Tiago 13/12/2016
Literatura e Psicologia
Esta edição de contos da Katherine Mansfield publicada pela L&PM traz nove contos com a tradução maravilhosa da Denise Bottman, selecionados pelo tradutor Guilherme da Silva Braga: "Prelúdio", "Euforia", "Psicologia", "Aula de canto", "A vida de Mã Parker", "O desconhecido", "A festa ao ar livre", "A casa de bonecas", "A mosca" e "O canário".
Mansfield, como poucos contistas, tem a habilidade de suspender a um nível peculiar em seus contos as nuances psicológicas de seus personagens em momentos de leve desconforto; insegurança, tensão, euforia, melancolia, medo aparecem em nível subentendido, mesmo que nos contos deste livro, e mesmo subentendidos, formam o plano de fundo dos contos, como se seus personagens estivessem sempre num limiar delicado de ordem e desordem, caindo sempre, à conclusão dos contos, na desordem, no desconforto de seus sentimentos frente às situações. São esses estados psicológicos que cruzam e fecham os contos, deixando nós, leitores, sozinhos, abandonados tal qual os personagens diante das sensações que são expostas diante de acontecimentos em maior parte corriqueiros dos costumes europeus do início do século XIX.
Entretanto, o que nos atravessa hoje é o aspecto imutável dessas mesmas sensações: medo, melancolia, euforia, etc, que aparecem nos contos. Mansfield tem uma narrativa que se equilibra entre a sobriedade dos atos e o floreio cuidadoso dos sentimentos. O conto, enquanto gênero, parece ter uma estrutura própria para acomodar o que pretende a autora: não há muito o que dizer, o que fazer, o que resolver diante do que se quer mostrar, que é a sensação acontecendo e paralisando seus personagens. Um estilo que se aproxima de sua contemporânea, Virgínia Woolf, que disse sentir pela escrita de Manfield o que nunca antes havia sentido pela escrita de ninguém: inveja.