Ariana.Guimaraes 03/06/2017
Resenha do livro Brasília, GRAVIDADE ZERO, DE André Cunha
O romance Brasília, Gravidade Zero, de André Cunha, divide-se em 27 capítulos, distribuídos em 208 páginas. Conta as trajetória de Luiz e de Renato, amigos com gostos em comum (inclusive pela mesma mulher), que seguem carreiras diferentes. Luiz de personalidade forte é impulsivo se aventura pelo ramo empresarial, um herói na tentativa de manter sua empresa Gravidade Zero de pé. E Renato, mais racional e focado, que constrói uma carreira bem sucedida no funcionalismo público. Em paralelo a suas carreiras, acontecimentos que marcaram o Brasil e o mundo. O livro é repleto de referências musicais, demoníacas, manchetes jornalísticas e de slogans que se entrelaçam na narrativa de forma harmônica e criativa.
O título do livro se justifica em toda a narrativa. A gravidade, que atrai os corpos para o centro da terra, influencia a vida do protagonista Luiz. A força gravitacional favorece a queda do avião que matou o seu pai (Alexandre) e a queda que matou o seu tio (Marcelo), movido pelo trauma dessas mortes e pela ambição de ser dono do seu próprio negócio, ele cria a empresa Gravidade Zero, especializada em serviços de proteção de espaços elevados. A metáfora da gravidade zero ou ausência da gravidade, que nos seres humanos e capaz de causar efeitos negativos, se aplica na conturbada vida pessoal e empresarial de Luiz.
O romance é contado por um narrador- testemunha que faz parte da história como personagem secundário e foco narrativo onisciente intruso, pois consegue narrar sensações e pensamentos dos outros personagens. Tão onisciente que, às vezes, confunde a nossa percepção, de tanto que se entranha nos personagens.
A linguagem do romance é surpreendente, trechos carregados de termos técnicos e formais (das áreas petrolíferas, jurídica, fiscal e etc) em parágrafos enormes deixam a leitura mais densa ao mesmo tempo que contextualizam a burocracia dessas áreas e principalmente a de se manter uma empresa legalizada. E outros pautados em uma linguagem jovem é atual, composta por gírias e expressões de baixo calão, dão um ar informal aos diálogos.
O livro mostra como pano de fundo da trajetória dos personagens, a vida política e social do Brasil atual que vão desde a corrupção nos órgão governamentais aos protestos que a assustaram o Brasil em 2013. Também faz uma crítica ao modo como as coisas se conduzem no Brasil, principalmente em Brasília, espaço central do romance, mostrando que ao se montar uma empresa, que gera empregos, ou seja, desenvolvimento para o país, um empresário paga um alto preço, uma série de impostos que sufocam a sua empresa a ponto de ir a falência. Por outro lado, o suor desse empresário que ajudam a sustentar o país, através do pagamentos de impostos pesadíssimos, ajuda também a financiar os salários astronômicos dos funcionários públicos. Que país é esse?
A narrativa é muito interessante, nos faz refletir sobre questões como o público e o privado, quais as reais intenções por trás do governo e da justiça? A justiça é justa? E o que faz mais sentido, lutar pelos seus sonhos, por mais que sejam arriscados ou não correr grandes riscos, ir atrás da estabilidade?