Um amor feliz

Um amor feliz Wislawa Szymborska




Resenhas - Um amor feliz


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Alê | @alexandrejjr 24/07/2021

A poesia das incertezas

Um dos lugares-comuns que mais me agrada quando tentamos definir como a poesia funciona é aquele em que se diz que para se aventurar neste gênero é preciso sentir algo ao ler os versos que estão na nossa frente. E é verdade. Apesar disso, para mim a poesia é, sobretudo, identificação.

Este é o segundo livro da Wislawa Szymborska que leio. Diferentemente de “Poemas”, antologia que traz na capa a maravilhosa foto em que ela está mais velha e fumando, além de ter a lombada e os detalhes em tom vermelho, este “Um amor feliz” me pareceu uma seleção mais ampla da potência da voz desta gigante polonesa - e olha que a minha infiel memória guarda melhores impressões do nosso primeiro encontro.

Em “Um amor feliz”, os leitores podem acompanhar com clareza as mudanças de temas e interesses da poetisa. Meus poemas preferidos ficam, em sua grande maioria, na parte final do livro, mas nada impede que algumas preciosidades tenham chamado minha atenção durante o percurso. É o caso do magnífico “Nada duas vezes”, que aborda com uma simplicidade invejável o absurdo da finitude, e dos irônicos “Atlântida”, em que o eu lírico brinca com o mistério da famosa ilha perdida, e “Concurso de beleza masculina”, em que o jogo de palavras dispostos nos versos satirizam uma masculinidade que preza pela virilidade. Aliás, a ironia é uma aliada recorrente na criação dos versos da autora, como mostram os divertidos “Riso”, onde há uma conversa imaginária entre as versões jovem e madura de uma mesma Wislawa, e do poema homônimo que dá nome à coletânea, onde a poetisa questiona a utilidade de um amor feliz num mundo tão imperfeito. Para não me estender ainda mais, destaco também os políticos “Campo da fome em Jaslo”, “Sorrisos” e “O ódio”, mostrando que poetas não estão livres do fardo da consciência social, como muitos imaginam.

Laureada com o Nobel de Literatura em 1996, Wislawa Szymborska é uma poetisa completa. Ela compreende com uma beleza imensurável o mundo dos detalhes tão bem quanto compreende o mundo superficial que nos abriga. Seu olhar pode escolher um besouro, uma planta ou objetos inanimados e deles extrair o mais inimaginável resultado. É a arte dos versos.

Algo que chamou a minha atenção foi a já mencionada preferência pelos poemas mais novos da autora numa seleção que compreende livros produzidos de 1957 a 2012. Aqui, quero citar aqueles que estão entre os meus preferidos e que valeram a minha leitura do livro por serem mais acessíveis e menos herméticos ou abstratos. Para os mais curiosos, cabe também uma rápida degustação através de uma pesquisa na internet. São eles: “Cálculo elegíaco”, “Grande sorte”, “O silêncio das plantas”, “O primeiro amor”, “Ausência”, “ABC”, “O velho professor”, “Desatenção”, “Aqui”, “Vida difícil com a memória”, “Divórcio”, “Metafísica”, “Tem aqueles que” e “Para o meu próprio poema”.

Vale ressaltar que a edição bilíngue da Companhia das Letras traz ainda o discurso dela ao ganhar o prêmio Nobel, que é um deleite para qualquer um que aprecie literatura e finaliza o livro com uma sensação de esperança que somente a sensibilidade de uma mulher extraordinária poderia ter. Nele, Wislawa reflete sobre a importância do não saber para os poetas. É uma decisão acertadíssima da editora pois, como iremos concluir com a autora, o que seria do mundo sem os poetas das incertezas?
Isadora1232 10/09/2021minha estante
Perfeito, Alê! Descobri um amor pela poesia com a Wislawa, e por isso quero ler tudo o que ela escreveu kkkk Vou procurar os poemas que vc indicou, tenho certeza que são incríveis!


Alê | @alexandrejjr 11/09/2021minha estante
Ah, ela é perfeita, Isa. Os poemas dela são gostosos de ler e de uma perspicácia do mundo inigualável!




KKbarros82 24/09/2021

"morrerei com asas; sobreviverei com garras práticas"
Não é fácil resenhar poesia. Nunca sei por onde iniciar minha argumentação para que o leitor deguste Wis?awa Szymborska. Ler poesia é isso degustar com parcimônia. Cada frase com poucas palavras pode conter um mundo de significados. Um poeta transforma pequenas linhas em pura contemplação.

Ler Wis?awa é isso. Refletir a vida através de seus versos, frases, estrofes, palavras... Entender, ou tentar entender o mundo, com uma complexa, porém simples, junção de palavras inimagináveis, mas escrita e descoberta pela poeta.

Wis?awa Szymborska consegue do arranjo de vocábulos simples, uma grandeza única própria da sua poesia livre. Uma poesia singular que transforma a experiência de leitura algo magnífico e revelador.

Por isso, não há outra maneira de convencer o leitor a ler Wis?awa senão lendo Wis?awa. Leia e descubra um novo mundo a partir dos versos dessa poeta única.
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jessyhehe 22/01/2022

:)
Leitura finalizada !
Simplesmente amei os poemas dessa grande escritora polonesa. Acredito que quem queira começar a ler poemas não terá dificuldades em lê-la. Recomendo muito!
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Polly 10/08/2022

Um amor feliz: gostei (#179)
Mais uma vez vou começar a impressão literária de um livro de poesia dizendo que essa não é muito a minha praia. Poesia não é algo que leio espontaneamente. Até posso curtir textos poéticos, mas os prefiro de forma oral, eles me tocam muito mais dessa forma. Para mim, é muito mais proveitoso ouvir a poesia declamada do que a experienciar solitariamente numa leitura.

No entanto, Wislawa Szyborska escrevia de um jeito tão gostoso que sua poesia é capaz de conquistar até os corações mais pedregosos para ela como o meu. Com uma poesia preocupada com as grandes questões da vida, bem como com o pensar sobre a arte e o ofício do poeta, além de refletir sobre chagas sociais, a autora consegue nos envolver com uma escrita simples, mas cheia de sentimentos (e ironias). Acho que a melhor maneira que consigo descrever a poesia de Wislawa é que ela é uma poetisa pessimista, que sabe e se deslumbra com o fato de que a vida é um milagre. Parece contraditório, mas funciona perfeitamente bem. Garanto.

Eu, que jamais compro um livro de poesia por conta própria (esse foi para uma leitura coletiva), facilmente compraria e leria outro de Szyborska. Gostei bastante e indico para quem quer aprender a gostar do gênero.
Fabio.Madeira 10/08/2022minha estante
Está na minha lista :) como você, também não sou fã de poesia, mas acredito que esse caso será diferente!




@emedepaula 11/04/2021

As possibilidades do não saber
Em fevereiro de 2012 abri o jornal no caderno de cultura e me deparei com o obituário de Wis?awa Szymborska. O final da página continha 2 de seus poemas, e falava de sua primeira coletânea publicada no Brasil um ano antes. Esperei até a próxima Bienal do Livro da minha cidade, e com o nome dela anotado num papel, consegui meu exemplar de Poemas [2011, Companhia das Letras]. 

Em 2013, numa viagem a Lisboa, comprei uma edição portuguesa de Paisagem com grão de areia [1998, Relógio D?água], livro que adorei ter em mãos, mas com uma tradução menos cuidadosa. Durante esses anos de encontro com esta poeta polonesa, revisitei esses 2 livros sempre que o coração apertava e que precisava de um novo fôlego.  

Um amor feliz, é a segunda coletânea de Wis?awa publicada no Brasil em 2016, com tradução rigorosa de Regina Przybycien. Levou 5 anos para eu colocar minhas mãos nessa edição, e é com uma alegria voluntária que indico este livro para todas mentes inquietas e curiosas. 

A seleção é primorosa e contempla toda extensão da obra de Szymborska. A edição ainda conta com o seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura em 1996, intitulado O poeta e o mundo. Um texto belíssimo sobre o lugar do poeta e a infindável possibilidade por trás das palavras ?não sei?. Leitura essencial, faz um bem danado.
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Danilo.Castello 22/03/2024

Para o meu próprio poema
Meu primeiro contato com a autora, muito interessante a forma que ela brinca com as palavras, mas ainda assim alguns dos poemas não me encantaram tanto.

"Na melhor das hipóteses,
meu poema, você será lido atentamente,
comentado e lembrado.

Na pior das hipóteses
somente lido.

Terceira possibilidade ?
embora escrito,
logo jogado no lixo.

Você pode se valer ainda de uma quarta saída ?
desaparecer não escrito
murmurando satisfeito algo para si mesmo."
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Adriana Scarpin 05/11/2016

ABC
"Jamais vou descobrir
o que A. pensava de mim.
Se B. até o fim não meperdoou.
Porque C. fingia que estava tudo bem.
Que papel teve D. no silêncio de E.
O que F. esperava, se é que esperava.
Porque G. fingia, já que sabia muito bem.
O que H. tinha a esconder.
O que I. queria acrescentar.
Se o fato de eu estar ali ao lado
teve qualquer importância
para J., para K. e para o resto do alfabeto."
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Angela 03/07/2021

'Um amor feliz' reúne 85 poemas de Wislawa Szymborska selecionados de seus livros publicados a partir de 1957 até o ano de sua morte, 2012. Os poemas são organizados em ordem cronológica, e assim, o leitor tem uma ideia dos temas abordados pela autora ao longo de sua atividade literária e como ela enxergava o mundo.

O livro traz o discurso "O poeta e o Mundo" que ela fez ao receber o prêmio Nobel de literatura em 1996. (As palavras mais bonitas que eu já li de um poeta sobre a poesia).

"E todo conhecimento que não gera em si novas perguntas logo se torna morto, perde a temperatura que sustém a vida".
.
Wislawa é a minha poetisa favorita. “Poemas” (um dos meus livros favoritos) e “Para o meu coração num domingo” são duas coletâneas em que TODOS os poemas me agradaram. Apesar de ter gostado de poemas específicos, principalmente dos últimos escritos, mais uma vez fui atingida. O que mais me encanta nesses poemas é a simplicidade profunda em cada tema abordado. Existe uma inteligência na construção dos poemas e na maneira que ela observa a vida cotidiana.
.
"Nada acontece duas vezes
nem acontecerá. Eis nossa sina.
Nascemos sem prática
e morremos sem rotina
[...]
Nem um dia se repete,
não há duas noites iguais,
dois beijos não são idênticos,
nem dois olhares tais quais".
[...]
Nanda 10/10/2021minha estante
O primeiro livro da Wislawa é um dos meus favoritos, pena
que esse segundo não tenha o mesmo nível. Acredito que por ter
ficado uma obra mais grossa acabou cansando a leitura.




Jessica 08/11/2021

Poesia Nascida Sob o Sol de Eclesiastes
?Nada de novo sob o sol? ? escreveste, Eclesiastes. No entanto tu mesmo nasceste novo sob o sol.

Wis?awa é uma dessas escritoras em que afirmamos que "sua obra é atemporal". Transcende facilmente modismos, estilos, gostos. Porque é notável, em cada letra, na composição de cada verso sua familiaridade em transformar emoções em poesia. Acontecimentos em estrofes.

Wis?awa permanecerá viva, nascente sob o Sol a cada novo poema lido, revisitado, reavivado naquele que busca através da Poesia, sentir do lado de cá, fora do peito, aquilo que não se nomeia sozinho.
Na batida rítmica de seus versos, sua obra nos alcança e podemos nos entregar, por algumas horas ao assombro de apenas sentir e imaginar.

Ela cita, em dois momentos a visão do mundo sobre os poetas e sobre a poesia. E não há, nem por uma ínfima pontuação, qualquer imperfeição no que ela fez neste livro.

Estou deslumbrada e me falta coesão ou demais palavras que pudessem transmitir o quão lindo é esse livro e me arrisco a dizer, provavelmente todo texto dela. Com toda certeza, esse foi somente o estreante. Poesia me traz melancolia, mas também me faz enxergar beleza no que não posso explicar ou entender.

O mundo se torna delicado através da poesia, as dores se abrandam.

Também nós, é verdade, sabemos nos dividir.
Mas somente em corpo e sussurro interrompido.
Em corpo e poesia.

De um lado a garganta, do outro o riso,
leve, logo sufocado.

Aqui o coração pesado, lá non omnis moriar,
três palavrinhas apenas como três penas em voo.

O abismo não nos divide.
O abismo nos circunda.

As palavras tornam o agora: imortal.
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"Aonde você vai Sam?" 24/04/2022

A poeta e o mundo!
"Ao que parece, a primeira frase de um'a resenha' é sempre a mais difícil. Pois bem, essas eu já deixei para trás..."

Lida em voz alta a poesia de Szymborska é um espanto!

Que poemas suaves!
Que versos ásperos!!
Que poeta phoda!!!
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Monique 21/03/2021

Não entendi esse livro muito bem, talvez porque metade dele estivesse em polonês. Mas o que eu entendi era legal.
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Malphys 10/06/2022

A sensibilidade de Wislawa é única. A poesia dela está em todas as entrelinhas da vida e vai te trazendo para mais perto em cada página. É simplesmente arrebatador se deixar entregar pela poesia de Wislawa.
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rntpincelli 07/11/2023

Criado num contexto socialista, o livro da poetisa polonesa, agraciada com o Nobel de Literatura de 1996, não tem nada de política. Ou será que tem? Com tradução de Regina Przybycien, esta obra reúne, em edição bilíngue, os poemas publicados em Chamando por Yeti (1957), Sal (1962), Muito divertido (1967), Todo o caso (1972), Um grande número (1976), Gente na ponte (1986), Fim e Começo (1993), Instante (2002), Dois Pontos (2006), Aqui (2009) e Chega (2012).

Dos vinte e poucos poemas que marquei entre os preferidos, notei agora, enquanto escrevo, que alguns têm sim um olhar mais político. Mas não são de propaganda, são de questionamento. Em “Natureza Morta com um Balãozinho”, Szymborska lista todos os objetos que gostaria ter de volta no momento derradeiro. Não deixa de ser uma crítica ao consumismo e um lembrete que desta vida não se leva nada, nem o balãozinho dos tempos de criança.

No seu “Salmo”, ela nos lembra como as fronteiras dos países são permeáveis: animais e plantas não estão nem aí para as linhas de demarcação. E, por isso, “só o homem pode ser verdadeiramente estrangeiro”. Estrangeiros que sofrem como os judeus poloneses, transportados e abatidos feito gado pelos nazistas mas relembrados em “Ainda”.

Mais frequente, porém, é a questão da enumeração. No “Censo”, a poeta lista todas as características de Troia, subindo até os “três bilhões de juízes” (hoje, oito bilhões) para concluir que o Homero de hoje pode muito bem ser um estatístico ignorado por todos. Diante do “Número Pi”, com sua infinidade de algarismos, ao mesmo tempo menor e maior que tudo, ela se espanta com a “indolente eternidade a durar”. O mesmo misto de espanto e encanto ecoa em “Microcosmo”, onde se debruça sobre os microorganismos. Como Przybycien nota no prefácio, a curiosidade de Wislawa sobre o mundo não é antropocêntrica — talvez por isso ela continue a ser tão instigante e tão jovem.
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Everton Gonçalves 30/04/2021

Não sou dos mais amantes da poesia, mas no ano passado conheci esta escritora polonesa, e fiquei encantado com seus poemas.
Talvez alguém possa ler e dizer: “mas não há nada de extraordinário em seus temas!”, e é justamente aqui que está sua maestria. Ela trata coisas tão cotidianas de uma maneira tão maravilhosa, profunda e simples. A beleza do cotidiano, a reflexão que brota das coisas simples e dá sentido à vida. As questões que nunca serão respondidas, mas nem por isso deixam de ser significativas.
Neste volume, optou-se por anexar a tradução do seu discurso ao receber o Prêmio Nobel.
Chama a atenção o valor que ela dá ao termo “não sei”. Destas pequenas palavras dependem todas as inovações e até mesmo o futuro da tecnologia. O “saber de mais” nos fecha numa zona de conforto que não produz mais nada, apenas reproduz o que já foi criado. Chama a atenção também o destaque que ela dá aos desafios de ser um poeta e as incompreensões que estes sofrem.
Diante do momento que estamos vivendo em meio à pandemia, me chamou a atenção um poema dedicado ao microcosmo, onde ela reflete sobre a vida a partir do uso do microscópio, abrindo um novo horizonte para a humanidade. Em um momento ela se pergunta, como pode elementos invisíveis ao olho nu determinarem nossa vida e nossa morte. De fato, podemos refletir como um vírus em meio a toda a tecnologia e avanços que temos hoje desmascarou nossa fragilidade humana e nos abriu a meditar sobre a brevidade da vida e a importância das relações e do contato físico.
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