Como se estivéssemos em palimpsesto de putas

Como se estivéssemos em palimpsesto de putas Elvira Vigna




Resenhas - Como Se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas


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rfalessandra 28/08/2022

Palimpsesto de personagens e histórias e relacionamentos
Quando fiz as minhas metas literárias para este ano, algo gritou na minha mente foi à necessidade de me aventurar por novos gêneros, conhecer novos autores e me desafiar como leitora.

Por essa razão quando me deparei com a obra Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, não consegui resistir. Com uma capa interessante, uma sinopse intrigante, um título incomum e uma autora nacional.

A narrativa de Elvira é algo muito particular, o modo como ela conduz a história, confesso que não foi fácil me encontrar na leitura, a partir do momento que compreendi de fato o que estava sendo proposto tudo fluiu muito bem. Causando em mim reflexões importantes.

O livro envolve temas que para muitas pessoas podem ter um teor polêmico, como prostituição, gênero e fidelidade.

Enfim, amei a leitura, super recomendo, ainda mais por ser uma obra BRASILEIRA contemporânea de peso.
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Alê | @alexandrejjr 16/04/2022

A lógica rebelde

Recentemente, eu esbarrei em um vídeo com um trecho de uma entrevista da escritora estadunidense Siri Hustvedt ao canal Louisiana Channel. Nessa conversa, disponível no YouTube, Siri afirma que “quando você lê, você é possuído pela voz de outro”. Na sequência, ela faz uma reflexão interessantíssima que vai nortear esta resenha: Siri acredita que, justamente por esse fato intrínseco à leitura, muitos homens não leem livros escritos por mulheres, pois “eles têm que se submeter à autoridade de uma mulher e isso”, continua ela, “faz com que eles se sintam emasculados”, ou seja, que percam a virilidade ou, em termos mais claros ainda, que percam sua masculinidade.

Último romance publicado em vida por Elvira Vigna, “Como se estivéssemos em palimpsesto de putas” é literatura para leitores sofisticados. A grosso modo, como em outros livros da autora, esta é uma história em que outras histórias são contadas. E aí é que entra o tal do palimpsesto. Eu - e praticamente todos que forem ler este livro - pesquisei o que significa o maldito do palimpsesto. E, de acordo com o dicionário Houaiss, palimpsesto é um “papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado para dar lugar a outro”. E Elvira, ao juntar uma palavra tão erudita e incomum a versão abreviada e vulgar de prostituta, mostra logo no título que este não é um livro para amadores.

Em uma narrativa que mistura passado e presente, em que o que se conta é, em parte, desconhecido (eis aqui a primeira genial artimanha narrativa), Elvira vai debater as relações de hierarquia e gênero que estruturam nossa sociedade. Ela vai abordar, principalmente, as consequências da invisibilidade e do silêncio opressor praticado pelo patriarcado - do qual eu e qualquer um com um pênis no meio das pernas faz parte. É na figura do detestável João, que conta as suas historietas com prostitutas à narradora sem nome (mais uma invisibilidade proposital!), que os leitores devem perceber a primeira camada de discussão: João, o homem genérico por excelência, precisa provar a própria masculinidade através do sexo, como se fosse uma válvula de escape. E é nas prostitutas, esses seres marginalizados que antes de serem mulheres são apenas objetos descartáveis para João, que ele atinge seu vazio objetivo de poder e superioridade.

Ao optar por uma narradora sem nome que intercala as histórias de João, o irreversível frequentador de putas, e Lola, sua ex-esposa “alta, magra e loura” que sofria abusos morais constantes de seu ex-companheiro, Elvira traz à tona inúmeras denúncias relacionadas à representação da mulher. Ficção feminista por excelência, “Como se estivéssemos em palimpsesto de putas” é uma obra singular dentro da literatura contemporânea nacional. Mas isso se deve a outro fator também: o formal, estilístico. E aí eu tenho minhas ressalvas.

Se tematicamente o romance é impecável, o mesmo não se pode dizer de sua estrutura. Realizada em frases curtas e cortantes, dotadas constantemente de um sarcasmo e de uma seriedade nunca vistos por este leitor, Elvira cria certa confusão ao adotar recursos como a fragmentação, a repetição e o uso de versões para relatos anteriormente já apresentados durante a narrativa. É claro que, dessa forma, a autora problematiza o ato de narrar, o que é louvável em termos estéticos, mas não se traduz em prazer imediato para os leitores. Isso, infelizmente, me tirou com alguma frequência da leitura, apesar de compreender que eu e provavelmente novos leitores deste romance dificilmente vão se deparar com uma estrutura narrativa tão singular e, porque não dizer, tão original quanto esta.

“Como se estivéssemos em palimpsesto de putas” é um romance que merece ser lido com atenção, cuidado e principalmente paciência. O que Elvira Vigna faz aqui é de uma importância imensurável. Ao permitir que sua narradora preencha o silêncio e a escassez de vozes das mulheres que perpassam sua história, a autora se posiciona e, de maneira transgressora, devolve a identidade e a subjetividade feminina que é esmagada pela velha e incorrigível estrutura patriarcal que impera na sociedade - e na literatura - brasileira. Afinal de contas, ela mesma, enquanto esteve viva, foi uma escritora reconhecida pela crítica que, no entanto, possuía um grupo escasso de leitores e nunca estampou nenhuma lista de mais vendidos. Ou seja: é através da própria ficção que Elvira reivindica seu espaço, tanto o social quanto o literário.
Roberta 16/04/2022minha estante
Olha, estou longe de ser uma leitora sofisticada ?


Clara 16/04/2022minha estante
Parabéns pela resenha! Muito boa.
Atiçou a minha curiosidade para saber mais da obra.


Alê | @alexandrejjr 16/04/2022minha estante
Roberta, discordo respeitosamente de ti! És uma excelente leitora! Sofisticada, sim! Vi que não gostasse do livro da Elvira e posso imaginar o porquê - o que é absolutamente normal. Não é, digamos assim, um livro "agradável" de ler. O ritmo dele varia muito e a história demora a pegar, mas acho um livro muito interessante dentro do contexto contemporâneo, justamente devido aos temas que discute, como tentei destacar no texto;

Obrigado por ter lido e comentado, Clara!


Roberta 16/04/2022minha estante
Ai, Alê! Você é um doce.


Craotchky 16/04/2022minha estante
Ótimo texto, observações muito relevantes.


Jamile.Almeida 16/04/2022minha estante
Antes de continuar sua resenha, precisei parar para entender o que era ?palimpsesto?! Hehehe


Alê | @alexandrejjr 17/04/2022minha estante
Agradeço o elogio e a tua atenção, Filipe!

Jamile, pensando em ti - e em todo mundo, na real, até em mim mesmo - eu já deixei na resenha a definição! Definitivamente se faz necessário esse esclarecimento!


Julia Mendes 18/04/2022minha estante
Adoro suas resenhas, Alê! ?


Alê | @alexandrejjr 18/04/2022minha estante
E eu curto demais quando comentam por aqui, Julia! Obrigado!


Yasmin 17/08/2022minha estante
Obrigada pela resenha


Alê | @alexandrejjr 19/08/2022minha estante
Eu que agradeço a sua leitura, Yasmin. Obrigado!




Mada 14/11/2020

Ai, ai... A masculinidade frágil...
Como é que a Elvira Vigna conseguiu pegar um personagem muito bobo contando um monte de histórias ruins e repetidas, num clima de tédio e, com uma força narrativa arrebatadora criar TODA ESSA REFLEXÃO NECESSÁRIA que ela traz aqui nesse livro??? Eu estou pasma até agora com o que li. Isso que ela conseguiu fazer aqui, com esse material aparentemente tão pobre e escroto e cotidiano e machista, da maneira como ela coloca, com essa dicção única que ela tem, é de lavar a alma e reverenciar essa mulher. Elvira te amo. Leiam.
Rafael V. 24/03/2021minha estante
Eu gosto do título que explora não só a personagem principal.




André Vedder 20/09/2021

a escrita não me pegou.
Havia em mim uma expectativa alta em relação ao livro, mas que infelizmente não foi correspondida, por um simples motivo: achei a escrita da autora muito enjoativa.
No início sua narrativa entrecortada até chama atenção, mas acaba ficando maçante no decorrer da leitura. Uma pena, pois gostei da trama, e da crítica da autora ao machismo e tudo mais, mas confesso que empurrei com a barriga o seu término.

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Mona 05/09/2022

Como se estivéssemos todas em um palimpsesto
Esses discursos falocêntricos se apresentam por meio da misoginia sofrida pelas mulheres do romance, visto que tentam desumaniza-las e apagá-las da sociedade. A dor de não existir trespassa tanto as personagens femininas esposas que desconhecem a realidade dos maridos e são usadas como objeto mercantil, como também a dupla violência sofrida pelas garotas de programa invisíveis socialmente.

Todas essas violências sofridas pela figura feminina se sobrepõem em camadas, uma mulher sobre a outra e todas, de fato, sem existência para a sociedade. Assim, cria-se um palimpsesto de violências em uma crítica voraz à sociedade patriarcal. 
Alê | @alexandrejjr 04/09/2023minha estante
Muito bem explicada a ideia do palimpsesto social que dá vida ao romance da Elvira. Parabéns!




Juliane.Motta 25/06/2023

Palimp o quê?
Escolhi o livro pelo título. Tudo que vem com "puta" na capa, já me promete uma história honesta, visceral. A segunda palavra foi palimpsesto. Quem conhece essa palavra senão alguém cuja sofisticação no vocabulário e na estética seja tão perspicaz?

Na orelha do livro tem uma foto PB da Elvira, séria, mais velha, cabelo meio assimétrico, olhos como que semicerrados. No decorrer do livro eu olhava a foto e pensava: caramba, que mulher!

O enredo não segue uma ordem cronológica linear e muitas vezes te deixa com cara de "ué", mas aos poucos você aprende o ritmo e tudo flui. Com os cenários repetitivos e um mergulho nas personagens principais, dá o tempo necessário de construí-los muito bem na imaginação.

Livro curto, rápido, muito bem construído, abordando conteúdos feministas de maneira leve como tem que ser uma ficção, tem plot twist, tem também aquela dúvida sobre como a autora conseguiu amarrar tudo tão bem.
Recomendo.
Alê | @alexandrejjr 27/06/2023minha estante
É um livro sofisticado e inteligente, extremamente acessível também, como quase todas as ficções da Elvira, pelo que estou tomando conhecimento. Acho que, numa segunda leitura, Juliane, provavelmente mudaria a nota que dei a esse romance. Hoje tenho certeza que prestei menos atenção à engenhosidade dele e às sutilezas do discurso potente da Elvira.


Juliane.Motta 28/06/2023minha estante
Alê, você tá lendo muito! Sua escrita é super rebuscada rs.
Mas então, o plot twist da vingança/ vitória feminina, me pegou demais, tocou lá no fundo, sabe? Rs. A partir daí, toda estética fez muito mais sentido.




patiapple 03/02/2022

uma escrita diferente do que to acostumada, frases curtas, rápidas e diretas. de primeiro me prendeu bastante mas com o decorrer do livro acabou se tornando maçante. porém, os pensamentos de elvira são tao importantes e as ideias são tão bem colocadas que acabei deixando de lado esse sentimento de cansaço em relação a sua escrita e fiquei fissurada pela história e narração. ótimo livro, mas talvez exija um esforcinho a mais pra chegar ao fim (o que vale mto a pena)
Ariane 03/02/2022minha estante
hmm? ja tinha ouvido falar desse livro mas nao me interessava mto mas dps dessa review eu coloquei na minha estante!




Brisa 11/03/2022

Esperava outra coisa
Eu achei tudo um excesso. Um excesso de detalhes, um excesso de idas e vindas no tempo. Um excesso de relações mal explicadas. Fica tudo muito subentendido, ao mesmo tempo que explicado até demais.

No começo fiquei empolgada, mas acabei odiando todos os personagens... foi uma experiência diferente e interessante de leitura, mas simplesmente não me levou a lugar algum no final.
Brisa 11/03/2022minha estante
SPOILER: Meu Deus, que final fuleiro esse da esposa


Alê | @alexandrejjr 07/04/2022minha estante
Pelo menos foi uma experiência diferente de tudo que tu já lesse, certo?


Brisa 12/04/2022minha estante
Foi sim! Isso não posso negar




Marcelo217 04/12/2022

Entediante
O livro tinha tudo pra ser bom. A proposta e a temática chamaram muito a atenção, a execução que deixou, infelizmente, a desejar.

Quando em penso em monólogo, penso em algo como Jack Kerouac faz e foi essa expectativa que acabou com minha experiência lendo esse livro. Monólogos precisam de ritmo, de consistência para prender a atenção e foi o que faltou nesse livro.

O livro em si apresenta várias camadas e críticas implícitas em um discurso meio misandrico. É possível perceber aspectos semelhantes entre a personagem sem nome e a autora do livro (físicos, profissões, estilo, etc.). O relacionamento da narradora com o personagem João é dificil de classificar e a visão que a mulher tem do homem que lhe conta sobre sua vida muda gradualmente no percurso da história. Pontos de vista femininos (Lola, Mariana, narradora) sobre essa vida extraconjugal dos personagens (João, 🤬 #$%!& íca, Pedro) vem carregados de julgamentos e o plot da história fica do lado das mulheres, degradando os praticantes de adultério da narrativa. A autora deixa claro ao mostrar o outro lado das mulheres que sofrem nessa vida de prostituição/traição.

As histórias são interessantes, os personagens tem lá suas personalidades, todavia o desenvolver da história fica entediante pela forma que a história é contada. Em vários pontos fica até dificil compreender o que está acontecendo. O enredo no fim é imprevisível, mas não é surpreendente. Pareceu uma fábula urbana com a lição de moral no final: A vitória das mulheres em cima dos homens adúlteros e suas vidas degradadas por essa prática. O livro, com um pouco mais de trabalho ficaria agradável de se ler.
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Debora 12/09/2020

Uma leitura difícil, fragmentada
O livro inteiro tem uma escrita fragmentada, um vai e volta. Uma repetição de raciocínio.
A leitura é bem cansativa
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Our Brave New Blog 18/02/2017

RESENHA COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM PALIMPSESTO DE PUTAS - OUR BRAVE NEW BLOG
Para quem é acompanhante assíduo do site, sabe que o meu escritor brasileiro contemporâneo favorito é o senhor Lourenço Mutarelli. Porém, se me perguntassem quem é o melhor, a resposta não seria ele, e sim a senhora Elvira Vigna, dona de cada vez mais prestígio e prêmios dentro do mundo literário. Com esse último lançamento ela já ganhou mais um prêmio, o da Associação Paulista de Críticos de Arte (troféu APCA), dado antes mesmo da temporada de prêmios de 2016 (que acontecem esse ano, como o Jabuti e o Oceanus), mostrando que nego não perde tempo em reconhecer o talento dela.
Elvira tem a interessante característica de só escrever sobre aquilo que ocorreu em sua vida, assim como Hemingway ou Burroughs, e é interessante notar como esses escritores são completamente diferentes entre si. Lembro de uma época também em que Vigna era criticada por um povo aí (Vilto Reis) sobre o fato de ser uma escritora de forma, daquele tipo que a trama não importa muito, mas sim o jeito como é contada. A essa altura, ele já deve ter percebido que estava um pouco enganado.
Vamos falar desse livro então, começando pela sinopse: A narradora sem nome (a própria Elvira) encontra-se diariamente com João, um diretor inútil de uma editora que passa as tardes contando as experiências com as putas que ele comeu ao longo do seu casamento com Lola, que descobriu a putaria toda e largou o cara na hora. A personagem tenta preencher todas as lacunas das histórias para entender o porquê de João ter traído sua esposa e o motivo de ele achar que ela está errada nisso tudo.
Algo importante para entender o livro e, principalmente, a estrutura criada por Elvira, é o significado da palavra “palimpsesto”. Vamos ao dicionário: palimpsesto: substantivo masculino, papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro. A história contada por Elvira apresenta-se basicamente dessa forma: João é um cara que passa de uma puta para outra como se isso significasse nada, apaga a história de uma e põe outra no lugar, e nessa brincadeira de novas experiências até a própria esposa termina raspada do pergaminho de João, tornando-se igual às outras, só mais uma mulher que passa pela vida dele.
João narra tudo de um jeito vago, e aí a escrita de Elvira também assume o estilo palimpsestico (criei agora, copia não comédia) de reescrever algumas histórias através de hipóteses da protagonista, tudo para entender por que os fatos aconteceram daquela forma e que tipo de retardado é uma pessoa como João. Ele, aliás, pensa que a esposa exagerou e que é uma fraca, além de nem um pouco aberta a novas experiências. Elvira sabe e desmascara com facilidade esse papo furado das pessoas que se acham muito, principalmente entre homens.

CONTINUE LENDO NO BLOG: http://ourbravenewblog.weebly.com/home/resenha-como-se-estivessemos-em-palimpsesto-de-putas-elvira-vigna

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Vitor.Leal 10/03/2017minha estante
Uau, esta parte tocou bem na ferida: Algo importante para entender o livro e, principalmente, a estrutura criada por Elvira, é o significado da palavra ?palimpsesto?. Vamos ao dicionário: palimpsesto: substantivo masculino, papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro. A história contada por Elvira apresenta-se basicamente dessa forma: João é um cara que passa de uma puta para outra como se isso significasse nada, apaga a história de uma e põe outra no lugar, e nessa brincadeira de novas experiências até a própria esposa termina raspada do pergaminho de João, tornando-se igual às outras, só mais uma mulher que passa pela vida dele.
INCRÍVEL




Marker 05/05/2017

'Coisas que os homens não entendem', título de um outro romance de Elvira Vigna, serviria como uma definição perfeita do que acontece durante o maravilhoso 'Como Se Estivéssemos...'. Acompanhado os relatos da narradora sobre as cansadas, monótonas, e machistas aventuras relatadas por um colega de trabalho, que chegam até nós através do texto duro e da cronologia caótica de Elvira, vamos percebendo como o mundo do homem-branco-hétero-de-classe-média é raso e ridículo. Poucas vezes vi um texto que consegue se firmar como firme, poético, experimental, delicado e tantos outros adjetivos ao mesmo tempo. Como sua autora, é bravo pra caralho.
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Biia Rozante | @atitudeliteraria 04/09/2017

Uau...
Quando fiz minhas metas literárias para 2017, algo que gritou em minha mente foi à necessidade de me aventurar por novos gêneros, conhecer novos autores, me desafiar como leitora. Por essa razão quando me deparei com a obra Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, não consegui resistir. Com uma capa interessante, uma sinopse intrigante, um título incomum e uma autora nacional reconhecida e premiada, a obra não poderia ser mais complexa e ainda assim despretensiosa. Não é de hoje que escuto falar de Elvira Vigna, mas até então jamais havia lido algo da mesma.

Não sei ao certo o que estava esperando encontrar, mas com certeza não era o que me foi apresentado. A narrativa de Elvira é algo muito particular, o modo como ela conduz a história, como se faz presente em cena, é algo único, confesso que não foi fácil me encontrar na leitura, mas a partir do momento que compreendi o que de fato estava sendo proposto tudo fluiu muito bem. É importante frisar que não tenho como hábito a leitura de obras com esse tipo de escrita – peço desculpas por minha ignorância, mas realmente não sei como descrever, nomear -, portanto tudo se tornou uma grande surpresa e descoberta. Talvez esse seja o motivo de tantas sensações contraditórias durante a leitura, confusão, dúvida, questionamentos, tédio, revolta, compreensão... Enfim, é o tipo de livro que somente lendo para compreender de fato.

João têm muitas histórias para contar e agora encontrou alguém para escutar. Contratado por uma editora que está falindo para informatizá-la, ele divide suas tardes insuportavelmente quentes com uma designer – A narradora sem nome -, pessoa essa com quem compartilha suas experiências e aventuras com prostitutas, ato que quando descoberto provocou o fim de seu casamento com Lola. Atitude essa que ele não compreende, João acredita que Lola está errada. E à medida que passa a recordar seus casos extraconjugais, passa também a reviver a história de seu casamento e a narradora que é uma espectadora, uma ouvinte de sua trajetória tenta de alguma forma preencher as lacunas deixadas por João, explicar aquilo que não tem explicação, compreender o porquê das traições, assim como o motivo que o leva a crer que a separação foi uma atitude errada por parte de Lola.

"João também desenhava. Por cima. E no ar, e com palavras. E nele mesmo. Uma garota de programa por cima de outra garota de programa, sem nunca individualizá-las, acabá-las, sempre faltando alguma coisa, calcando mais da próxima vez, quem sabe agora. Até a última."

Confesso, nunca havia escutado a palavra PALIMPSESTO e como boa curiosa que sou precisei pesquisar: Palimpsesto é uma espécie de pergaminho, papiro que foi raspado, apagado, para que se possa reescrever por cima. E é isso que a narradora faz ao longo da história, ela tenta reescrever, dar um novo olhar, criar uma nova escrita para o que João está nos contando. Eu sei, estou falando e falando e não dizendo nada. Mas é difícil falar da obra em si, sem soltar spoilers. O enredo em si é como um labirinto, como se estivéssemos brincando de esconde-esconde, onde se revela e se oculta, com diálogos curtos e frases diretas. Com um protagonista vazio, pobre de espírito, bobo, perdido em si e em suas escolhas, que desperta ainda que incompreensivamente afeição e repulsa na mesma proporção e do outro lado a narradora sem nome que mora com uma prostituta, que enxerga a si como invisível, “feinha”, que acaba por escutar as peripécias deste homem e tenta tapar os buracos deixados por ele, lançando ao leitor suposições, hipóteses, misturando a realidade com o não-realizado.

“Barulhinhos, ruídos. Um recado que chega, uma bobagem dessas. Não era para ser nada. As garotas, um ruído de fundo na vida de João. Ia apagar o recadinho naquele dia mesmo, ou no outro. As perguntas também, apagadas, ou quase. Passadas por cima, outras coisas por cima”.

Acredito que quando não se está bem com si mesmo, não importa o que aconteça, ou o que se faça, nada nunca será bom o suficiente ou satisfatório. É quando nos tornamos rascunhos, escrevemos e apagamos, tentamos concertar, fazer diferente, mas no final o resultado sempre acaba por ser o mesmo.

Gosto de pensar que a mensagem da autora ficou nas entrelinhas e principalmente que fui capaz de compreendê-las. Falando sobre machismo, traição, egoísmo, relações interpessoais... Como se estivéssemos em palimpsesto de putas é uma obra feita para se pensar, refletir, dar um tapa e te fazer acordar.

“Quando ela volta e precisa se transformar de não pessoa em pessoa, o processo é doloroso, íntimo. Põe Gael para brincar com alguma coisa. E começa. E é difícil. É difícil para ela limpar a maquiagem em frente ao espelho. O banho também é demorado e difícil. E uma vez que cheguei mais cedo do escritório de João, vi que ela simplesmente sentava no chão do chuveiro e deixava a água escorrer. Por horas.”

Acredito que a obra caiba bem para leitores mais “sofisticados”, acostumados com provocação da autora, que são capazes de ler nas entrelinhas, que enxergam os detalhes, que não se incomodam com jogadinhas, figuras de linguagem, densidade e crueza nas palavras. Pois apesar de ter gostado da leitura e dos desafios que ela me proporcionou, sinto que não a aproveitei ao máximo, justamente por não ser uma apreciadora do estilo da narrativa, ou por ser leiga demais, ter uma experiência limitada. Entretanto, ainda assim recomendo sim a leitura a todos que buscam desafios, que sinta a vontade ou necessidade de se aventurar pelo desconhecido, que almejem desvendar novos estilos literários.

Quanto a capa, diagramação e trabalho editorial, só posso deixar meus parabéns. Companhia das Letras fez um belo trabalho.

site: http://www.atitudeliteraria.com.br/2017/07/resenha-como-se-estivessemos-em.html
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Beatriz 17/05/2020

Um livro necessário.
Esse livro tem uma narrativa um pouco arrastada no começo, mas depois a narrativa me pegou de jeito e fiquei sedenta por saber mais sobre as mulheres que tinham sua história narrada por um homem que precisava urgentemente de atenção. Nesse livro podemos ver a tentativa do homem de invisibilizar a mulher. Leiam. Vale a pena demais.
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João 04/08/2020

... a única maneira que havia de falar dela. Não falando...
Acabei lendo esse livro ao acaso, por uma indicação de uma amiga, de início li 50 páginas sem entender direito a proposta do livro, mas continuei, e ao decorrer descobri que o livro retrata vários pensamentos e acontecimentos da vida de João e da Narradora (narrados por ela mesma).

Um livro com uma escrita bem diferente, onde a história por ser vários pensamentos, ela não tem uma cronologia exata, portanto fica indo e voltando, um tanto quanto emocionante.

Enfim, amei a leitura, confesso que foi um pouco difícil a compreensão do que é abordado no livro, mas quando compreendido causou em mim várias reflexões muito importantes.

Super recomendo, ainda mais por ser uma obra BRASILEIRA contemporânea de peso.
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