Naty__ 06/02/2017Surpreendente!Regina Przybycien fez uma seleção de poemas de Wislawa Szymborska. A escolha foi feita a partir de toda a obra da autora, mas, em especial, os poemas da fase inicial (dos livros de 1957, 1962 e 1967) e da final (publicados já no século XXI), além de incluir o póstumo Wystarczy (lançado em 2012) e o discurso proferido pela autora quando recebeu o prêmio Nobel.
A distribuição foi feita por ordem cronológica para dar uma ideia dos temas que a autora abordou ao longo de meio século de atividade literária. Em sua maioria, os temas são sombrios, além de usar um tom irônico para as tragédias do século, a fragilidade da vida, indiferença do universo, a incomunicabilidade entre os homens e as outras formas de vida.
Wislawa sabe ser sutil, mas, ao mesmo tempo, intensa; sabe nos fazer refletir sobre pontos que muitas vezes sequer damos credibilidade. Um exemplo claro disso é retratado em seu discurso, ela afirma que valoriza as palavras “não sei”, pois são elas que possibilitam a abertura para outros modos de ver e ser.
“[...] Pequenas, mas de asas poderosas que expandem nossa vida por espaços contidos em nós mesmos e espaços nos quais está suspensa nossa minúscula Terra. Se Isaac Newton nunca tivesse dito a si mesmo ‘não sei’, as maçãs do pomar poderiam ter caído como granizo diante de seus olhos e ele, na melhor das hipóteses, teria se abaixado para apanhar uma e comido com apetite.” (p. 325)
Fica evidente que a autora tinha interesse por ciências. Astronomia, matemática e biologia forneciam inspiração para suas criações, além de fazer o leitor refletir sobre a fantasia e os fatos da natureza, ou seja, a evolução – conforme observado por Przybycien.
Przybycien deixa claro que traduzir Szymborska é uma atividade lúdica, porém, muitas vezes um pouco sofrida e isso ocorre porque sua linguagem clara e aparentemente acessível pode ser enganosa. Para a tradutora, a dificuldade está em existir jogos de palavras tirados de expressões correntes da língua portuguesa e que poderia perder o sentido se traduzido para o nosso idioma oficial, sem contar as rimas que se perderiam.
Esse foi meu primeiro contato com Szymborska, passo inicial para que eu tenha acesso a outras obras dela. Um jeito encantador de mostrar poesia, de escrever poemas e de falar coisas tão pequenas, talvez insignificantes, mas de forma intensa e marcante. É uma autora que merece ser lida, conhecida, ainda que a pessoa não seja leitora do gênero. Não podemos nos prender ao que estamos habituados, é necessário sair da zona de conforto para conhecer outros mundos, ampliar nosso conhecimento, nosso vocabulário e divagar em dimensões que outrora não fazíamos.
Quotes:
“Nem um dia se repete,
não há duas noites iguais,
dois beijos não são idênticos,
nem dois olhares tais quais.” (p. 31)
“Jamais vou descobrir
o que A. pensava de mim.
Se B. até o fim não me perdoou.
Porque C. fingia que estava tudo bem.
Que papel teve D. no silêncio de E.
O que F. esperava, se é que esperava.
Porque G. fingia, já que sabia muito bem.
O que H. tinha a esconder.
O que I. queria acrescentar.
Se o fato de eu estar ali ao lado
teve qualquer importância
para J., para K. e para o resto do alfabeto.” (p. 237)
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2017/02/resenha-um-amor-feliz.html#.WJjyxjsrLIU