strout, vemos pelos olhos da própria Lucy como aquilo que vivenciamos em tenra idade pode nos marcar para o resto de nossas vidas.
Lucy Barton é uma autora bem-sucedida, casada, com duas filhas, que está internada em um hospital de Nova York com vista para o edifício Chrysler, por causa de complicações decorrentes de uma (simples) operação de retirada do apêndice. Normal, certo? Talvez até demais. A questão sobre Lucy, e talvez o que mais marca a sua história, é que a narradora – e protagonista da trama – teve uma infância extremamente difícil, tanto financeiramente quanto emocionalmente, situação que é tratada durante todo o livro através de paralelos com a atualidade da personagem e, as vezes, justificativas de o porque Lucy age e pensa de tais formas.
O que desencadeia a discussão constante da narradora (com ela mesma) sobre essa questão, é a visita que a mesma recebe de sua mãe, enquanto ainda está internada, fazendo com que alguns aspectos de tal tema sejam discutidos com a visita, personagem principal de diversas das situações que assombram a narradora até a vida adulta.
” (…) nós nunca sabíamos, e jamais saberíamos, como é entender plenamente outra pessoa.”
As reflexões feitas por Lucy sobre as mais diversas circunstâncias de sua vida – desde as condições de pobreza da infância até os elementos particulares de seu casamento – são uma porta para conhecermos a narradora e a nós mesmas, através de indagações extremamente humanas e reais, de forma que os mais simples questionamentos de Lucy também se tornam nossos próprios questionamentos e nossas dúvidas são refletidas nas dela.
Parece-nos que a narradora promove um estudo sobre a própria humanidade, usando suas experiências pessoais. Lucy traz o seu trauma infantil para o foco narrativo, tanto consciente quanto inconscientemente, e mesmo que de forma involuntária, nos convida a participar de sua história, sendo esta pintada por reflexões cotidianas e críticas contundentes – embora sutis – às realidades presentes em nossas vidas.
“Na minha experiência ao longo da vida, tenho visto que as pessoas que mais receberam do nosso governo (…) são as mais aptas a ver defeitos em toda a ideia de governo.”
Por todos os casos e relatos retratados no livro, por vezes nos esquecemos que é justamente isso de que se trata: um livro. O meio de narrativa adotado por Elizabeth Strout é feito de forma tão primorosa e verossímil que nos esquecemos que se trata de uma leitura e não de uma conversa com Lucy Barton. A vida da personagem é belamente ilustrada, suas dúvidas relacionáveis e seus temores, curiosamente, são semelhantes àqueles que nos deparamos em nós mesmas.
Leia na íntegra:
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