Marcelo.Araújo 11/10/2023
Ela traiu Vader. Ele vai perdoar?
Habituada à vida luxuosa nos altos cargos do Império, a governadora Everi Chalis considera um desaforo sua repentina designação para administrar o periférico e subdesenvolvido Sistema de Haidoral Prime; e como uma mulher que se sente afogada pelo menosprezo masculino, ela opta por abandonar o barco na primeira oportunidade, que no caso, foi entregar-se à Rebelião.
Sem dar a mínima à causa Rebelde, Chalis sente repulsa pelos selvagens guerrilheiros da Resistência, mas mesmo assim cede seu vasto conhecimento logístico acerca das fraquezas do Império para fornecer alvos estratégicos para combate; e sua motivação era meramente pessoal: se não fora reconhecida quando servia ao Império, agora, trabalhando contra ele, seria notada pelos mesmos que a subestimaram —mesmo que isso resultasse em ter a cabeça caçada por ninguém menos que Darth Vader.
E neste ponto o livro te prende por questionar "Como será quando ele a encontrar?"
—Eles são da 501ª, a Legião pessoal de Darth Vader.
—O que isso quer dizer? Que Vader está aqui?
Chalis fechou os olhos com força e assentiu.
—A nave dele pousou há dez minutos. Está vindo atrás de mim.
A história tem como diferencial e ponto forte a secura do realismo: aqui não há herói, nem o encanto de um lindo mocinho. Não existe o acaso protegendo os justos, muito menos a Força. Não há salvador de última hora, e os stormtroopers não atiram tão mal quanto nos filmes.
Não é o cenário mágico vitorioso das telas de cinema. Somente ódio e amargura preenchem o coração dos que testemunham a guerra. Mortes, amputações, pessoas sendo literalmente partidas ao meio, carne exposta, sequelas irreversíveis, e a beleza ceifada daqueles que tiveram o rosto desfigurado por chamas ou bombas, inclusive crianças. Feridos nos últimos suspiros chamando por suas mães (à la Resgate do Soldado Ryan). O impacto da desorientação após a perda de um líder, a tortura, e a deserção.
Os protagonistas não são dotados —nem de longe— do brilho da inocência, ou mesmo um passado que justificasse integrarem a Rebelião (como Luke Skywalker que teve a casa e a família destruídos pelos imperiais). Longe disso, suas índoles são tão duvidáveis que você se pergunta a todo momento se não seriam psicopatas; e um deles (o principal) tem medo do que seria viver em paz após o fim da guerra; outro, se mune de um blaster proibido em toda galáxia por ser dilacerante demais.
O autor apresenta poucos escrúpulos no que se refere ao Family Friendly, então, para quem gosta de respirar das sobras do bom e velho senso de realismo, a Companhia do Crepúsculo.
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