Cristine 18/02/2020
Crítica ao mundo do trabalho dá o tom em clássico infantil protagonizado por urso
Enquanto imagens de ursos ganham espaço na paisagem urbana, estampando de rótulos de cerveja e marcas de bar a placas de escolas particulares, os ursos vão perdendo a batalha pela sobrevivência. A nossa capacidade de produzir e consumir fofura parece diretamente proporcional à nossa incapacidade de agir para alterar o destino das espécies ameaçadas. Em vez disso, deixamos que eles se transformassem em símbolos, balas de goma, presentes diplomáticos — no caso dos pandas —, memes ou personagens eternos de livros para crianças.
Foi do livro infantil, certamente, que o urso migrou para a cultura pop dos adultos contemporâneos, num sintoma, entre muitos outros, da infantilização estética que vivemos nos nossos dias. Sem constrangimentos, marmanjos e mulheres feitas se derretem por ursinhos carinhosos.
Sempre sob o nosso comando, os ursos estão invariavelmente carregando mensagens políticas. Ursos-polares solitários se tornaram clichês do jornalismo ambiental em matérias sobre a emergência climática. A escritora japonesa Yoko Tawada foi além e explorou no romance Memórias de um urso-polar (Todavia) a obsessão dos alemães com o urso Knut, que nasceu no zoo de Berlim para se tornar uma estrela das redes sociais, antes de agonizar em praça pública.