Fordlandia

Fordlandia Greg Grandin




Resenhas - Fordlandia


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Leila 08/05/2023

Fordlândia, escrito por Greg Grandin, é uma obra extremamente esclarecedora e fascinante que retrata a tentativa fracassada do industrial Henry Ford de construir uma cidade-modelo na Amazônia brasileira.

O autor mergulha em uma pesquisa aprofundada sobre a história de Fordlândia, desde sua criação em 1928 até seu colapso em 1945. Ele analisa minuciosamente as razões por trás do fracasso do projeto e como ele afetou a região amazônica e o povo brasileiro.

Grandin descreve a tentativa de Ford de impor sua visão de sociedade americana na Amazônia, com prédios em estilo Art Déco, moradias para os trabalhadores, campos de golfe e igrejas protestantes. No entanto, ele não levou em conta a cultura local e as necessidades da população. Além disso, Ford não conseguiu lidar com os desafios climáticos, geográficos e econômicos da região.

O livro é uma crítica à mentalidade imperialista de Ford e ao capitalismo selvagem que ele representava. Grandin argumenta que Fordlândia é um exemplo perfeito de como a exploração dos recursos naturais e a exploração da mão de obra destruíram o meio ambiente e a vida das pessoas na região.

Ao longo do livro, o autor nos leva em uma jornada através da história da Amazônia e do Brasil, apresentando uma análise profunda e envolvente sobre um capítulo pouco conhecido da história do país, que eu confesso, desconhecia. Ele nos faz refletir sobre as consequências das ações dos países ricos em relação aos países pobres e a importância de respeitar as culturas e as tradições locais.

O que eu gostei muito no livro também é que o autor faz uma biografia do Henry Ford nos levando a entender o porquê desse seu desejo de projeto no Brasil, nos dá uma boa ideia de sua personalidade ambígua e controversa, deixando mais fácil a compreensão dessa parte de nossa história.

Enfim, Fordlândia é um livro altamente informativo, esclarecedor e revoltante também, porque como sempre há muita politicagem, tramóias e afins, mas digo que vale a pena ser lido por todos.
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Marconi Moura 04/06/2022

8,0 / 10,0
O livro não trata apenas da história da cidade inventada por Ford no meio da floresta amazônica. A narrativa atravessa aspectos da história do próprio Ford e de sua empresa no sentido de compreender o proselitismo que levou o famoso industrial a gastar milhões de dólares de forma imprudente em um empreendimento no interior brasileiro sem qualquer retorno.
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Andreia Santana 26/12/2018

O fardo civilizatório do homem branco
A cena do Vagabundo sendo engolido pelas engrenagens de uma super máquina, em uma linha de montagem fabril, é de 1936, mas ainda serve de metáfora para definir o capitalismo devorador e o consumo predatório que exigia cada vez mais indústrias para alimentá-lo.

Da mesma forma, Admirável Mundo Novo, romance de 1931 de Aldous Huxley, imagina um futuro governado por uma ditadura super tecnológica, onde os humanos vivem em um país modelo e são rigidamente controlados, embora tenham a ilusão de liberdade e progresso.

As duas obras, frequentemente, são lembradas como visionárias por definirem aspectos do mundo atual, com suas estruturas que esmagam pessoas, as pasteuriza e desumaniza. As séries de ficção como Black Mirror têm de onde tirar inspiração. Mas não somente ela.

Não à toa, o filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, e o romance distópico de Aldous Huxley, estão entre as muitas referências usadas pelo professor de história norte-americano Greg Grandin para compor Fordlândia - Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva.

O livro, publicado no Brasil pela Editora Rocco, faz um apanhado da história da construção das cidades modelo de Fordlândia e Belterra, na região do rio Tapajós, na Amazônia, entre os anos 1920 e 1940 do século passado.

A cidade fictícia de Admirável Mundo Novo se chama Nosso Ford e representa uma ácida e direta crítica do autor ao mundo onde ele vivia e aos processos de padronização e eficiência industriais desenvolvidos por Henry Ford. Sensível às mudanças de seu tempo, Aldous Huxley conseguiu antever com clareza para onde a humanidade caminhava graças a homens como o multimilionário empresário americano do ramo automotivo, tido como um dos responsáveis por lançar as bases do capitalismo moderno.

Admirável Mundo Novo não faz concessões ao Fordismo, termo criado em 1914 para definir os sistemas de produção em massa e gestão idealizados por Henry Ford. Fordlândia tampouco ameniza o tom da crítica ao definir a empreitada do empresário na Amazônia como ‘arrogância’.

Mas não porque os homens da Ford pensaram que dominariam a floresta.E sim porque em seus experimentos no Brasil e nas cidades fabris modelo que construiu nos Estados Unidos, Henry Ford subestimou o tamanho do monstro que criou.

Até o fim de sua vida, Ford acreditou que era capaz de reverter os impactos negativos do capitalismo industrial, porque ele realmente era entusiasta do progresso e acreditava na tecnologia como salvação da humanidade. No entanto, como o próprio Greg Grandin afirma: as forças liberadas pelo empresário e seus pares engoliram não só pedaços generosos da floresta sul-americana, mas dos EUA; ajudando ainda a redesenhar geografias em todo o mundo e a moldar as relações de trabalho e de consumo contemporâneas.

A desculpa da borracha

Ford pretendia iniciar uma plantação de seringueiras e explorar o potencial econômico da maior floresta tropical do mundo. O Brasil já havia vivido tempos áureos na produção e exportação de borracha, dominando o mercado global. Mas, graças à biopirataria, milhares de sementes de seringueira brasileira foram contrabandeadas para colônias europeias na Ásia. E a Europa passou a dominar o mercado de borracha, controlando a política de preços, o que atrapalhava a indústria automotiva de Ford.

Mas, não era só para tornar-se independente do mercado mundial de borracha que Ford gastou milhões de dólares na Amazônia. Além do interesse econômico, como um legítimo homem de seu tempo, imbuído daquele ‘sentimento cristão de obrigação civilizatória do homem branco’, o magnata pretendia com as duas cidades no coração da selva, concebidas para reproduzir nos trópicos o 'american way of life' (modo de vida americano), "trazer o progresso para uma região subdesenvolvida e inculta".

Um ensaio de história com ares de epopeia e pitadas de romance de aventura, embora toda a narrativa seja real e calcada em documentos da época, o livro também pode ser lido como uma acurada reportagem sobre os Estados Unidos e o Brasil do período entre as duas grandes guerras.

Entrelaçando as dificuldades para instalar as cidades modelo e as plantações na Amazônia, com o contexto histórico mundial, da América de Ford e do Brasil entre os anos 1920 e 1940, Grandin ainda apresenta um interessante perfil do empresário, mostrando sua personalidade controversa e seus anseios antagônicos.

Ao mesmo tempo em que ele defendia salários justos para os operários de sua fábrica em Detroit, aprovava os desmandos e abusos - incluindo agressões físicas e assassinatos - cometidos por um dos gerentes da empresa, para impedir a adesão de trabalhadores aos sindicatos.

Se por um lado investia em hospitais e escolas nas suas cidades modelo, por outro criava mecanismos de controle dignos da cidade huxliana de Nosso Ford, autorizando políticas sanitárias invasivas e inspeções de rotina nas casas dos trabalhadores das suas fábricas, usinas e serrarias.

Epopeia na selva

Ao iniciar o projeto na Amazônia, Ford determinou a implantação das mesmas políticas populistas e paternalistas de assistência social que desenvolvia nos Estados Unidos. Além disso, o próprio processo de concessão das terras da floresta pelo governo brasileiro foi pontuado por idas e vindas e escândalos de corrupção protagonizados por políticos e aventureiros de todo tipo.

O anúncio de sua chegada - o homem em si nunca pisou na Amazônia, mas naquela época, o Ford homem se confundia com a Ford empresa - encheu centenas de pessoas de cobiça e outras centenas de esperança por emprego, moradia digna e educação.

Algo bem semelhante ao que ainda acontece nos dias atuais, quando grandes indústrias anunciam a construção de fábricas em cidades remotas do Norte ou Nordeste do Brasil, ou em países pobres da África e Ásia, prometendo empregos e desenvolvimento econômico em troca de gordos incentivos fiscais e isenções.

Boa parte das vezes, os nativos empregados nessas novas indústrias não ocupam os melhores cargos com os melhores salários e, tão logo os incentivos públicos terminam, as empresas abandonam as cidades à própria sorte.

Em Fordlândia e Belterra, Henry Ford acumulou milhões em prejuízos financeiros por diversos fatores, como sua equipe não estar preparada para a vida em uma selva tropical inexplorada e não entender absolutamente nada de cultivo de borracha.

Henry Ford, no auge do seu sucesso, afirmava detestar História e, no fim da vida, adotou a História como uma obsessão que apenas alimentava um conservadorismo que ele tentava esconder a todo custo.

Mas, se ele ou seus prepostos enxergassem a História com as lentes do bom senso, não teriam demorado tanto para entender que transplantar o modo de vida norte-americano para o Brasil era um equívoco justamente por desprezar as características do país, da região amazônica e da população local.

Bastava olhar para além do próprio quintal e aprender com as nações europeias imperialistas do século XIX ou com os colonizadores/invasores ibéricos do século XVI, que usando a mesma desculpa de ‘civilizar povos incultos’ causaram feridas até hoje ainda não cicatrizadas em boa parte da África, da Ásia e da América Latina.

Um trecho do livro para dar o gostinho:

“Em meados dos anos 1920, os americanos, em sua maioria, ainda pensavam em Ford como o Ford de 1914, o reformador que, com seu Dia de Cinco Dólares e seu Departamento Sociológico, prometia instalar um novo humanismo industrial, cultivar trabalhadores virtuosos e produtivos por meio da educação cívica e do poder de persuasão de altos salários condicionados a uma vida regrada. Porém, Ford havia em grande parte abandonado seu liberalismo paternal. Sua empresa, em particular a nova fábrica em River Rouge, crescera demais para isso. Ford ainda pagava melhor do que a maior parte das empresas industriais, mas passara a usar duas táticas bastante diferentes para elevar a produtividade e fazer cumprir a disciplina de trabalho em seu grande império de Michigan. A primeira tática era o aumento de velocidade, que levou a ideia de linhas de montagem sincronizadas aos limites da resistência humana e transformou o trabalho para Ford, nas palavras de um funcionário, em um “inferno na Terra que transformava seres humanos em robôs teleguiados.” “O sistema de esteira que você tem é um acionador de escravos”, escreveu a esposa de um operário a Ford. “Os US$ 5 por dia são uma benção”, escreveu ela, “maior do que o senhor imagina. Mas, oh, eles os merecem”. A cada dia parecia que a esteira se movia um pouco mais depressa, à medida que técnicos em desempenho, equipados com cronômetros, observavam os trabalhadores, imaginando maneiras de eliminar, aqui e ali, segundos de seus movimentos. Intelectuais e críticos sociais começaram a chamar a atenção para a desumanização da linha de montagem. “Nunca antes”, escreveu um observador da época, “seres humanos haviam sido tão encaixados nas máquinas como peças menores sem independência nem possibilidade de manter seu respeito próprio”.

(Fordlândia, Greg Grandin, págs. 79 e 80. Ed. Rocco)


site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Daniel432 17/12/2011

Venceu a Floresta
Henry Ford foi um visionário, desenvolveu a indústria de tal forma que não consigo imaginar o que seria do capitalismo se ele não tivesse existido!!

Entretanto, até os visionários tem limitações, defeitos. Para mim, a cidade idealizada e criada por ele no meio da floresta Amazônica é um exemplo nítido destas limitações e defeitos.

Fordlândia foi uma verdadeira aventura, uma aventura que por desconhecimento, teimosia e soberba custou milhões de dólares. Ford, na ânsia de dominar todas as fases da produção de veículos pensou que a floresta Amazônica era igual às florestas de Michigan, ledo engano.

Ford e seus gerentes desconheciam as características da floresta Amazônica, desconheciam as pragas que atacavam as seringueiras, desconheciam que a sabedoria da natureza esparçava as seringueiras em virtude dos insetos que as atacavam.

Ford em sua teimosia e soberba investiu rios de dinheiro em um empreendimento que após pouco tempo já se mostrava irrealizável, mas para manter sua imagem de homem de sucesso, optou por manter um empreendimento deficitário, situação bastante improvável considerando de quem se tratava, o criador da linha de montagem.

O livro é bom, o autor escreve bem, tornando a leitura fácil. Para mim, uma crítica a ser feita é sobre o fim do livro (último capítulo) onde o autor esquece-se da Fordlândia propriamente dita e passa a criticar e a mostrar as mazelas do Brasil em relação à Amazônia. Longe de mim querer ocultar estas mazelas, elas existem e devem ser solucionadas, porém não era esta a função deste livro.

Deixo uma sugestão, leia a primeira parte deste livro (até por volta da página 81) e depois veja o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Você verá Tempos Modernos com outros olhos!!!
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Luis 09/12/2011

A utopia tropical de Henry Ford.
A necessidade premente de borracha foi a causa oficial para uma iniciativa exótica de Henry Ford : a instalação de uma plantação de seringueiras na Amazônia, outrora o Império da Borracha.
A aventura começou em 1927, quando o estado do Pará cedeu uma área gigantesca para que o industrial iniciasse o seu projeto. O historiador Greg Grandim recupera essa página perdida do capitalismo do século XX, aproveitando para fazer uma análise ampla do Fordismo e , no último e melhor capítulo, um apanhado sobre a atual situação da Amazônia frente às demandas da economia mundial.
A visão idílica de Ford ambicionava uma perfeita integração entre a natureza e o mundo industrial, do qual foi o principal formatador ao criar o conceito de linha de montagem na fabricação do Ford T, o modelo que popularizou o uso do automóvel e que, nesse quesito, só seria superado pelo Fusca , décadas depois.
O objetivo inicial, o de suprir as fábricas da empresa do quantitativo de borracha necessário na produção, nunca foi de fato atingido, derrotado por sucessivas decisões equivocadas, fruto de uma postura arrogante dos executivos americanos, que tentavam impor aos trabalhadores uma lógica calcada no american way of life, desprezando a cultura e tradição local. Como resultado havia uma tensão constante que culminou em uma revolta por parte da força de trabalho, resultando na quase total destruição da cidade, em 1930.
Mesmo assim a Ford não desistiu. Reconstruiu a Fordlândia, fez algumas concessões quanto ao controle da mão de obra, e , mais tarde, segundo conselho de “especialistas” no cultivo das seringueiras, transferiu a plantação para uma região cerca de 100 quilômetros distante do terreno original. Mais uma vez, a natureza foi impiedosa. Pragas constantes devastavam as árvores plantadas, o calor úmido e sufocante minava as resistências dos gerentes e supervisores ianques, chuvas torrenciais deixavam a área isolada por dias a fio.
Finalmente, em 1945 a Ford entregou os pontos. A Fordlândia foi cedida ao governo brasileiro e virou uma espécie de laboratório botânico gigante. Mais tarde, outros problemas levaram ao abandono definitivo da região.
Hoje, as ruínas do sonho perdido de Henry Ford na Amazônia jazem envoltas em mato. Ao menos dessa vez, a selva derrotou a indústria.
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Bruno T. 12/09/2010

Excelente reportagem
Mais do que sobre a Fordlândia, o livro é sobre Henry Ford e sobre o fordismo. E não poderia ser diferente: para entender os motivos que levaram Henry Ford a embarcar numa aventura tão arriscada, é preciso primeiro conhecer a figura genial e, ao mesmo tempo, "maluca" do empresário que revolucionou o mundo industrial.
Mesmo após ler as 400 páginas do excelente livro-reportagem de Greg Grandin, e sabendo que mesmo nos dias de hoje um empreendimento do porte da Fordlândia seria extremamente complexo e caro, não é nada fácil imaginar o que deve ter sido a implantação de uma cidade em plena selva amazônica há mais de 80 anos, com as limitações tecnológicas da época.
Os milhões de dólares que Ford investiu em sua utopia brasileira, com objetivos muito maiores do que apenas produzir latex, só tem justificativa na maneira como Ford vislumbrava o futuro e na forma como dirigia seus negócios, sempre com base em suas crenças pessoais e não no planejamento.
Um ótimo livro, apesar da tradução nem sempre impecável: não é meu hábito criticar traduções, mas, ao longo da obra, são diversos os erros de concordância e as frases sem muito sentido.
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