Batata 29/12/2016
Estevão Azevedo é um exímio explorador das palavras, das sílabas, da forma em que cada letra se encaixa na oração. É de uma precisão as vezes imprecisa, autor de frases de impacto que nos leva a uma narrativa impactante.
Logo no primeiro capítulo somos introduzidos à uma mulher que amputou o dedo ao perceber que era personagem de um livro. Um tanto quanto dramático, mas que fisga o leitor logo nas primeiras frases. Seria isso verdadeiro? Sua suspeita era real? Ela realmente estava presa dentro de um livro e o autor a obrigava a seguir um roteiro?
É preciso estar muito atento à escrita de Estevão, por vezes a personagem chama atenção para os leitores desatentos, conversa conosco como se fossemos cúmplices do autor que a deixara naquela situação. Ela nos relata como descobriu ser apenas uma personagem, e por trás dessa paranoia há uma vida correndo.
Ela se distrai, faz coisas loucas, se diverte ao contar sua história enquanto por dentro não passa de um drama triste a qual ela quer se livrar. Ela quer ser apenas ela mesma, mas como ser você mesmo, se não sabe como você é? Ela foi criada por um autor, não há como ser ela mesma. Uma angústia nos sobe com tanto sentimento em antítese.
Diante dessa novela, ainda há um menino. Ela o conheceu quando criança e mais tarde ele retornara a sua adolescência. Nunca o nome do menino nos deixa extasiados com a riqueza de detalhes, dramas carregados e peças interligadas de anos depois. Tudo se encaminha para um final fatal e embora parecesse que o leitor não poderia se surpreender mais, ele é surpreendido.
Estevão conseguiu com que ficássemos curiosos o livro todo, que devorássemos cada alcunha, cada particularidade. Nos deixou surpresos do início ao fim. Azevedo nos mata a cada fim de capítulo, a cada alternação entre o menino na adolescência e a mulher em sua vida adulta.
Quem somos nós? Talvez também tenhamos o mesmo destino que essa moça. Somos apenas comandados por um autor?
Essa é uma edição belíssima para uma história encantadora, à altura. A diagramação é bem feita, as folhas são amareladas e quase aveludadas, tal qual a capa. A leitura flui com uma naturalidade imensa, e embora tenhamos que prestar muito atenção às antíteses e metáforas, é um livro que vale a pena ser lido.
Esta resenha foi feita originalmente para o blog O Casulo das Letras, clique no link abaixo para ler a resenha na íntegra com fotos e citações da obra.
site: http://ocasulodasletras.blogspot.com.br/2016/12/resenha-nunca-o-nome-do-menino-estevao.html