Léo 26/07/2016
Ideal, inteligente e revelador
Mais uma vez, merecidos aplausos para a editora por receber autores e obras tão habilidosos e marcantes. As minhas expectativas para ''O Grupo'' eram realmente boas, porém, já devo afirmar que elas foram superadas positivamente. Esse ''Grupo'' merece ser conhecido por todos para consequentemente ofertar aos leitores os seus exemplos de comportamento social e as decorrências que falhas de caráter, organização e divisão familiar podem causar no desenvolvimento dos jovens. A leitura carrega traços apreensivos e reflexivos sem deixar que componentes como a beleza da conduta humana autêntica se perca no meio de tantos mistérios. ''A vida é cheia de surpresas. Há sempre coisas que não podemos prever, planeje, prepare-se, mas tenha raciocínio rápido e criatividade, pois a instabilidade da vida é inevitável. Controle o que puder e se prepare para o inesperado.''
Aquele que pegar o livro de Saulo Moreira para ler, além de acompanhar uma eletrizante trama tecida de maneira brilhante, ganhará um montante expressivo de conhecimento sobre o comportamento humano e os motivos que condicionam cada ação dos envolvidos no enredo. O leitor trará para a sua realidade esse entendimento de tais ações e as alterações que o meio proporciona para as relações no grupo social.
De início, fui surpreendido pela objetividade do autor, que sem rodeios, aponta situações, possíveis circunstâncias, esferas e seus protagonistas. O suspense policial tem uma caracterização de personagens muito bem definida e uma pitadinha extra de estilos de escrita bem marcantes e viciantes. Essa explosão de definições também é usada para passar pontos precisos sobre o ambiente — meio social — e empolga causando excitação pela maneira que é emitida. Conhece-se Eduardo, o rapaz de físico bem definido; Júlio, de sorriso orgulho e ''dreads'' nos cabelos; Samuel, o ''meio'' gordinho do grupo; Carlos, o desatento; Carol, Riani e Pedro que se identificavam bastante com Rodolfo, o supremo senhor, o mestre manipulador nos jogos de RPG; Sabrina, de pai ciumento e superprotetor, além de alguns outros personagens participativos do enredo. Essa turma de amigos curte jogos de RPG e depois de tempos separada passa a se encontrar novamente para organizar as partidas. A cada reencontro, laços mais estreitos se fazem e muitos vícios e segredos vêm à tona. Na obra fica evidente a diferença socioeconômica, religiosa, filosófica e comportamental de cada um dos personagens. Isso foi emitido com brilhantismo e o autor soube fundir com idoneidade às analogias de cada um também. A propósito, os jogos de RPG identicamente são bem definidos e o leitor fica a par de como tudo é estabelecido nas partidas.
A perfeição nos diálogos da história remetem o leitor a um estado crítico de condição social, deixando manifesto o modo de comportamento de cada personagem. Descobre-se a despretensiosidade desses personagens quanto aos seus exteriores. Leitor e figuras se encontram em um cotidiano muito normal, comum para uns e atípico para outros — no que diz respeito aos jogos de RPG —, mas a similitude social logo joga para escanteio a desconfiança do leitor ao pensar que a obra não causará reflexão sobre o sociável. em alguns trechos, a retratação sobre o descaso das autoridades quanto ao meio público é apontada francamente.
O grupo retratado traz à tona os problemas típicos de uma sociedade perdida, deixada ao acaso, corrompida ao longo das décadas, inutilizada por inúteis e incompetentes do poder. Os jogos, aqui mencionados, simbolizam mais do que o simples prazer pela prática propriamente dita. Desenha o retrato dos confrontos NA VIDA e PELA VIDA; associa o grupo jovem da sociedade à totalidade de suas incertezas e inseguranças e, ao mesmo tempo, induz o leitor a refletir sobre seus próprios atos a favor e contra o meio social, assim como também o questionamento sobre QUEM É QUEM e EM QUEM se pode realmente crer.
Em ''O Grupo'' vê-se um roteiro inteligente e bem traçado, robusto, encorpado com diferentes temáticas, tanto individuais quanto coletivas, embora o eixo apelativo seja um só. Além do mais, durante a leitura acompanha-se o retrato da estrutura familiar e as consequências que diferentes modelos socioeconômicos causam em cada jovem. A busca pela similaridade — o gosto pelo RPG, festas, bebidas — que os torna parte igual de uma sociedade desigual, medíocre e fraca ao ponto de excluir muitos elementos apenas por aspectos inestéticos e ilógicos é um dos pontos a se pensar durante a leitura. Resultantes a isso aparecem as brigas no âmbito familiar, a desestruturação individual, o consumo de entorpecentes e bebidas alcoólicas, e o preconceito racial.
A forma como o autor mostra os assuntos que compõe o livro me fez avaliá-lo e assemelhá-lo a um catedrático. Sua maestria fica comprovada desde as primeiras páginas. Alguns dogmas são expostos ao leitor situando-o em relação a mitos, como a influência de jogos no comportamento dos jovens. Mas nada é transmitido de maneira forçada. Uma sociedade já conhecida por todos é apenas apontada sem vendagens, possibilitando o leitor a assumir o seu papel no enredo.
O vilão, misterioso encapuzado de voz metálica, dá ao enredo o seu valor enigmático e perturbador que tanto é importante para elucidar respectivos conceitos. Alguns personagens apresentam características e ações suspeitas e a procura pelo assassino encapuzado que cria seus rituais macabros para justificadamente ''purificar'' com sangue os jovens jogadores, torna-se muito mais interessante ao conflitar algumas atitudes absortas com o clima criado na trama, por sinal, muito bem lapidada.
As práticas ocultistas desse personagem deixam o suspense tenso, e a trivial tese sobre a crença na ação por influência de poderes supranaturais como a magia, é levantada, fazendo uma perfeita aclaração sobre o uso hipotético desse controle, em que a manipulação macabra coloca em foco termos como o desejo pela dominação e poder.
estígios da área de psicopatia ficam evidente como um dos assuntos abordados e, para o leitor, basta encontrar a resposta para a velha pergunta: afinal, os jogos são mesmo capazes de influenciar o psíquico dos jogadores? Mas, e quanto a desatenção da sociedade com relação a formação e desenvolvimento de caráter do jovem, não seria um dos fatores para essa alteração comportamental?
A escrita de Saulo é alinhada e a estrutura usual das palavras define e garante a receptividade do leitor. Dessa forma, a leitura fica célere e fácil permitindo o acesso imediato ao universo apresentado. Os personagens foram idealizados surpreendentemente e jogados em um campo intimidador; comum mas aterrorizante e atual, onde práticas de sexo, consumo de bebidas e brigas são banalidade no grupo. Tudo se desenvolve como cenas de cinema com o velho suspense que ronda a busca pela assassino frio. A capa do livro retrata perfeitamente todo o enredo e a revisão ortográfica caprichou.
O desenrolar deixa claro a competência do autor em explorar tais assuntos. Acredito que a idealização de caráter e e a conduta no meio social não sofram influências de práticas de jogos, há uma lacuna muito importante que dita esse comportamento psicopata regado de ódio, cobiça e radicalismo. Uma mente mal instruída e despreparada gera falhas e desiquilíbrio na formação de caráter individual. Como diz um dos personagens, jogos não matam ninguém. A sensação durante a leitura foi das melhores. Senti-me instigado, incomodado, reflexivo; em muitos momentos fui capaz de curtir os jogos e me sentir parte do universo do RPG. As risadas também estiveram presente durante essa maravilhosa leitura.
Parabéns ao autor pelo empenho, o talento é realmente inegável. 5 estrelas para ''O Grupo'' de Saulo Moreira. RECOMENDO! Comprem, deixem que essa obra faça parte de suas coleções, vocês não vão se arrepender. Agradeço ao autor pela confiança e oportunidade em conhecer o seu trabalho.
site: leootaciano.blogspot.com.br