Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 14/02/2019Quando realidade e fantasia se encontramNão posso começar essa resenha sem deixar de dizer que me apaixonei por Adelphos. Quando li o prólogo da obra eu quase desanimei, pois não estava entendendo nada: um monte de nomes difíceis, um mundo totalmente diferente do nosso. E olha que até mapa tem nesse livro. Naquele momento, pensei comigo: “a leitura será longa e pedregosa como parece ser esse mundo aí…”. Mas, longe disso, a narrativa de Adelphos me envolveu até a última página e agora tudo o que possa fazer é aguardar ansiosamente uma continuação.
Os capítulos do livro são curtos e a narrativa é sempre interrompida em um momento perfeito para prender o leitor. Além disso, a história vai alternando entre os passos dos personagens principais e também de outros personagens não menos importantes para o desenrolar dessa história.
Logo no começo do livro conhecemos, em primeiro lugar, Enzo, um carioca surdo e praticante de tiro com arco. O jovem sonha participar das Olimpíadas e, para isso, treina duro. Além do tiro com arco, esse personagem também gosta de MMA e de nadar. Por ser surdo, Enzo tem problemas com seu pai, que o despreza por sua deficiência.
Depois de Enzo, somos apresentado a Milena, que será chamada de Mila ao longo de toda a história. Ela mora em Santa Catarina e nasceu com um sério glaucoma que a deixou praticamente cega. Ainda assim, ela treina para participar das Olimpíadas como ginasta. Além disso, Mila também pratica Kitesurf. Mila sofre nas mãos de sua madrasta, que a considera uma incapaz.
Por fim, conhecemos Danilo — ou Dan —, um baiano que perdeu uma das pernas após um acidente e que usa uma prótese. Ele treina para poder competir no atletismo das Olimpíadas, além de gostar de praticar escalada. Ele vive com a avó, pois seu pai o abandonou quando ele nasceu e sua mãe o abandonou depois que ele perdeu a perna.
Com essa “pequena” introdução já podemos perceber que esses três jovens têm muito em comum, apesar de morarem em regiões distintas desse nosso Brasil. Mas as coincidências não param por aí: um belo dia, enquanto estão relaxando em diferentes tipos de águas — Enzo na piscina, Mila na Lagoa e Dan em uma cachoeira — eles avistam uma luz e são sugados por ela….
Essa luz os transporta para um outro mundo. E é nesse mundo que tem aquele monte de nome estranho que vi no prólogo e que eu não estava entendendo nada. Mas, aos poucos, passamos a compreender cada detalhe. Vamos desvendando cada canto desse estranho mundo com Enzo, Mila e Dan e também com os companheiros que eles encontram pelo caminho.
O mundo para o qual eles são transportados chama-se Oykos e está dividido em 12 terras: Kéfali, Láthos, Pólemos, Dásos, Agrótis, Metallórykos, Ámnos, Zóa, Mýga, Sóphos, Neró e Adelphia. Cada uma dessas terras possui um lema e, antes de exemplificar, preciso dizer como esses lemas — e tantas outras passagens do livro — fizeram com que eu enxergasse essa história de maneira metafórica. Mas vamos ao exemplo e daqui a pouco me aprofundo nisso. O lema de Agrótis, a terra que cuida dos grãos e alimentos que servem a todas as outras terras é apresentado e explicado na seguinte passagem:
” — Nosso lema é: ‘Semear, Cuidar, Crescer e Colher’. Isso vale não apenas para os cereais, mas também para as nossas vidas. Tudo o que semeamos na vida, com certeza colheremos”
Adelphos (p.63)
Percebem o porquê de minha leitura metafórica? O trecho acima passa muito bem do concreto para o metafórico, o que nem sempre é tão explícito ao longo do livro. Mas até mesmo Oykos, como um todo, não seria um imenso refúgio necessário para os três jovens que sofrem tanto em suas realidades?
Mas não se enganem: Oykos está muito longe de ser um mundo perfeito. Ali o bem e o mal estão em constante disputa pela dominação total das terras. A opressão ocupa lugar de destaque, ainda que Oykos tenha tudo para funcionar de maneira harmoniosa.
E se quando mencionei o fato de que em Oykos existem 12 terras você — assim como eu — lembrou-se de Jogos Vorazes, é porque ainda não mencionei os Jogos da Liberdade (que apesar do nome, são horríveis), em que cada terra deve enviar um “tributo” para uma ilha onde vivem os prisioneiros de Oykos e as criaturas que foram totalmente dominadas pelo ódio e pelo mal. Vencem aqueles que conseguirem atravessar a ilha e chegar vivos ao outro lado, o que está bem longe de ser uma tarefa simples.
Já deu para imaginar as encrencas que Enzo, Mila e Dan encontrarão pela frente, não? E é incrível ver como tudo é minimamente pensado e construído nessa história. O livro pode até parecer grande, mas não há uma palavra supérflua ali. Fora as milhares de lições de vida e tapas na cara que recebemos ao longo da leitura.
Eu até diria que esse livro me apareceu no momento certo, mas não acho que existiria um momento “errado” para ele aparecer. Um livro que fala sobre amizade, sobre perdão, sobre superação, sobre empatia… Enfim, um livro que fala sobre tantas coisas bonitas certamente poderá te ajudar nos mais diversos momentos de sua vida, seja uma briga banal, um briga séria, um momento de dor, de reflexão e até em momentos de alegria. Adelphos é uma história que nos reconhece como humanos e que nos faz pensar sobre os poderes que temos por sermos quem somos.
Se você gosta de histórias de fantasia, mas que sabem mesclar perfeitamente a realidade; se você gosta de livros que te fazem refletir, mas que ao mesmo tempo ajudam a distrair a mente; se você gosta de histórias bem construídas… Esse livro é pra você! Tenho certeza de que Adelphos irá conquistar o coração de jovens e adultos, basta que vocês acreditem e deixem ele entrar no coração de vocês (assim como deve acontecer com a marca de Pneuma…).
site:
https://blogdastatianices.wordpress.com/