Confissões de uma leitora 16/09/2017
Dois idiotas.
É assim que defino o “Babaca” e a “Maluca”.
Calma lá! Senta aí e leia as próximas linhas sobre minhas impressões desses dois tolos...
A história oscila entre os pontos de vista de Mariana e André, que são narrados pelos próprios. Há algo novo e bem curioso sobre isso; enquanto os protagonistas relatam sua história para o leitor, eles introduzem pequenos trechos que são contados para eles mesmos, isto é, eles narram para o leitor e também se voltam um para outro contando como se sentiram em determinada situação, como se estivessem escrevendo um diário, ou melhor, cartas, que no futuro seriam compartilhadas entre eles para relembrar o início de sua história de amor ou algo do tipo. Eu, particularmente, nunca tinha lido nada neste estilo e achei bem interessante.
Mariana parece sofrer de estresse pós-traumático devido a um acontecimento terrível em sua vida quando ainda muito jovem. E claro, como esperado, isso trouxe consequências que influenciam em como ela leva sua vida no futuro. Eu gostei do caminho mais leve que a autora optou abordar isso, mostrando as consequências que acarretaram na vida da protagonista. Aliás, este não é um livro sobre drama, senão sobre o amor, sobre nossas escolhas e medos, e, principalmente, sobre nossa ingênua estupidez.
Marina quer viver livre, leve e solta, enquanto fotografa o mundo.
Ela se convence que não está para o amor, que tem um defeito, porque oras, ela tem a vida corrida e maravilhosa que sempre quis, vivendo intensamente, onde o amor não tem espaço. Onde a DOR não tem espaço. Porque amar não se trata apenas da flor bonita, trata-se também de seus espinhos. O medo dela é camuflado em todas as suas escolhas, e não é justamente isso que fazemos quando tememos nos machucar? Não contamos mentiras doces até nos convencermos de que elas são verdadeiras? Ninguém quer sofrer. Ninguém quer enfrentar de peito aberto àquilo que o machuca ou pode machucar. Somos forçados a isso.
Mariana se convence de tantas ilusões, mantendo-se sempre na superficialidade, sua profissão mesmo é um bom exemplo, é a fuga perfeita para os seus medos. Não é preciso se apegar, e se não me apego, não amo; se não amo, logo não sofro. Isso é gritante quando ela se esbarra em André, cujo apresenta uma ameaça a sua falsa estabilidade, então os mecanismos de defesa, que usamos sem dó nem piedade, apresentam-se para o serviço. Mariana faz de tudo para convencê-lo que ela não está nem aí quando, na verdade, está tentando convencer a si mesma disso. É engraçado que mesmo que ela se esforce, aliás, apenas o fato dela se esforçar tanto faz somente deixar mais nítido o medo que ela tem de se envolver mais profundamente com alguém, que não sejam suas relações de amizade e paternal com seu pai.
O “babaca” faz seu mundo firme estremecer e seus medos gritarem.
André é o tipo certinho, o professor de inglês com aspirações musicais, que leva uma vida ordeira, e está focado se preparando para sua prova de doutorado. Em seu planejamento não há espaço para amores experimentais... até que ele se esbarra em Mariana.
André e Mariana são pólos extremos e sabem disso. E acreditam que por isso não podem ficar juntos, então eles começam um torneio de quem sofre mais.
Quem será que esconde melhor?
O medo tem um papel fundamental em nossas vidas, podendo nos preservar de grandes dores e perigos, como também de nos roubar grandes e únicas oportunidades.
Mas, então, para o bem de duas cabeças duras e grandes mulas teimosas, a vida vem mostrar-lhes que pólos extremos podem sim ficarem juntos desde que tenham disposição para encontrar o equilíbrio e fazer concessões..., mas até lá, meu amigo, eles penam!
Este é um romance construído pedra a pedra, lentamente, com dor, tristeza e alegria.
É incrível como nós gostamos de nos enganar e complicar coisas que são tão simples apenas porque temos medo de sermos rejeitados, de ganhar aquilo que já é nosso: o “não”.
Sempre tentamos conquistar o sim, não o “não”. Então por que sofremos tanto, perdemos tantas coisas por medo de que o outro nos faça lidar com o que já temos?
Dresa não poderia ter sido mais feliz descrevendo em sua história e seus personagens uma realidade que é tão presente em nossas vidas. Nos consideramos espertos pra caramba enquanto agimos da forma mais estúpida que podemos, cheios de achismos e impressões equivocadas que só servem para nos fazer dar murro em ponta de faca, sofrer e fazer o outro sofrer. Escolhendo pelo outro, acreditando que estamos sendo altruístas, quando, na verdade, estamos desrespeitando o outro e sendo muito egoístas e covardes.
Quando vamos aprender a perguntar antes de tirar conclusões precipitadas?
Quando vamos perder o medo de perguntar? Ou nunca iremos?
Talvez não, talvez sim.
Não posso ignorar que essas tolices também têm seus pontos positivos como, por exemplo, nos tornar mais fortes, amadurecer e nos preparar para lidar com o que está por vir.
Mariana e André nos fazem pensar no tempo perdido, mas também nos faz pensar que por mais que desejamos nem sempre estamos pronto para lidar com algo tão grandioso, que as lutas são necessárias, que o sofrimento, infelizmente, é um caminho que devemos percorrer para que aprendamos a dar valor no bem precioso que apanharemos no final do caminho.
Todos buscam a felicidade, muitos encontram, mas são poucos que sabem valorizá-la, bem como ocorre com o amor.
Como duas mulas teimosas, André e Mariana, tiveram de percorrer o caminho.
Foi penoso.
Foi enfadonho.
Foi desesperador.
Foi dolorido.
Foi carregado de expectativa, de “e ses”.
Foi conquistado sob muita luta, mas só foi conquistado quando eles decidiram agir sendo honestos com eles mesmos.